61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores
ECOLOGIA DE FLEBOTOMÍNEOS (DIPTERA: PSYCHODIDAE) VETORES DE LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA EM UMA ÁREA DE ASSENTAMENTO RURAL EM PRESIDENTE FIGUEIREDO, AMAZONAS.
Wilson Abtibol Machado 1, 2
Claudia María Ríos-Velásquez 2
Felipe Arley Costa Pessoa 2
1. Universidade do Estado do Amazonas
2. Instituto Leônidas & Maria Deane FIOCRUZ- AM
INTRODUÇÃO:
A pesquisa sobre os determinantes ecológicos da emergência e reemergência de doenças transmissíveis ocupa cada vez mais espaço no meio acadêmico. Há a percepção de que as mudanças ambientais podem estar associadas com novos riscos para a saúde. Contudo, o conhecimento sobre as relações entre as dinâmicas de transmissão das doenças infecciosas e os processos de modificação antropogênica das paisagens ainda é insuficiente. Os flebótomos, insetos transmissores de leishmanioses, apresentam padrões distintos de riqueza e abundância de espécies, sendo algumas restritas a ambientes silvestres ou adaptáveis a ambientes antropizados. Na Amazônia o desmatamento e a ocupação desordenada da floresta criam as condições para que os ciclos de transmissão de muitos agentes patogênicos se modifiquem. Este trabalho tem como objetivo estudar os aspectos ecológicos da fauna de flebotomíneos em áreas com diferentes graus de antropização na Comunidade de Rio Pardo, uma área de assentamento humano recente. Estudos sobre a distribuição e composição da fauna de flebotomíneos nesta localidade permitirão começar a entender os ciclos de transmissão local, determinar as áreas de risco, e formular estratégias para o controle ou diminuição dos índices da doença.
METODOLOGIA:
As coletas foram feitas nos meses de janeiro, maio, julho e agosto de 2007,durante quatro noites de cada mês, instalando três armadilhas de luz tipo CDC em cada ambiente (floresta, sítio e vila) de cada ramal (Gusmão, Samuel, Novo Paraíso e Igarapé); das 18:00 às 06:00. As amostras coletadas foram conservadas em frascos com etanol 80%, etiquetadas e transportadas para o laboratório de Entomologia do Instituto Leônidas & Maria Deane, FIOCRUZ, para triagem e identificação das espécies. Os índices de diversidades foram calculados pelo programa computacional Diversidade de Espécies 2.0.
RESULTADOS:
541 flebotomíneos coletados e identificados, 40 espécies, gêneros Bichromomyia, Brumptomyia, Evandromyia, Lutzomyia, Micropygomyia, Migonemyia, Nyssomyia, Pintomyia, Pressatia, Psathyromyia, Psychodopygus, Sciopemyia Trichophoromyia e Viannamyia. Espécies mais abundantes: T. eurypyga (14,78 %), P. davisi (13,86 %), N. antunesi (11,27 %), S. sordellii (8,50 %), N. anduzei (6,83 %), S. nematoducta (6,28 %), M. rorotaensis (6,09 %), P. carrerai carrerai (5,36 %), N. umbratilis (3,14 %), L. gomezi (2,77 %), P. geniculata (2,58 %), P. hirsuta hirsuta (2,03 %), E. inpai (1,84 %) e E. monstruosa (1,84 %). Dentre as espécies vetoras de leismaniose foram encontradas em vila N. antunesi (5) e N. umbratilis (4), e em sítio N. umbratilis (5) e N. Anduzei (4). Houve uma abundância significativamente maior de indivíduos no ambiente de floresta quando comparado com o de vila e de sitio [Kruskal-Wallis p(floresta vs sitio) = 0.0013, p(floresta vs vila) = 0.00], mas não houve diferença significativa entre sítio e vila (Kruskal-Wallis p = 0,1127). Os índices de Diversidade de Shanon-Wiener (H’) e de Diversidade e Dominância de Simpson (Ds) foram maiores em floresta (H'= 1,2481, Ds; 0,9181), seguidos por sítio (H'= 0,9833, Ds= 0,8659) e vila (H'= 0,7849, Ds= 0,7312).
CONCLUSÃO:
Diante das informações apresentadas pode-se concluir que esses dados indicam que existe um gradiente de distribuição e abundância de espécies, provavelmente como conseqüência de mudanças ambientais. Várias espécies de flebotomíneos de importância vetorial foram encontradas em ambientes antropizados e peridomicíliares. O ambiente de floresta pode ser considerado o de maior risco para a transmissão de leishmaniose pelo fato de ter sido encontrado um maior número de fêmeas pertencentes a espécies vetoras. Entretanto, os ambientes de vila e sítio já se encontram números que se aproximam de 20% dos flebotomíneos coletados. A presença de espécies consideradas vetoras de leishmaniose em ambientes de sítio e vila indica risco de transmissão da doença e sugere que, provavelmente essas espécies estão começando a se adaptar a ambientes antropizados. Estudos mais acurados, por um período de tempo maior, continuarão sendo feitos para tratar de elucidar as mudanças comportamentais e populacionais (abundância e riqueza de espécies) sofridas pelos flebotomíneos como conseqüência de processos de antropização, bem como as possíveis mudanças de transmissão clássica da leishmaniose para a região Amazônica.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquias do Estado do Amazonas; International Development Research Centre - Canada
Palavras-chave: Flebotomíneos, Antropização, Leishmanioses.