A diversidade vegetal da Amazônia abrange espécies com comprovada aplicabilidade e inúmeras outras com potencial para agregar valor a diferentes cadeias produtivas, a partir de seus frutos, sementes, óleos e/ou resinas. No entanto, é importante ressaltar que outros produtos da flora amazônica ainda não são ou são minimamente explorados: biomoléculas como, lipídeos, carboidratos e proteínas com elevado potencial de aplicação bioindustrial podem ser a alternativa mais adequada para o verdadeiro equilíbrio entre o uso e a preservação do ambiente florestal. Plantas odontálgicas são utilizadas em cremes dentais, enxaguatórios bucais e medicamentos, com o objetivo de combater afecções bucais. Dentre as enfermidades da cavidade bucal, as que mais atenção despertam aos profissionais dos serviços de Saúde Pública e ao clínico geral da rede privada são a cárie dental e as doenças periodontais (doenças relacionadas ao tecido gengival e de suporte dos dentes). O microrganismo pioneiro da cárie é principalmente o Streptococcus mutans. O controle químico da placa dental pode ser feito no sentido profilático ou terapêutico, utilizando produtos de origem vegetal, com a vantagem de possuírem menor taxa de efeitos colaterais, mesma qualidade e eficácia, quando comparados aos sintéticos.

Foram selecionadas sementes de 32 espécies vegetais de acordo com a disponibilidade no Banco de Germoplasmas de Leguminosas (plantas com alto teor de metabólitos secundários em suas sementes) e também não leguminosas do INPA (Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia). Algumas espécies não são nativas da Amazônia, mas se adaptaram muito bem a região.  Os extratos das sementes foram testados quanto à capacidade de inibirem o crescimento do Streptococcus mutans em meio de cultura contendo peptona de soja, bem como em removerem a placa dentária usando-se dentes extraídos de seres humanos. Foi utilizado como controle positivo em todos os testes, a clorexidina, antimicrobiano mais utilizado e eficaz na odontologia.

Os resultados obtidos neste estudo mostraram que os extratos vegetais das seguintes espécies apresentaram halos de inibição semelhantes aos da clorexidina diluída 10 vezes: cubiu (Solanum sessiliflorum), jarandueua (Zygia cauliflora), jatobá (Hymenaea cf. courbaril) e castanha-de-macaco (Cariniana micrantha), pó-de-mico (Mucuna urens), visgueiro (Parkia pendula), mamona verde ou madura (Ricinus communis). Esses resultados permitiram traçar um perfil de espécies, dentre as 32, para o uso em odontologia. Os efeitos dos extratos de plantas não podem ser comparados com a clorexidina concentrada, já que nas sementes há vários tipos de substâncias e não apenas uma única e purificada. Mas pode-se inferir que os extratos das espécies citadas acima possuem substâncias com ação inibitória ao Streptococcus mutans.

Sementes de algumas plantas podem apresentar substâncias com potencial de uso na odontologia, pois possuem ação contra o Streptococcus mutans, a principal bactéria causadora da cárie dentária. Testes para a elucidação das substâncias inibidoras devem ser realizados e também os ensaios biológicos, definindo a toxicidade dessas substâncias.