A coruja branca Tyto alba (Strigiformes, Tytonidae), conhecida popularmente por “Suindara”, é uma espécie cosmopolita de hábitos noturnos. Por ocupar o topo da cadeia alimentar, esta ave de rapina torna-se importante no controle das populações de pequenos roedores. Nesta espécie os machos selecionam o território de acordo com o potencial para reprodução como locais apropriados para a formação de ninhos. Estes animais formam pares monogâmicos durante toda a vida ou que perduram por algumas estações reprodutivas. Estudos sobre comportamento reprodutivo fornecem mais uma ferramenta para auxiliar em futuras pesquisas que visam a conservação da espécie. O objetivo deste trabalho foi observar e descrever o comportamento reprodutivo de Tyto alba em área urbanizada da Vila de Alter-do-Chão, Pará.

Foi realizado um trabalho investigativo para a localização de ninhos e vestígios de ocorrência da espécie Tyto alba na área urbanizada da Vila de Alter-do-Chão, Pará. Os monitoramentos foram realizados numa edificação humana localizada próximo ao Lago Verde (2° 30’ 10.8” Sul; 54° 56’46.9”) em dois períodos, de setembro de 2007 a janeiro de 2008 e junho a dezembro de 2008, seguindo a metodologia de observação e registro de “ad libitum” (Altmann, 1974). A partir das observações de tentativas de cópulas, os comportamentos sexuais e de cuidado parental foram anotados, definidos a partir de um etograma pré-estabelecido. Foram realizadas observações visuais, além de monitoramento com registros de imagens dentro e fora do ninho com auxílio de equipamentos para gravações (câmera digital, Sony- Mini DV). Após a identificação dos ninhos, estes foram visitados regularmente com intervalos de 7 a 10 dias até o período pós-natal dos filhotes.

Em ambos os períodos os casais nidificaram numa estrutura de proteção de caixa d’água, numa altura de 7m. Inicialmente foram identificadas e registradas vocalizações típicas do período de acasalamento emitido em dueto pelo casal. A fêmea, de tamanho corporal maior, sempre permanecia do local. O ninho foi construído sobre pelotas de regurgito, íntegras ou degradadas. A incubação ocorreu em média 30 dias, realizada predominantemente pela fêmea, esta era alimentada na maioria das vezes pelo macho desde o crepúsculo (18h30min) até por volta das 23h00min, em intervalos de 2 a 3 horas. Foi observado a eclosão de três filhotes altriciais, com nítida diferença de tamanho, e apresentavam penugem acinzentada que gradativamente foi substituída por outra ferrugínea (dorso) e branca (ventre). Na terceira semana os filhotes emitiram vocalizações agudas (semelhante a chiado), e apresentaram comportamento de “mobbing” (balançando o pescoço lateralmente e estalando as mandíbulas). Os filhotes foram alimentados pelos pais no crepúsculo e à madrugada. Cada ninhada resultou em dois filhotes, porque no segundo ninho, com três filhotes eclodidos, ocorreu a morte do menor ainda na primeira semana. Com 2 meses de idade, os filhotes foram constantemente agredidos pelos pais até o abandono o ninho.

Os resultados mostram alguns comportamentos e interações sociais complexos como a monogamia e o cuidado parental cooperativo, essenciais para a sobrevivência de filhotes altriciais. A perda do menor filhote num dos ninhos, pode sugerir canibalismo entre filhotes de mesma ninhada, um comportamento típico já descrito em períodos de escassez de alimento.