61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 5. Educação de Adultos
ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: A CONSTRUÇÃO DA ESCRITA
Solange Menezes Costa 1, 2
Aldenéia Soares da Cunha 3, 4
Andrezza Belota Lopes Machado 5
1. Centro Universitário do Norte - UNINORTE - Especialista em Psicopedagogia
2. Coord. Pedagógica da Alfabetização de Jovens e Adultos - Projeto Ler e Escrever
3. Graduação em Licenciatura em Pedagogia - UFAM
4. Mestre em Gestão e Auditória Ambiental -UFAM -Docente UNINORTE- Orientadora
5. Mestre em Educação - UFAM - Docente UNINORTE -Orientadora
INTRODUÇÃO:

 

 

 

 

 

Quando falamos em alfabetização logo nos vem a mente a palavra criança, como se esse processo fosse exclusivo dessa faixa etária. Infelizmente, uma grande parcela da população adulta não teve a oportunidade de ser alfabetizada quando criança, por inúmeros motivos. Dessa grande parcela, alguns conseguem vencer as barreiras do preconceito, da timidez, do sentimento de exclusão e chegam a uma sala de aula, na tentativa de recuperar o tempo perdido.

Ao chegar à escola o sujeito terá pela frente o seu maior desafio: aprender a ler e escrever. E, é justamente desse processo de construção do conhecimento que o trabalho se propõe a falar.

Nessa perspectiva de construção a Psicopedagogia, por lançar um olhar sobre as experiências vividas e amadurecidas de professores e estudantes da Educação de Jovens e Adultos, pode dar suporte a esses sujeitos, apresentando uma prática pedagógica diferenciada. Esta diferença está pautada no olhar mais atento para a representação de como o educando adulto representa a sua escrita.

O trabalho teve como objetivo relatar uma pesquisa realizada com estudantes da Educação de Jovens e Adultos do Projeto Ler e Escrever, numa perspectiva de construção do conhecimento e não mais de repasse de conteúdo, apresentando as etapas da metodologia de construção, pautadas nas pesquisas de Emilia Ferreiro.

METODOLOGIA:

A metodologia adotada para a realização da pesquisa foi a pesquisa-ação, por acreditarmos que atende melhor aos objetivos, considerando a importância, não apenas de coletar dados, mas de contribuir com  os professores a entender a ideia de uma concepção de alfabetização diferente da adotada como prática no cotidiano da realidade pesquisada. Assim, foi realizado um curso de formação para os educadores, apresentando as novas diretrizes para a prática em sala de aula. Durante os encontros os professores tomaram conhecimento das pesquisas realizadas por Emilia Ferreiro em relação aos níveis de construção da escrita apresentados pelo educando antes de ler e escrever convencionalmente, classificadas em escrita pré - silábica, silábica (sem valor sonoro ou com valor sonoro) silábica - alfabética e alfabética.

A partir das novas ideias, a metodologia de ensino aplicada no Projeto Ler e Escrever passou para uma perspectiva de construção pelo próprio educando. E para conhecer os níveis de escrita dos 163 educandos, foram realizadas duas sondagens (um ditado com quatro palavras do mesmo campo semântico, iniciado por uma polissílaba e terminado com uma monossílaba, e uma frase). A primeira no mês de março para identificar os níveis de escrita e a segunda em junho para verificar se houve ou não avanço dos educandos de um nível para o outro da leitura e escrita.

 

RESULTADOS:

Na primeira sondagem do nível de conhecimento da escrita pelos alunos, no mês de março, com os 163 educandos, havia 49 alunos no nível pré – silábico, 02 no nível silábico sem valor sonoro, 33 no nível silábico com valor sonoro, 45 silábicos alfabéticos e 34 alfabéticos. Ao analisarmos os resultados verificou-se na primeira sondagem a existência de 34 educandos no nível alfabético e de 129 educandos que ainda não estavam nesse nível.

Diante dessa realidade fez-se necessário o olhar atento do psicopedagogo para subsidiar a prática do professor na compreensão de como o aluno aprende, orientando-o no planejamento de atividades para atender os educandos em seus diferentes níveis de escrita e leitura ajudando-os a avançar em seus conhecimentos.

Tendo como base o conhecimento de que o educando tem sobre o funcionamento da escrita, criamos situações de aprendizagem desafiando-o a colocar em prática aquilo que sabia, sem medo de errar, pois, “o professor não é mais o único que sabe ler e escrever na sala de aula; todos podem ler e escrever cada um ao seu nível”. (FERREIRO apud TEBEROSKY, 2001, P. 30-40).

A mudança foi notória, pois na segunda sondagem realizada no mês de junho havia 32  educandos pré-silábicos, 06 silábicos sem valor sonoro, 21 silábicos com valor sonoro, 21 silábicos - alfabéticos e 83 alfabéticos. Ao compararmos a primeira sondagem com a segunda verificou-se uma redução do número de educandos não - alfabéticos, passando de 129 para 80 educandos.

 

CONCLUSÃO:

Por meio do curso de formação foi possível afirmar que o educando adulto passa por todas as etapas de alfabetização descritas por Emilia Ferreiro e que é capaz de escrever mesmo sem saber escrever convencionalmente, pois quando chega à escola traz algumas idéias sobre como a escrita funciona, e ao se deparar com a escrita convencional vai construindo novas hipóteses, avançando em seus conhecimentos.

A aplicação das sondagens foi de fundamental importância para descobrir os níveis de escrita de cada educando, possibilitando-nos um repensar da pratica e uma reformulação na metodologia que de tradicional passou para uma abordagem de construção.

Não é fácil alfabetizar abandonando as velhas práticas tradicionais de ensino, pois mudar requer atitude, despreendimento e coragem. Mas no final vale a pena quando se pode olhar nos olhos do educando e ver o quanto ele está feliz e se apropriando a cada dia daquilo  que ele mesmo está construindo, levando para a sua vida fora das quatro paredes da escola.

Foi numa perspectiva de construção do conhecimento pelo próprio educando, tendo o professor como mediador desse processo e, respeitando os saberes desses sujeitos e suas histórias de vida marcadas por fracassos tanto dentro quanto fora da escola, que pautamos nossa prática na concepção que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE,1996,p.47)

 

 

Palavras-chave: educação de jovens e adultos, escrita, aprendizagem.