61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
FRUTAS COMESTÍVEIS NO RIO IÇANA: BIODIVERSIDADE PARA O PRESENTE E FUTURO DAS POPULAÇÕES DO ALTO RIO NEGRO -AM.
Rinaldo Sena Fernandes 1
Daniel Benjamim da Silva 2
André Paulo Eduardo da Silva 2
Genilton da Silva Apolinário 2
Cleunice Apolinário Venceslau 2
Augusto Alexandre 2
1. IFET/Amazonas- Campus São Gabriel da Cachoeira
2. Escola Indígena Maadzero Tunuí Cachoeira
INTRODUÇÃO:

Embora a Amazônia seja reconhecida como uma região de elevada biodiversidade, ainda permanece pouco divulgada a importância ecológica e econômica de grande parte das espécies nativas. Esse desconhecimento, em particular sobre as espécies frutíferas da região assim como da maioria das regiões brasileiras é fruto da desvalorização do conhecimento popular como “patrimônio” e da imposição de visões imediatistas das políticas de incentivo à produção. Como efeito, se refletirmos um pouco sob a forma e modelo agrícola no estado do Amazonas, tanto em épocas passadas quanto nos momentos atuais, fica em destaque a priorização do cultivo de espécies do agronegócio através de monoculturas em detrimento da implantação de sistemas agroflorestais, com resultados ecológicos e econômicos geralmente pouco sustentáveis, principalmente aos pequenos produtores. Vencer a barreira da desinformação sobre a importância dessas espécies de interesse das populações tradicionais parece ser um importante passo para incorporar a biodiversidade no modelo de desenvolvimento agroflorestal com as espécies úteis conhecidas pelas populações indígenas no alto rio Negro. O trabalho teve objetivo de sistematizar o guia botânico de espécies frutíferas nativas consumidas pelas populações indígenas no rio Içana.

METODOLOGIA:

Em 2005 foi realizado um levantamento etnobotânico na comunidade indígena Tunui Cachoeira (1º23’26”N/68º09’13”W), situada na margem esquerda do rio Içana, São Gabriel da Cachoeira-AM, habitada por cerca de 300 pessoas distribuídas em 42 famílias da etnia Baniwa, subdivididas culturalmente nos clãs Waliperi dakeenai, Dzáawinai, Moliweni, Paráattana, Hohodeeni, dentre outros clãs menores. A região de Tunuí é caracterizada pelo clima do tipo “Af” na classificação de Köppen e predominância de floresta ombrófila densa. No levantamento botânico, os Jovens Pesquisadores Indígenas do Programa JCA utilizaram a técnica da entrevista estruturada para coleta de informações com aplicação de questionários em 43% das famílias da comunidade, dando preferência a entrevista com os casais para se obter uma complementaridade nas respostas sobre o nome, habitat, época de coleta e forma de uso, dentre outras.

No período de 2007 a 2008, foram coletadas amostras de plantas férteis citadas no levantamento, realizado o registro fotográfico de características morfológicas de cada uma das plantas e a preparação das exsicatas para identificação por comparação com material depositado no Herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA e por consulta à especialistas e à literatura especializada.

RESULTADOS:

Como parte dos objetivos do projeto de formação dos agentes agroflorestais indígenas na comunidade Tunuí Cachoeira, foi elaborado o guia de campo intitulado “Paniathe Awakadetta” fazendo referência em Baniwa às “plantas do mato”, ou seja, as plantas encontradas nos ambientes florestais predominantes no rio Içana, a terra firme, o igapó e as campinarana, bem como também a aquelas plantas que embora nativas são cultivadas no entorno do ambiente doméstico. O guia traz o registro fotográfico de 45 espécies de frutíferas comestíveis, com respectivos nomes em Baniwa - Português seguido da nomenclatura científica, apresentando ainda, uma síntese da descrição botânica com detalhes morfológicos, uma síntese da forma de utilização pelas populações locais, alem de um quadro indicativo da época e local da coleta de cada espécie. Foram descritas 20 plantas encontradas no igapó, 21 da terra firme e 4 das matas de Campinarana. As plantas descritas pertencem a 25 famílias botânicas, com maior proporção para Arecaceae (28,9%), Sapotaceae (11,1%), Crysobalanaceae (6,7%), Leguminosae (4,4%) e Cariocaraceae (4,4%).

CONCLUSÃO:

Ao buscar informações biológicas e utilitárias sobre as espécies do presente estudo pudemos constatar a referência que as populações tem em relação as espécies nativas como elemento de sua sobrevivência. Atualmente tem crescido a demanda por informações sobre espécies nativas que produzam frutas, madeiras, produtos medicinais, biomassa para geração de energia, artesanato, apícolas, bem como para recuperação de matas ciliares potencialmente adequadas para Sistemas Agroflorestais (SAF) e principalmente como alternativas de fonte de renda. Em SAF, um fator-chave para a escolha de espécies é a adequação aos objetivos propostos para o sistema, considerando a sua importância para a subsistência e a perspectiva de comercialização, bem com o conhecimento que o agricultor tem sobre ela. Nessa linha, as espécies nativas podem ter boa probabilidade de êxito, devido a adaptabilidade às condições climáticas e edáficas. Entretanto, para se chegar ao nível de recomendação são necessários estudos agronômicos com as espécies potenciais visando conhecer aspectos como germinação e formação de mudas. Dessa forma, a correta descrição botânica, o registro de características fenológicas bem como a valorização do conhecimento tradicional associado a tais espécies são primordiais.

Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas
Palavras-chave: Levantamento etnobotânico, Tunui Cachoeira, Agentes agroflorestais.