61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia
OCORRÊNCIA DE ESPÉCIES DE Cephalosphaera (DIPTERA, PIPUNCULIDAE) NO DOSSEL E SUB-BOSQUE DE UMA RESERVA DA AMAZÔNIA CENTRAL
Bruna Barbosa de Souza 1
Rosaly Ale Rocha 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA
INTRODUÇÃO:
Pipunculidae é uma família cosmopolita da ordem Diptera com cerca de 1300 espécies descrita em todo mundo, distribuídas em 20 gêneros (De Meyer, 1996; De Meyer e Skevington, 2000; Skevington e Yeates, 2001). As larvas são endoparasitóides de várias famílias de Hemiptera, especialmente Cicadellidae e Delphacidae, e são importantes como agente de controle biológico. Aspectos ecológicos dos Pipunculidae na Região Neotropical são pouco conhecidos. Nenhum dado é conhecido sobre esta família em copa de árvores e o estudo da diversidade torna-se ainda mais importante em um lugar onde habitam 80% das espécies, a floresta tropical (Erwin, 1997). Na região Neotropical são conhecidos 14 gêneros. Dentre eles, Cephalosphaera Enderlein, 1936, com distribuição mundial e atualmente 12 espécies neotropicais. O estudo dos Pipunclulidae visando aspectos ecológicos é importante para suprir a ausência desse tipo de informação sobre esses insetos, por se tratar de um grupo de interesse econômico visto sua importância no controle de populações de cigarrinhas. O trabalho tem como objetivo conhecer a composição de espécies de Cephalosphaera no dossel e sub-bosque da Reserva do Km 41 do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais em Manaus, e verificar se há diferença entre os dois ambientes.
METODOLOGIA:
A área de estudo corresponde à reserva de mata contínua do km 41 da ZF3, pertencente ao Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), localizada ao norte do município de Manaus, Amazonas, cujo acesso se dá pela BR 174 (Km 64). O método de coleta utilizado foi armadilha de interceptação denominada Suspensa (Rafael & Gorayeb, 1982). A armadilha apresentava um septo inferior na cor amarela, e recipiente de coleta com solução álcool 70% + glicerina 20%, proporção 80/20. Para a instalação das armadilhas seis trilhas com 700 m de distância foram selecionadas. Cada trilha continha dois pontos, interior e borda, distantes 500 metros um do outro, com uma armadilha no dossel e outra no sub-bosque em cada ponto, totalizando 24 armadilhas (Figura 3). A armadilha do sub-bosque era suspensa a aproximadamente 1,80 m do solo e a do dossel uma altura aproximada de 22 m. O material estudado foi coletado quinzenalmente no período compreendido entre maio de 2004 e abril de 2005. Os insetos capturados eram transferidos da armadilha para um recipiente de plástico contendo álcool 70%. Os exemplares de Cephalosphaera foram triados e identificados com o auxílio de chaves de identificação de Rafael (1996) e Skevington & Yates (2001).
RESULTADOS:
Foram obtidos 251 exemplares de Cephalosphaera. A maioria foi coletada no sub-bosque (231 indivíduos = 92,03%) e em menor quantidade no dossel (20 = 7,97%). Em relação ao local, foram mais abundantes no interior (146 indivíduos = 60,08%) que na borda (97 = 39,92%). Foram identificadas duas espécies: C. miriamae Rafael e C. aurata sp. nov.. C. miriamae foi a mais abundante (217 indivíduos), ocorrendo em maior número no sub-bosque (206 = 94,93%), que no dossel (11 = 5,06%); em relação ao local, a maior ocorrência foi no interior com 142 indivíduos (65,43%), que na borda, com 71 (32,71%). C. aurata sp. nov. foi menos abundante com 33 indivíduos, sendo 25 no sub-bosque (75,75%) e 8 no dossel (24,24%); em relação ao local, 13 indivíduos (39,39%) ocorreram no interior e 17 na borda (51,51%). Essa maior abundância de espécies de Cephalosphaera no sub-bosque pode estar relacionada à busca de hospedeiros, pois as larvas são endoparasitóides de cigarrinhas (Hemiptera: Auchenorrhyncha). Guimarães e Ale-Rocha (2006), no mesmo local, observaram que as famílias de Auchenorrhyncha encontradas também foram mais abundantes no sub-bosque. C. miriamae foi mais abundante nos meses de janeiro (51 indivíduos) e fevereiro (48) (período chuvoso), e C. aurata no mês de setembro (período seco), com 12.
CONCLUSÃO:
Foram registradas duas espécies de Cephalosphaera, C. miriamae e C. aurata sp. nov., tendo sido coletadas tanto no sub-bosque quanto no dossel. No gênero Cephalosphaera foi observada uma nítida preferência pelo sub-bosque, onde ocorreram 92,03% dos indivíduos coletados. Em C. miriamae 94,93% dos indivíduos foram coletados no sub-bosque; em C. aurata sp. nov. foram 75,75% dos indivíduos coletados nesse ambiente. Em relação ao local, interior ou borda, C. miriamae tem preferência pelo interior da floresta, com 65,43% dos indivíduos coletados; C. aurata sp. nov. teve maior ocorrência na borda (51,51%) do que no interior (39,39%) embora com menor diferença. As espécies de Cephalosphaera mostraram diferentes preferências por períodos sazonais, onde C. miriamae ocorreu com maior abundância em períodos mais chuvosos e C. aurata sp. nov. em períodos menos chuvosos.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa no Estado do Amazonas (FAPEAM)
Palavras-chave: Cephalosphaera, Sub-bosque, Dossel.