Espécies de Simulium (Thyrsolpema) apresentam ampla distribuição no Brasil e algumas são similares morfologicamente, tornando difícil a identificação específica utilizando apenas caracteres morfológicos convencionais. Técnicas citogenéticas utilizando a morfologia e a posição dos principais marcadores nos cromossomos politênicos têm sido utilizadas com sucesso para esclarecer problemas taxonômicos nessa família, que apresenta cromossomos politênicos bem desenvolvidos, principalmente, nas células de glândulas salivares de larvas. Estudos cromossômicos têm sido utilizados como ferramentas para estudos de sistemática e sobre espécies de importância médica, com suspeita de comporem complexos de espécies crípticas. Nessa área de estudo, a estrutura morfológica dos marcadores específicos, inversões fixas e heterozigotas nos cromossomos são utilizadas para apoiar ou rejeitar hipóteses de relações entre as espécies e grupos de espécies. Simulium guianense Wise, é o principal vetor da doença denominada oncocercose no foco amazônico do Brasil e da Venezuela e, é a única espécie do subgênero S. (Thyrsolpema) com o mapa cromossômico descrito. Dessa forma, o objetivo desse estudo foi caracterizar cromossomicamente a espécie S. itaunense D’Andretta & González, do subgênero S. (Thyrsolpema), estabelecendo um mapa padrão para essa espécie.

Larvas de último estádio foram coletadas no município de Jaquirana, Rio Grande do Sul, fixadas em Carnoy (3: 1), o qual foi trocado no mínimo, quatro vezes após a coleta e mantidas refrigeradas a 4^oC, até a análise dos cromossomos no laboratório. Os cromossomos politênicos foram obtidos de glândulas salivares das larvas de último estádio e coradas com base em protocolos citogenéticos. O sexo da larva foi determinado in situ pela formação do botão imaginal das gônadas (alongado para fêmeas e oval para machos) antes da retirada da glândula salivar. Essa identificação do sexo, por meio do formato das gônadas, é importante para associar diferenças cromossômicas associadas ao sexo masculino ou feminino, uma vez que espécies dessa família podem apresentar n cromossomos sexuais. Geralmente, o sexo heterogamético é o macho.

Uma percentagem dos machos dessa espécie apresentou uma inversão no braço IIL (34,29%). Tanto S. guianense quanto S. itaunense apresentam o organizador nucleolar no braço longo do cromossomo I, mas em seções diferentes. Os marcadores dos braços IIS, IIL, IIIS e IIIL estão em seções diferentes, sendo que o marcador Ca (capsule) do braço IIIS está localizado na mesma seção, nessas duas espécies. Não se observou polimorfismo na população de S. itaunense analisada e, essa espécie apresenta dois sistemas sexuais, ligados ao sexo masculino (X0Y0, X0Y1). Esse mapa será importante para futuros estudos que visem avaliar as relações entre as espécies de S. (Thyrsopelma).

Como o subgênero S. (Thyrsopelma) abriga espécies de importância médica e algumas dessas apresentam determinados estágios de vida muito similares morfologicamente, estudos cromossômicos podem auxiliar na resolução de problemas taxonômicos, inclusive para a detecção de espécies crípticas.  Com o incremento do conhecimento sobre a morfologia dos cromossomos politênicos de espécies do subgênero S. (Thyrsopelma), futuros estudos que visem avaliar a relação entre as espécies desse subgênero poderão ser realizados.