61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
MÉTODO SIMPLES PARA DETERMINAÇÃO DA AUTENTICIDADE DO ÓLEO DE ANDIROBA
Djalma da Silva Pereira 1
Alzenir Meireles Rocha 1
Tiago Barbosa Pereira 1
1. Universidade do Estado do Amazonas/UEA
INTRODUÇÃO:
A andiroba (Carapa guianensis Aubl.) é uma arvore de grande porte, tem distribuição ampla na Amazônia, América Central e África, preferindo as várzeas e igapós, mas sendo também encontrada em terra firme. Apresenta seus frutos em forma de ouriço redondo, formado de 4 valvas ou carpelo; cada carpelo contem de 2 a 3 sementes; as sementes contêm uma casca fina chamada testa e dentro da semente, interno a testa, encontra-se o endocarpo de cor branca, pouco dura e oleosa. O óleo extraído da semente de andiroba tem sido utilizado para vários fins, que vão desde cicatrização e recuperação da pele, passando pelo uso de óleo de mumificação até a utilização como repelente de mosquito e combustível para motores a diesel. Este óleo é tradicionalmente utilizado pelos povos da Amazônia como medicamento e integra o elenco de produtos medicinais em estudos pela "Central de Medicamentos" (Ceme) do Brasil. Devido a sua ampla utilização como medicamento, o óleo de andiroba tem se tornado uma fonte de renda complementar para estas populações tradicionais da Amazônia; no entanto esta comercialização tem sido prejudicada tanto pelos atravessadores que exploram os povos da floresta como pela qualidade do próprio óleo que vem sofrendo adulterações. Uma forma de inibir a adulteração do óleo consiste em realizar análises físico-químicas. No entanto estas análises requerem aparelhagens sofisticadas e impróprias para serem realizadas em localidades isoladas da Amazônia. Segundo as denuncias, o componente presente na adulteração do óleo de andiroba é o óleo de soja. Como as características físico-químicas desses dois óleos são bastante diferentes, é possível identificar se no óleo de andiroba existe óleo de soja. A extração do óleo de andiroba, no interior do Amazonas, tem sido realizada por dois métodos: o primeiro método, tradicionalmente utilizado pelos povos da Amazônia, consiste em cozinhar os frutos por duas a três horas, em seguida retira-se as sementes e deixa-se secar por um período de três a sete dias. Após este período, as sementes são cortadas ao meio e o endocarpo retirado com o auxílio de uma colher. O endocarpo é amassado e esticado em forma de calha para que o óleo possa escoar. O processo de escoamento pode durar até um mês. O rendimento do óleo é estimado em 4%, ou seja, 40 g de óleo/Kg de semente. O segundo método utilizado para a extração do óleo de andiroba consiste na quebra das sementes e; após secagem em estufa, numa temperatura de 60 – 70 ºC, os fragmentos são esmagadas em prensas hidráulicas. O rendimento industrial chega a 8%, ou seja, 80 g de óleo/Kg de semente. O presente trabalho utilizou o índice de acidez como parâmetro para a autenticidade do óleo de andiroba comercializado no mercado local do município de Tefé – AM.
METODOLOGIA:
Foram obtidos três padrões de óleo de andiroba conforme o método de extração: extração por solvente, extração por prensagem e extração utilizando o método tradicional. Para obter-se o óleo padrão extraído por solvente procedeu-se da seguinte forma: uma amostra, contendo 20 sementes de andiroba, foi recolhida na área da Missão (5 Km a leste de Tefé), em solo de terra firme. As sementes foram pesadas e trituradas em um moinho caseiro, em seguida o material triturado foi secado em estufa. A partir da polpa seca, o óleo de andiroba foi extraído utilizando-se um soxlhet e usando o hexano como solvente de extração. O excesso de solvente foi extraído em rota vapor e o óleo secado em banho-maria a 70 ºC, até peso constante. Este óleo foi denominado “solvente”. O óleo padrão extraído por prensagem foi obtido da RDS Amanã e denominado “prensagem”. O óleo padrão obtido pelo método tradicional foi extraído por uma pessoa que reside no município de Tefé e que conhece o método. Este óleo padrão foi denominado “tradicional”. As amostras de óleo para análise de autenticidade foram recolhidas no mercado local e classificadas a partir da informação do vendedor: prensagem (Aguifarma e mercado municipal) e tradicional (Caitau). O índice de acidez (IA) do óleo de andiroba, expresso em mg de KOH por grama de óleo, foi determinado por titulação com solução de NaOH 0,1 molar em uma mistura de etanol e n-butanol (1:1).
RESULTADOS:
As sementes de andiroba apresentaram uma massa de 24,61,6 gramas. A composição das sementes mostra 20,4 % de óleo, 30,6% de bagaço e 48,9% de umidade, esta última foi determinada por diferença. O rendimento de óleo extraído pelo método tradicional e pelo método industrial por prensagem, respectivamente 4 % e 8%, demonstram ser de baixa eficiência quando comparados com o método de extração por solvente (20,4 %). O índice de acidez dos óleos padrões varia acentuadamente com o método de extração: 6,2 mg de KOH/g de óleo (solvente); 58,3 mg de KOH/g de óleo (prensagem) e 24,3 mg de KOH/g de óleo (tradicional). Devido o óleo de andiroba extraído por prensagem ter apresentado maior índice de acidez, este foi escolhido como parâmetro para identificar a presença de óleo de soja misturado ao óleo de andiroba. Para auxiliar a análise deve-se saber o método de extração do óleo. Dependendo do método de extração, valores muito abaixo dos citados, podem indicar adulteração do óleo. As amostras “caitau” (IA = 30,3 mg de KOH/g de óleo) classificada como tradicional e aguifarma (IA=57,3 mg de KOH/g de óleo) classificada como prensagem apresentaram valores compatíveis com os respectivos padrões. Entretanto, a amostra de óleo denominada “mercado municipal”, classificada como prensagem, apresentou um IA de 23 mg de KOH/g de óleo, muito abaixo do padrão prensagem e próximo do padrão tradicional.
CONCLUSÃO:
A extração por solvente apresentou maior eficiência que os outros métodos. Além disso, o óleo de andiroba, extraído com solvente apresentou o menor índice de acidez. A análise da autenticidade do óleo de andiroba, utilizando somente o índice de acidez, requer a informação precisa do método de extração utilizado. Portanto, se foi informado que o óleo é de prensagem, seu IA não deve ser inferior a 50 mg de KOH/g de óleo, no entanto, se foi informado que o óleo procede do método tradicional, então, o IA não deve ser inferior a 20 mg de KOH/g de óleo. Por exemplo, a amostra “mercado municipal” pode estar adulterada com óleo de soja ou tratar-se simplesmente de óleo extraído pelo método tradicional. Vemos assim que o método depender da confiabilidade de informações de terceiros e que não deve ser suficiente para se terminar a presença de óleo de soja. Outras análises poderiam ser realizadas para confirmar o que o índice de acidez indica. Entre elas estão o índice de éster e o índice de iodo.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas/FAPEAM
Palavras-chave: Andiroba, Autenticidade, Pureza.