61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 5. História - 4. História e Filosofia da Ciência
HISTÓRIA E ENSINO DA QUÍMICA NO LICEU PARAENSE (1851 – 1890).
Renata Luanny Sousa Oliveira 2
Silvana de Souza Pinheiro 2
Anderson de Andrade Ribeiro 1, 2
Ruy Guilherme Castro de Almeida 3
Maria Dulcimar de Brito Silva 3
1. Universidade Federal do Pará
2. Universidade do Estado do Pará
3. Departamento de Ciências Naturais – UEPA
INTRODUÇÃO:

Os estudos sobre o processo de implantação de atividades científicas, em especial nos países que não ocuparam papéis de liderança no processo de produção do conhecimento, configuram-se em um novo olhar sobre as práticas científicas. Vai de encontro à antiga visão de uma História da Ciência predominantemente européia, pautada unicamente em nomes e datas, em exímias contribuições de grandes cientistas e suas descobertas. Assim, este estudo, de natureza documental, objetivou reconstituir e analisar a trajetória do Ensino Secundário de Química, tendo como lócus de investigação o Liceu Paraense, buscando evidenciar a importância da inserção da história do ensino da Química no Pará no contexto mais geral da historiografia das Ciências no Brasil. O Liceu Paraense, atual Colégio Estadual Paes de Carvalho, em Belém PA, foi criado em 1841, sendo o segundo estabelecimento de ensino oficial do Brasil e o primeiro do Norte e Nordeste. Neste trabalho analisamos a trajetória do ensino secundário de Química no Liceu Paraense no período de 1851, ano em que foi aprovada a inserção dos Elementos de Física, Química e Botânica no plano de estudos do Liceu Paraense, até 1890, ano em que foi promulgada a Reforma Benjamin Constant para a organização do ensino secundário nacional.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa apresenta essencialmente caráter histórico, onde utilizamos fontes primárias (documentos) e secundárias de informações. As fontes primárias foram os documentos encontrados no Arquivo do Liceu Paraense, atual Colégio Estadual Paes de Carvalho (CEPC) e da Fundação Cultural do Pará Tancredo de Almeida Neves (CENTUR), no Setor de Obras Raras, tais como as Leis da Província do Grão Pará, Relatórios dos Presidentes da Província e Relatórios de Diretores da Instrução Pública, Relatórios de Diretores do Liceu Paraense e Atas de Exames. Nas fontes secundárias buscamos consultar Livros, Artigos, Dissertações e Teses de autores que pudessem auxiliar na compreensão de como estava organizada a instrução pública de ensino secundário no Pará no período estudado, bem como em épocas anteriores. A pesquisa se deu em três momentos: iniciamos com a pesquisa bibliográfica e seminários de pesquisa; posteriormente fizemos a coleta de dados no Arquivo do colégio, onde identificamos uma diversidade de documentos oficiais, livros de anotações, atas de reuniões, freqüência de alunos, professores e demais funcionários, livros de registros de nomeações de professores entre outros; o terceiro momento consistiu na análise dos documentos coletados e elaboração do relatório final da pesquisa.

RESULTADOS:

Durante a segunda metade do século XIX, a tentativa de introduzir no quadro de ensino secundário dos Liceus provinciais, conhecimentos referentes às ciências naturais e exatas, como a Química, se constituía uma ação difícil de ser solidificada, pois estes conhecimentos não eram necessários para o ingresso no ensino superior.  A exemplo do que ocorria nas Academias do Império e no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, a maioria dos livros adotados no Liceu Paraense eram estrangeiros, especialmente franceses. O Catálogo de livros existentes na Biblioteca pública do Liceu em 1863 constava de quatro livros de Química, três deles franceses. Quanto às metodologias de ensino, constatamos que já se fazia uso da experimentação, pois os gabinetes de química e física nada mais eram do que laboratórios, que tinham o lente da cadeira como responsável. Os dados coletados sobre os professores que ocuparam a cadeira de Química no período estudado nos mostram que estes tinham sua formação básica na área da saúde, eram médicos, farmacêuticos, e não poderiam ser químicos, visto que os primeiros químicos paraenses só foram formados a partir de 1920 com a criação da Escola de Química Industrial, e os farmacêuticos paraenses só se formaram a partir de 1904, com a fundação da Escola de Farmácia.

CONCLUSÃO:

Percebemos que no período estudado, priorizava-se no Liceu Paraense o ensino de disciplinas da área de Humanidades e Matemática, considerava-se que as disciplinas científicas não eram necessárias para nenhum grau literário. A química em muito oscilou no currículo do colégio, principalmente por conta da não procura do alunado por esses conhecimentos, além disso, outro problema detectado era a falta de professores (lentes) habilitados a lecionarem a disciplina. O Decreto nº 162 de 1890 aprovou um novo Regulamento para o Liceu Paraense, antecipando ao que ratificava a Reforma Benjamim Constant para a Instrução Primária e Secundária, que deu ao ensino secundário a duração de sete anos e intencionava a formação científica, substituindo a tradição humanista clássica, que vigorava no país há mais de 300 anos. Nos moldes positivistas, foram introduzidas Matemática, Física, Astronomia, Biologia, Química e Sociologia nos currículos. No Liceu Paraense, a reforma só se efetiva a partir de 1891, quando assume o governo do Estado Confederado do Pará o positivista Lauro Sodré. Notamos, no entanto, a necessidade de estudos mais aprofundados sobre todo esse contexto, que pela riqueza de informações não pode ser excluído da historiografia das Ciências no Brasil.

Palavras-chave: História da Química, Ensino de Química, Liceu Paraense.