61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 4. Conservação da Natureza
DISPERSÃO ECOLÓGICA DE OURIÇOS DE CASTANHEIRA-DO-BRASIL (Bertholletia excelsa H. B. K.) EM FLORESTA NATURAL NO SUL DO ESTADO DE RORAIMA
Luís Augusto Melo Schwengber 1
Helio Tonini 2
1. Graduando do Curso de Agronomia da UFRR / Bolsista PIBIC
2. Dr. Pesquisador da Embrapa Roraima
INTRODUÇÃO:

A Bertholletia excelsa, conhecida popularmente como castanheira-do-brasil, é uma espécie de grande importância socioeconômica para a Amazônia, ocorrendo em toda a região, incluindo o norte do Estado de Goiás. O fruto é do tipo cápsula poricida simples (ouriço). As sementes são ricas em nutrientes e tem uma grande aceitação e procura.  Nas florestas naturais, a coleta das sementes é feita de forma extrativista, com cerca de 90% de sementes coletadas. Estudos sobre o ciclo de vida da espécie são importantes para determinar o impacto em larga escala da retirada de sementes das populações naturais na manutenção de populações de castanheiras.

A castanheira-do-brasil possui um complexo sistema de dispersão ecológica muito dependente da atividade de roedores, principalmente das cutias (Dasyprocta spp.). Essa é uma relação importante para a castanheira, pois os ouriços não possuem uma abertura natural que permita que as sementes escapem do fruto. As sementes só conseguem sair do fruto pela ruptura do ouriço, havendo relatos que as cutias são responsáveis por 80% da abertura dos ouriços por animais.

Este estudo teve como objetivo estudar como ocorre a dispersão da castanheira-do-brasil em um castanhal na Amazônia brasileira.
METODOLOGIA:

O estudo foi realizado em um castanhal monitorado pelo projeto Kamukaia, localizado na vicinal do Itã, no município de Caracaraí, distante 206 km de Boa Vista (capital), estado de Roraima. As castanheiras que estão na área do projeto tiveram 70% dos seus frutos coletados, tendo sido deixados para regeneração natural 30% da produção das respectivas árvores. Para o estudo foram selecionadas 20 castanheiras que tiveram 30% de seus ouriços catalogados e anotadas as posições em relação à árvore matriz. Após sete meses, voltou-se à área experimental para avaliações.

As características aferidas foram: frutos velhos (sem pericarpo), frutos novos (com pericarpo); quanto ao estado dos ouriços considerou-se: abertos (sem sementes no ouriço), fechados, não encontrados. Para a procura dos ouriços que não estavam na posição inicial, foi feita uma varredura num raio de 20 metros em relação à árvore matriz. A identificação dos ouriços foi através de fita plástica pregada ao redor do ouriço, utilizando-se um prego pequeno. Também foi colocado uma fita nas árvores para facilitar a localização dos ouriços.
RESULTADOS:

Dos 207 ouriços monitorados no estudo, 137 não foram encontrados, outros 23 ouriços estavam abertos e 47 fechados. Há citações na literatura de ouriços de castanha-do-brasil que foram carregados por cutias além de 300 metros, o que explicaria esse elevado número de ouriços não encontrados.

Dos 23 ouriços abertos, somente 2 eram do tipo novo (com pericarpo), os outros 21 sendo do tipo velho (sem pericarpo). Esse dado mostra a preferência por parte dos dispersores naturais da castanha por frutos da safra passada (velhos) por não possuírem pericarpo e conseqüentemente serem mais fáceis de serem abertos.

A distância média dos frutos abertos encontrados foi de 5,69 metros em relação à árvore matriz. Porém considerando que provavelmente os frutos “não encontrados” tenham sido carregados e grande parte deles supostamente abertos por seus dispersores naturais, teríamos que aproximadamente 66% dos frutos foram carregados para fora da área da copa das árvores. O fruto aberto encontrado mais distante foi a 65 metros da posição inicial e o mais próximo foi no mesmo local inicial.

Dos 47 ouriços fechados, 6 eram do tipo velho (sem pericarpo), os outros 41 sendo do tipo novo. Destes ouriços fechados, 10 foram encontrados fora da posição inicial, com um deslocamento máximo de 8,2 metros.
CONCLUSÃO:

a)     Dos 207 ouriços monitorados, 137 não foram encontrados em um raio máximo de 20 m em relação à matriz.  Esta quantidade de ouriços não encontrados indica que os dispersores da castanheira-do-brasil movem os frutos antes de abri-los a distâncias muitas vezes superiores a 20 m;

 

b)     Dos ouriços comprovadamente abertos, somente 8,7%  tinham menos de uma ano de queda do fruto. A grande maioria 91,3%  tinham mais de um ano de queda, o que indica a preferência por parte dos dispersores naturais da castanha por frutos de safras passadas;

 

c)     Dos 207 ouriços monitorados, 79,7% foram encontrados fora das suas posições inicias.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Amazônia, Dasyprocta spp., castanha-do-brasil.