61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
DIVERSIDADE E SAZONALIDADE DE VESPAS SOLITÁRIAS (HYMENOPTERA) QUE NIDIFICAM EM NINHOS ARMADILHAS EM DOIS FRAGMENTOS DE FLORESTA AMAZÔNICA, SÃO JOSÉ DE RIBAMAR, MARANHÃO, BRASIL
David Barros Muniz 1
Gisele Garcia Azevedo 2
1. Acadêmico de Ciências Biológicas–UFMA/Bolsista do Programa de Educação Tutorial
2. Profa. Dra. Departamento de Biologia–UFMA(Laboratório de Estudos sobre Abelhas)
INTRODUÇÃO:

Espécies de vespas, que nidificam em cavidades pré-existentes, apresentam populações quase sempre esparsas, pois os substratos utilizados não estão amplamente disponíveis, tornando os sítios de nidificação de difícil localização. Estes aspectos têm dificultado estudos mais detalhados da biologia destas espécies. Porém, vários estudos sobre a biologia e a dinâmica populacional de algumas espécies destas vespas foram realizados em diferentes habitats utilizando ninhos armadilhas. As amostragens por meio de ninhos armadilhas, embora restritas às espécies com hábitos de nidificação em cavidades pré-existentes, proporcionam comparações satisfatórias, pois minimizam as dificuldades resultantes de outros métodos de amostragem. Além disso, esses ninhos amostram as espécies que procriam no habitat estudado, excluindo, geralmente, aquelas presentes na área por acidente.  Esse tipo de metodologia também tem sido utilizado em projetos que visam avaliar a qualidade e os efeitos da fragmentação do habitat. Neste estudo nós examinamos a riqueza, abundância e a diversidade de espécies de vespas solitárias que nidificam em cavidades preexistentes em dois fragmentos de mata amazônica e investigamos a existência de padrões sazonais de nidificação.

METODOLOGIA:

                        

A área de estudo corresponde a dois fragmentos de Floresta Amazônica da Reserva Biológica da MERCK, São José de Ribamar, Maranhão (2°38' S, 44° 8' O). O clima da região é do tipo B2 úmido, com temperatura anual média de 26.1° C e pluviosidade em torno de 2.328mm anuais. Durante esse estudo, a estação seca correspondeu ao período de junho a outubro e, a chuvosa, de novembro a maio. Foram estudados dois fragmentos de mata: I- Mata primária e II- Mata secundária.

Os ninhos-armadilhas foram construídos por blocos de madeira, formados por duas peças de 2,5 x 2,5 x 13 cm e dotados de um orifício central, com diâmetros de 0,8cm, 1,0cm, 1,2cm, 1,4cm e 1,6cm. Dois ninhos de cada diâmetro foram dispostos dentro de caixas impermeáveis, cada caixa contendo 10 ninhos. Foram instalados 500 ninhos-armadilhas nas duas áreas, sendo 200 na área I e 300 na área II. Os ninhos-armadilha foram vistoriados mensalmente no período de março/07 a março/08. Os ninhos operculados foram trazidos para o Laboratório de Estudos sobre abelhas (LEA) do Departamento de Biologia da UFMA e individualizados até a emergência dos adultos. Posteriormente, as vespas foram montadas e etiquetadas e os ninhos abertos para observação da arquitetura do ninho.

RESULTADOS:

Foram coletados 82 ninhos, sendo 38 utilizados por espécies de vespas e 44 por espécies de abelhas, dos quais emergiram respectivamente 163 e 140 indivíduos. Foram amostradas oito espécies de vespas e dez espécies de abelhas, além de coleópteros e dípteros. Representantes de cinco famílias de vespas utilizaram os ninhos armadilhas (n= 38), sendo Sphecidae, com 28,57% dos gêneros e 60,52% (n= 23) dos ninhos, foi a família mais abundante; Vespidae (Subfamília Eumeninae) com 14,28% dos gêneros e 7,89% (n= 3) dos ninhos; Pompilidae com 28,57% dos gêneros e 31,57% (n= 12) dos ninhos; Mutilidae com 14,28% dos gêneros e 10,52% (n= 4) dos ninhos e Ichneumonidae com 14,28% dos gêneros e 2,63% (n= 1) dos ninhos. O gênero mais abundante foi Thypoxylon (53,98%), seguido por Auplopus (29,44%) e o gênero menos abundante foi Podium (0,61%). Os ninhos de vespas foram parasitados por outras vespas da família Ichneumonidae (n=1) e Mutillidae (n= 9), também por moscas da família Bombyliidae, do gênero Anthrax (n= 3). As nidificações ocorreram com maior freqüência durante a estação seca (julho a dezembro), sendo agosto o mês de maior atividade. Os dados apontam que a maior riqueza (n= 7), diversidade e abundância ocorreram na área II (índice Shannon-Wiener H’= 0,4836).

CONCLUSÃO:

No presente estudo a elevada riqueza de espécies e a coleta de espécies pouco abundantes foram importantes para o reconhecimento da biodiversidade local, pois estudos com vespas solitárias são praticamente inexistentes no Maranhão. As variações de abundância ocorreram em função da quantidade de chuvas, concentrando as nidificações durante a estação menos chuvosa, o que também foi observado no estudo de Garcia (1993) na Amazônia Central. Possivelmente áreas alteradas fornecem maior número de sítios de nidificação e, portanto, a área II obteve maior riqueza, diversidade e abundância. Através de estudos mais detalhados da biologia e fenologia das vespas solitárias podemos inferir a possibilidade de se utilizar as espécies que nidificam em ninhos armadilhas como bioindicadores de qualidade ambiental em programas de conservação.

Instituição de Fomento: UFMA e Programa de Educação Tutorial (SEsu/MEC)
Palavras-chave: vespa solitária, ninhos armadilhas, mata primária e secundária.