61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 4. Arqueologia
SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E PATRIMÔNIOS CULTURAIS DA SERRA DA VALÉRIA: UM ESTUDO ETNO-HISTÓRICO DA IDENTIDADE LOCAL.
Adriana Gomes da Silva 1
Amecy Gonçalves Bentes de Souza 2
Antônio Picanço Fonseca 3
1. Universidade do estado do Amazonas/Centro de Estudos Superiores de Parintins
2. Universidade do estado do Amazonas
3. Universidade do estado do Amazonas/Centro de estudos Superiores de Parintins
INTRODUÇÃO:

Além das belezas naturais, nos últimos anos vem se destacando no Amazonas e na Amazônia estudos sobre a cultura material deixadas por nossos antepassados. Ao longo das bacias dos rios Solimões, Amazonas, Rio Negro e vários outros rios é possível encontrar diversos sítios arqueológicos, já pesquisados pelo IPHAN. Na região da Valéria, no município de Parintins, existe um grande sitio arqueológico que ainda precisa da realização de estudos para saber qual povo que deu origem e como a população atual da comunidade está construindo sua identidade social em função deste sitio arqueológico. Nosso objeto de estudo são os Patrimônios Culturais e os Sítios Arqueológicos, os quais estão diretamente ligados à memória daquela comunidade. A partir dessa constatação, tentaremos verificar se existe um processo de identificação cultural e se existe alguma relação da construção da identidade da população atual a partir dos vestígios deixados no local.

 Para responder a estas problemáticas procedemos com a pesquisa bibliográfica e um embasamento teórico, seqüencialmente nos direcionamos a elaboração de anotações, utilizando como técnica de coleta de dados a observação direta intensiva e as entrevistas padronizadas, como também os formulários direcionados aos sujeitos sociais (comunitários).

Os objetivos do projeto, a saber: verificar a importância dos Sítios Arqueológicos para a comunidade local; constatar através de documentos etno-histórico, história oral como ocorreu à ocupação da comunidade; fazer um estudo etnológico do patrimônio cultural (folclore, religiosidade, universos simbólicos, etc.); diagnosticar problemas referentes à manutenção do Sítio Arqueológico e preservação do Patrimônio Cultural e despertar o interesse da Comunidade de Santa Rita de Cássia na Serra da Valéria, para a importância dos Sítios Arqueológicos e Patrimônios Culturais como maneira de construção da realidade social e manutenção da identidade cultural da comunidade.

METODOLOGIA:

Inicialmente fez-se um levantamento bibliográfico acerca da temática e levantamentos de informações sobre a Comunidade de Santa Rita de Cássia. Posteriormente, prosseguiu-se com a coleta de dados em instituições e órgãos públicos, os quais pode-se citar: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Diocese de Parintins, bibliotecas do CESP (Centro de Estudos Superiores de Parintins) – UEA, Mini – Campus/UFAM, entre outros. Logo após iniciamos a elaboração de trinta (30) formulários e passamos para a aplicação desses na localidade, a qual se realizou no período de janeiro a março de 2008, sendo feito com perguntas abertas e fechadas e também entrevistas com perguntas dirigidas aos moradores que fizeram parte da amostragem. Outra técnica utilizada foi à observação direta intensiva, a qual de acordo com Lima (2003, p.32), “capacita o pesquisador a observar ele próprio o traço ou complexo cultural espontâneo que vai documentar para posterior análise e estudo”. Os métodos que auxiliaram na coleta de dados foram: histórico, etnográfico, e o estatístico.

RESULTADOS:

De acordo com Neves (2006), os dados sobre o inicio da produção cerâmica na Amazônia mostraram que o quadro é mais complexo, uma vez que as datas mais antigas ao redor de 5.000 ac e 3.500 ac vêm de contextos anteriores a adoção da agricultura. No entanto as cerâmicas mais antigas das Américas estão localizadas no baixo amazonas, próximo a Santarém. No baixo Amazonas há uma área onde não se encontram cerâmicas polícromas, que inclui um trecho que vai do rio Tocantins e Amapá a leste, até a região das cidades de Nhamundá, Parintins e Maués no Amazonas, a oeste. Nesses locais encontram-se sítios com cerâmicas pertencentes à chamada tradição Incisa e Ponteada, datados do ano 1000 a.c a 1500 d.C, ou seja, até o inicio da colonização européia.

Na região de Parintins, cerâmicas pertencentes a essa tradição foram identificadas e denominadas de Konduri, datadas do século do X ao XVI d.C. No entanto não se conhece os povos que deixaram tais vestígios, porém tudo indica que se tratavam dos índios Tupinambás que se casaram e aparentaram-se com os índios Aratu, Apoicuitara, Godui, Yara e Curiatós que habitavam o trecho da margem esquerda do rio Amazonas. Assim na Serra de Parintins é possível identificar essas cerâmicas, que apresentam decoração modelada em motivos antropomorfos e zoomorfos. Também é possível encontrar outros patrimônios culturais como as crenças religiosas, as festas, os hábitos, as superstições, que fazem parte do cotidiano da população local e que precisam ser ainda mais analisados.

Constatou-se em alguns órgãos e instituições, os quais pode-se citar: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Diocese de Parintins, bibliotecas do CESP (Centro de Estudos Superiores de Parintins) – UEA, Mini – Campus/UFAM, entre outros, a carência de dados estatísticos e históricos acerca da referida comunidade. Através da análise das entrevistas e dos formulários, pode-se constatar algumas semelhanças e dessemelhanças com os dados coletados na pesquisa bibliográfica. Verificou-se, assim, que a população local não conhece sua história, muito menos quem foram os primeiros habitantes da comunidade, os quais deixaram os primeiros vestígios arqueológicos que são encontrados pelos moradores. Nesse sentido, o conhecimento sobre a origem do (s) povo (s) que habitaram a região da Valéria, principalmente da referida comunidade, ficou embasado em documentos escritos, onde alguns autores, como Gil Braga, Tonzinho Saunier, o cronista Acuña dente outros, sugerem que os índios Tupinambás foram os ocupantes dessa localidade, o que supostamente dar-se a entender que foram esses povos que deixaram tais materiais.

 Os moradores também desconhecem a existência de documentos relacionados aos primeiros habitantes da região. Porém apesar da falta de documentação a respeito de sua origem, os comunitários estão preocupados em resgatar e preservar a sua história, haja vista que o conhecimento que eles têm sobre sua genealogia é contado pelos mais antigos do local.

Dessa forma, para os moradores seu resgate é uma maneira de valorizar as memórias deixadas por seus antepassados, e um modo de poder buscar nesse passado, traços culturais, que se assemelham ou se diferem dos atuais, e que os ajudaram a construir sua identidade.

 

 

CONCLUSÃO:

Após analisar os dados coletados, constatamos que o Patrimônio Cultural e Histórico da comunidade de Santa Rita de Cássia, além de ser muito rico e diversificado, contribuem para a formação da identidade local. Pois, atualmente é possível perceber o orgulho que os moradores sentem de viverem na localidade. Assim, verificamos que os artefatos arqueológicos que serviam apenas para o comércio, hoje são guardados, não somente como relíquias, mas como uma representação histórica do seu passado, isso é importante para o conhecimento da memória coletiva da comunidade. Além da cultura material há também as crenças, os hábitos e conhecimentos adquiridos, as superstições, que fazem parte da cultura imaterial, e estão inseridos no conceito de Patrimônio cultural, o qual nos últimos anos tem adquirido um peso significativo no mundo.

Os bens materiais e imateriais, tangíveis e intangíveis encontrados na Comunidade de Santa Rita de Cássia, que compreendem o patrimônio cultural são considerados manifestações ou testemunho significativo dos seus habitantes, reputados como imprescindíveis para a construção da identidade cultural local.

Portanto, verificamos que a construção da identidade dos moradores da Valeria a partir do sitio está em processo de formação, visto que os mesmo estão se conscientizando que aquelas “caretinhas” como eles denominam as peças encontradas, não são simples artefatos de barro, mas um símbolo de um passado não distante de sua própria história. 

 

 

Instituição de Fomento: FAPEAM – Fundação de Aparo a Pesquisa no Estado do Amazonas.
Palavras-chave: Arqueologia, Cultura Material e Imaterial, Identidade Cultural.