61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 10. Educação Rural
EDUCACÃO ESCOLAR E PRÁTICAS COMUNITÁRIAS : SABERES E FAZERES DOS APURINÃ
Célia Aparecida Bettiol 1
1. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:

 A educação é algo que está presente em todos os grupos sociais e das mais diferentes formas. Por  isso a educação escolar deve levar em conta os princípios que cada povo tem  na sua forma de educar. Sendo assim, para abordar a educação escolar indígena é necessária a compreensão de que a educação escolar não pode estar dissociada da educação comunitária presente em cada povo  nem da sua história e sua cultura. A comunidade São João está localizada  no município de Tapauá que abriga em sua extensão diferentes etnias indígenas, entre elas os Apurinã. Vivendo em diferentes comunidades, esse povo sobreviveu aos ataques dos ocupadores do Amazonas e exploradores da borracha. Após anos de lutas conseguiram a demarcação de algumas de suas áreas e a implantação de escolas nas comunidades, bem como a contratação de professores indígenas. Nessa situação encontra-se a comunidade São João com a Escola Municipal (Indígena) Santo Antonio, objeto de estudo dessa pesquisa. Compreender a forma de organização dessa escola e como as práticas educativas comunitárias são incorporadas por ela no fazer pedagógico foi o objetivo da pesquisa realizada. Espera-se que o resultado possa contribuir na organização da escola, bem como fomentar a discussão sobre as políticas da educação indígena no município.

METODOLOGIA:

A presente pesquisa apoiou-se no enfoque de análise qualitativa para desenvolver os conceitos e entendimentos desse estudo , utilizando a pesquisa etnográfica. Os procedimentos metodológicos selecionados para o desenvolvimento desse trabalho foram operacionalizadas da seguinte forma: na pesquisa de campo, as técnicas utilizadas para a coleta de dados foram observação participante dos processos educativos na comunidade São João e na escola da comunidade, entrevistas com os pais, os professores e outros comunitários, visitas domiciliares e participação nas atividades realizadas com a comunidade. As anotações dessa coleta foram registradas no caderno de campo, alguns momentos foram registrados em vídeo e fotografias. As entrevistas tomaram a forma de conversas e sempre envolveram mais de uma pessoa. Foram consultados arquivos do CIMI e outras fontes que relatam a história dos Apurinã, como o depoimento de pessoas do município de Tapauá que participaram de uma forma direta da história desse povo.. A análise dos dados foi feita a partir do método hermenêutico-dialético. Assim, o primeiro nível de interpretação foi o do contexto sócio-histórico do grupo pesquisado e o segundo nível foi a análise dos dados coletados propriamente ditos.

RESULTADOS:

As práticas comunitárias incorporadas pelo fazer pedagógico no fluxo das atividades escolares como a atenção, a participação da comunidade, a autonomia dos educandos e o respeito às tradições garantem a essa escola uma configuração própria de espaço público e participativo, onde o aluno é verdadeiramente sujeito da aprendizagem e os adultos e anciãos partilham do poder exercido no âmbito escolar. A docência indígena nesta escola assume a dimensão de uma atividade conjunta onde diferentes saberes se encontram e se complementam. Apesar dos desafios dessa docência, entendemos que nessa práxis pedagógica identificamos a verdadeira autonomia do educando e a valorização das experiências trazidas pelo aluno e pela comunidade onde ela está inserida. Um currículo participativo e multicultural é desenvolvido de forma espontânea, embora isso não conste de relatórios ou outro tipo de burocracia. O domínio da leitura e da escrita em português e na língua materna é o principal anseio dos Apurinã da comunidade São João. Através de práticas comunitárias incorporadas pela escola, conseguem atender em parte os objetivos do ensino da língua materna. O ensino da língua portuguesa deixa a desejar porque não há uma capacitação específica do professor para essa finalidade

CONCLUSÃO:

A forma de conceber e ressignificar a escola se reflete no modo como a comunidade a valoriza. Nesse sentido nos sensibilizamos pela maneira com que os Apurinã da comunidade São João apóiam a escola e dela participam. Igualmente nos sensibilizaram as frustrações que essa mesma escola lhes impõe pelo fato de não ser organizada para atender ao projeto de escola que eles têm para si. Não há iniciativas dos órgãos gestores no sentido de resolver ou minimizar essas falhas. Igualmente a falta de ações específicas para as escolas indígenas contribui para que o problema permaneça. Nesse sentido, pensamos que a organização das diferentes etnias do município no tocante à educação escolar poderia promover importantes iniciativas, como encontros de professores indígenas de Tapauá para a discussão desses e outros problemas que suas escolas enfrentam. É de fundamental importância que se capacite os professores indígenas para o ensino da língua portuguesa, pois entendemos que essa é uma condição necessária para atender aos objetivos dessas escolas. A aprendizagem e a preservação da língua materna lhes são essenciais, mas atendendo ás condições de envolvimento desses povos com a realidade nacional, não podemos deixar de ressaltar também a importância da aprendizagem da língua portuguesa.

Palavras-chave: educcação escolar, práticas comunitárias, Apurinã.