De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (S.B.P. 1999), a psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, ou seja, está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.

 Sabe-se que desde o nascimento, a criança recebe os estímulos do ambiente e, aos poucos, "amadurece" física e psicologicamente. Quanto mais estímulos, maior a quantidade e a qualidade dos movimentos adquiridos. É difícil não associar a Educação Física a esse processo de desenvolvimento, pois o trabalho orientado em Educação Física busca a formação da pessoa "coordenada", e o êxito é resultado de um processo contínuo e sistemático de aprendizagem, que deve ser incentivado desde o início da idade escolar.

Sabendo-se que o movimento é base do domínio motor e que a aprendizagem dos movimentos e o desenvolvimento das habilidades motoras devem ser os principais objetivos de qualquer atividade física, especialmente, as desenvolvidas pelas escolas, a atividade física deve está diretamente ligada a três fatores: crescimento e desenvolvimento, desenvolvimento motor e aprendizagem motora.

O presente trabalho tem como objetivo descrever o grau de habilidades motoras nos escolares da rede municipal de ensino de Boa Vista-RR, bem como mostrar a importância do professor de Educação Física como agente transformador em potencial nessa etapa do desenvolvimento infantil.

No referido trabalho foram realizados testes motores, por meio de pesquisa de campo e feito análise quantitativa com apoio de referencial teórico específico. Os alunos pesquisados realizaram movimentos específicos, nos quais foram usados os pequenos músculos (Motricidade Fina); os movimentos com todo o corpo, com envolvimento de grandes grupos musculares (Motricidade Ampla); a manutenção do corpo em uma mesma posição durante um tempo determinado (Equilíbrio); a consciência do próprio corpo, de suas partes, com movimentos corporais, das posturas e das atitudes (Esquema Corporal); a percepção da dimensão relacionada a tudo aquilo que nos cerca (Organização Espacial); bem como foi realizado teste de oralidade.

A referida pesquisa foi realizada em 20 escolas de educação infantil da rede municipal - Casas Mãe (02 a 03 anos), com participação de 600 crianças. Para a tabulação dos resultados foi utilizado o protocolo de (ROSA NETO, 1996), por meio de Escala de Desenvolvimento Motor (E.D.M.) pré-estabelecidas. Houve capacitação preliminar de professores para aplicar o Diagnóstico Motor, a fim de que os testes tivessem o maior grau de fidelidade. Os testes aconteceram no mês de março (I etapa) e novembro (II etapa) de 2008. O trabalho de campo foi aplicado pelos professores das escolas pesquisadas e supervisionado pelas profissionais de educação física Lara Magalhães Avelino, Edineide Rodrigues dos Santos e Rosângela Santos da Silva, no local destinado à recreação infantil pelas instituições pesquisadas.

Na I etapa (1º semestre) dos 600 alunos pesquisados, 378 foram indicados dentro do padrão e 222 como abaixo da média, no teste de motricidade fina; No teste de motricidade ampla, 372 alunos foram considerados na faixa padrão e 228 na faixa inferior conforme o protocolo de (ROSA NETO, 1996).

No teste de equilíbrio, 258 alunos foram classificados na faixa padrão e 342 inferiores à média estabelecida; No teste de esquema corporal, 96 alunos foram considerados na média, porém 504 abaixo da média; No teste de organização espacial, 366 alunos foram classificados no índice normal e 234 considerados abaixo da média.

Ressalta-se que nesta etapa houve teste de oralidade, com 162 alunos classificados como normais e 438 como inferiores.

Na II etapa (mês de novembro), foram realizados os mesmos testes indicados anteriormente na I etapa e obteve-se como resultado que na motricidade fina, os alunos considerados na faixa normal foram 552 e os outros 48 foram classificados abaixo da média; Já no teste de motricidade ampla atingiu-se um total de 540 alunos na faixa normal e 60 na inferior; O teste de equilíbrio teve 498 alunos classificados dentro da normalidade e 102 abaixo da média; No teste de esquema corporal, 480 alunos estão no padrão normal do referido teste e 120 abaixo da média; Já no teste de organização espacial, 528 alunos foram considerados dentro dos padrões normais e 72 abaixo da média.

Ao término desta etapa observou-se que dos 600 alunos pesquisados, 450 foram classificados como normais e 150 como inferiores no teste de oralidade.

A Educação Física, em meados dos anos 60 e 70 do século passado, deixou grandes marcas com sua estrutura militarista de ensino, pois o esporte foi conceituado como a preparação para uma guerra. Na atualidade conseguiu-se subtrair da escola a função de formadora de atletas, e inicia-se uma nova proposta pedagógica na qual a criança passa a ser crítica, autônoma e com hábitos saudáveis, com base nas capacidades: cognitiva, psicomotora e afetiva.

Por meio das avaliações do diagnóstico motor foi possível esclarecer que o planejamento sistematizado nas aulas de educação física tem contribuído positivamente para a melhoria das funções psicomotoras. Pois no teste de motricidade ampla, do total pesquisado, 60 alunos ficaram na faixa inferior. Já na motricidade fina, houve os resultados com aumentos significativos, pois das 600 crianças pesquisadas, ao final do período letivo, somente 48 ficaram abaixo da média, o que mostra ser o teste com o menor número de crianças fora dos padrões normais estabelecidos no protocolo de (ROSA NETO, 1996).

No esquema corporal verificou-se o maior número de alunos abaixo da média, com um total de 84% na primeira etapa, porém no final das avaliações da II etapa, apenas 20% continuaram abaixo da média. Diante do exposto entende-se que um trabalho orientado em Educação Física e pautado em conhecimentos acerca do desenvolvimento motor infantil é esencial para um melhor aproveitamento das atividades escolares, ou seja, participa efetivamente da interdisciplinaridade no ámbito escolar.