61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
LAZER E ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS: ANÁLISE SÓCIO-ESPACIAL DO ELEVADO FLUXO DE PESSOAS DO PARQUE CAMARAGIBE: CONTRIBUIÇÃO DA GEOGRAFIA À DIMINUIÇÃO DA OCIOSIDADE DE PARQUES E PRAÇAS, NUMA PERSPECTIVA DE INCLUSÃO SOCIAL
Elton Pereira da Silva 1
Cláudio Jorge Moura de Castilho 2
1. Estudante do Curso de Bacharelado em Geografia - CFCH - UFPE
2. Orientador e Docente/pesquisador do Depto de Ciências geográficas – CFCH – UFPE
INTRODUÇÃO:

O lazer é entendido como “[...] um conjunto de atividades desenvolvidas pelos indivíduos seja para o descanso, seja para o divertimento, seja para o seu desenvolvimento pessoal e social, após cumpridas suas obrigações profissionais, familiares e sociais”. (DUMAZEDIER, p.34, 1976).

A ONU, através da Declaração dos Direitos do Homem, legitima-o como um dos direitos garantidos por lei. O lazer adquire, portanto, destaque na atualidade e passa a ser considerado uma necessidade indispensável ao ser humano, principalmente diante do ritmo de trabalho e exigências que derivam da cultura capitalista.

Atualmente, existem vários equipamentos específicos à prática do lazer. Porém, esses equipamentos muitas vezes tornam-se inviáveis face aos elevados preços.

Os espaços livres públicos, sobretudo quando na forma de praças e parques, constituem-se em ótimas alternativas para a vivência do lazer. O que vem acontecendo ultimamente, no entanto, é que muitos desses espaços não atendem aos gostos de seus usuários, tornando-se praças e parques ociosos.

Existem, todavia, espaços que se destacam pelo seu elevado fluxo de pessoas. O Parque Camaragibe, situado na cidade de Camaragibe, Região Metropolitana do Recife (RMR) é um exemplo de espaço livre público bem visitado.

Diante disso, buscou-se identificar, a partir da análise sócio-espacial, a razão de o Parque Camaragibe receber um fluxo maior de pessoas em relação aos demais espaços livres públicos do município de Camaragibe. Na ocasião levantou-se informações sobre perfil, motivação e satisfação dos usuários do Parque Camaragibe; verificou-se a qualidade subjetiva do Parque Camaragibe, levando em consideração a opinião dos usuários, visando subsidiar, a partir da identificação de elementos naturais e socialmente construídos do Parque em estudo, o desenvolvimento de outras pesquisas dentro desta mesma temática e a construção de um Sistema de Espaços Livres Públicos e a elaboração de Planejamentos Estratégicos de Praças e Parques.

Nessa perspectiva, o desenvolvimento dessa pesquisa justifica-se, fundamentalmente, por se traduzir em uma contribuição teórica e prática à inclusão social, no âmbito urbano.

METODOLOGIA:

Sendo norteada pelos conceitos, princípios e categorias de análise do método geográfico, pode-se dizer que a presente pesquisa divide-se em duas etapas: atividades desenvolvidas em gabinete e ações executadas em campo, subdividindo-se, por sua vez, em três momentos. No primeiro, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e iconográfica:

  • Construção teórico-metodológica à apreensão do problema;
  • Levantamento iconográfico e cartográfico do recorte espacial em estudo, para fins de análise temporal;
  • Levantamento bibliográfico e documental (monografias, dissertações, teses, livros, relatórios, projetos governamentais), visando enriquecer o referencial teórico que começou a ser construído quando da identificação do problema de pesquisa;
  • Elaboração do questionário que foi aplicado na etapa seguinte, ou seja, no campo;
  • Identificação, escolha e aprimoramento de uma metodologia que expressasse, da maneira mais fidedigna possível, a qualidade subjetiva do Parque Camaragibe. Na ocasião foi estabelecido, tomando-se como base a metodologia desenvolvida por Silva (2007), que para o Parque Camaragibe ser um espaço livre público de qualidade, ele deveria ter na soma de todos os elementos verificados (sinalização, pistas e calçadas, limpeza, quantidade de equipamentos, conservação dos equipamentos, iluminação, arborização, atividades recreativas, segurança, paisagismo e acessibilidade), 50% ou mais do total entre BOM e ÓTIMO. Ou seja, que a soma de todos os elementos considerados para aferição da qualidade subjetiva fosse igual ou superior a 50%.

No segundo momento, foi realizado o Trabalho de Campo, mediante o qual se desenvolveram as seguintes atividades na ordem abaixo descrita:

  • Visitas exploratórias a todos os espaços livres sob a forma de praça ou parque do município de Camaragibe;
  • Visita a órgãos públicos e privados, tais como Prefeitura e Biblioteca Municipal de Camaragibe e estabelecimentos de alimentação e entretenimento que compõem o entorno do Parque Camaragibe, visando ao levantamento de informações indispensáveis para a concretização da pesquisa;
  • Realização de entrevistas com funcionários da Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura de Camaragibe e com funcionários do Parque Camaragibe;
  • Aplicação de 50 questionários com usuários do Parque Camaragibe.

A partir das pesquisas realizadas em campo, chegou-se, enfim, ao terceiro momento da pesquisa. Nessa ocasião, buscou-se apontar o levantamento de uma série de elementos indispensáveis a um parque de sucesso, bem visitado; tendo em vista o levantamento de informações a partir de um enfoque geográfico que contribua à otimização dos espaços livres públicos de Camaragibe, e à diminuição da ociosidade de Parques e Praças de uma maneira geral. Isto tendo em vista fornecer: uma contribuição geográfica à diminuição da ociosidade dos parques e praças, numa perspectiva de inclusão social. (Subtítulo da pesquisa)

RESULTADOS:

Sobre o perfil do Parque Camaragibe, tem-se como usuário tanto homens (49%) quanto mulheres (51%). Em relação à faixa etária, a maior parte dos visitantes está situada na faixa compreendida entre 18 e 35 anos de idade (44%). A maioria é estudante (36%). Munícipes dos mais diversos bairros de Camaragibe, visitantes de cidades vizinhas e turistas. 70% são solteiros e, predominantemente, de baixa renda.

            Isso resulta e ao mesmo tempo expressa, em certa medida, a realidade sócio-econômica do município. O que reitera, pois, a importância dos espaços livres públicos para a pesquisa, uma vez que o Parque se torna, nesse contexto, uma alternativa propícia à vivência do lazer por significativos contingentes das populações locais.

Em relação à motivação dos usuários, o principal motivo da visita ao Parque é a busca por saúde e esporte (50%), seguido dos itens conversar / encontrar amigos (16%) e do item lazer / entretenimento (14%). Já no que se refere à satisfação, a maioria deles (67%) está satisfeita ou muito satisfeita.

            No tange à qualidade subjetiva, observou-se que o Parque Camaragibe é um espaço livre público de qualidade quanto ao atendimento de gostos, necessidades, preferências e exigências de seus usuários. Vale salientar, todavia, que isso não implica necessariamente que, partindo de critérios de arquitetura e urbanismo, o local esteja totalmente adequado.

            Dentre as razões que identificam o elevado fluxo de pessoas do Parque, têm-se como principais: o fato do equipamento de lazer estar alocado em uma área geomorfológica de relevo aplainado. Com efeito, aproximadamente 80% do território de Camaragibe estão compreendidos em Ambientes de Morro (CAMARAGIBE, 2007); a localização do Parque na Região Político-Administrativa 1 de Camaragibe. Área que possui a maior concentração de equipamentos e serviços no município; a área do Parque está localizada em uma Zona Especial de Preservação Histórica, conforme Plano Diretor vigente; a dimensão simbólica do espaço “(...) é um cartão postal da nossa cidade!”; sua localização na bifurcação entre as duas principais vias de acesso do município (PE-05 e PE-27); por tratar-se de um Parque que atende demandas diferenciadas; o fato do Parque Camaragibe ser um espaço livre público.

CONCLUSÃO:

O que foi levantado indica que a análise geográfica da vivência do lazer, através dos espaços livres públicos, quando na forma de parque ou praça, pressupõe levar em consideração as condicionantes históricas do lugar em que ele está instalado, extrapolando, pois, as suas atribuições físicas (bancos, pistas de cooper, escorregadores etc). Ultrapassando, inclusive, as condicionalidades físico-naturais de onde esses equipamentos estão instalados, considerando, de modo inclusivo, fatores considerados externos tais como: físico-natural, econômico, tecnológico, social, cultural, político, entre outros. Exige-se, portanto, esforço de pesquisa sob os mais variados enfoques e sob os recursos das mais variadas ciências.

Nessa perspectiva, a importância do Parque Camaragibe na configuração espacial urbana, mediante o exercício do lazer como talvez a única forma de inclusão social para contingentes significativos da sociedade local, constatou-se ser um fato. Isso, por sua vez, reitera a relevância dos espaços livres públicos no âmbito da infra-estrutura urbana. Assim como no da pesquisa desenvolvida, a qual se traduz, concomitantemente, em uma contribuição teórica e prática à sociedade.

Acredita-se, pois, ter contribuído, a partir de um enfoque geográfico, ao debate científico, no âmbito teórico, sobre a questão da diminuição da ociosidade de parques e praças, através do apontamento de elementos que devem ser levados em consideração no momento do planejamento, construção, intervenção ou alocação dos espaços livres públicos.

Dessa forma, a análise geográfica das praças e parques, mais que uma contribuição teórica, justifica-se e deve ser uma prática constante por oferecer subsídios à elaboração de políticas públicas mais efetivas, mais conseqüentes, garantindo a construção de um espaço urbano ao exercício da cidadania.

Ademais, o acesso ao lazer, bem coletivo, erroneamente considerado de luxo, é de extrema importância para todo indivíduo e indispensável à cidadania dos munícipes e à concretização da inclusão social tão presentes na literatura e nos discursos políticos.

 

Instituição de Fomento: PROPESQ - UFPE
Palavras-chave: Análise sócio-espacial, lazer através dos espaços livres públicos, inclusão social.