61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
Influência do Carbono Orgânico Dissolvido na Sensibilidade ao Cobre em Tambaqui (Colossoma macropomum)
Ronildo Oliveira Figueiredo 1
Karen Yuri Suguiyama da Silva 1
Rafael Mendonça Duarte 1
Fabíola Xochilt Valdez Domingos 1
Vera Maria Fonseca de Almeida e Val 1
Adalberto Luís Val 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA
INTRODUÇÃO:

Nos últimos anos, a qualidade da água do planeta tornou-se preocupação constante de vários países, uma vez que as ações antrópicas têm prejudicado muito os ecossistemas aquáticos, por meio da liberação de contaminantes nesses ambientes. As águas escuras do rio Negro apresentam caráter ácido e altos teores de carbono orgânico dissolvido (DOC), devido à presença de grande quantidade de ácidos húmicos e fúlvicos proveniente da decomposição de matéria vegetal originada nas florestas inundáveis. O cobre é um elemento essencial requerido por todos os organismos vivos em diversas reações fisiológicas e bioquímicas, porém, quando presente em níveis elevados torna-se prejudicial à saúde dos organismos, sendo reconhecido como um dos metais mais tóxicos para os peixes. O tambaqui é uma espécie nativa dos rios Amazonas, Orinoco e seus afluentes. Além de sua relevância nos ecossistemas da região apresenta alto valor comercial e é muito apreciado pelos consumidores locais. Neste trabalho foi utilizado o BLM - Modelo do Ligante Biótico, a fim de investigar a interação entre as propriedades químicas da água do Rio Negro e a toxicidade do cobre. O objetivo principal do estudo é avaliar a toxicidade do cobre na água do Rio Negro em diferentes diluições na espécie amazônica Colossoma macropomum.

METODOLOGIA:

Os experimentos com alevinos de tambaqui (1,00±0,04g) foram realizados em regime de fluxo contínuo mantendo a proporção peso volume cerca de 0,8g/L, por um período de 96hs. A avaliação da toxicidade do cobre foi verificada por meio de 6 experimentos,  sendo um em água de poço e os demais em diferentes diluições da água do rio Negro (20, 40, 60, 80 e 100%). Cada bateria experimental continha 10 câmaras, cada uma conectada a uma câmara estoque a fim de renovar a solução-teste nas câmaras experimentais. Em cada experimento 10 concentrações de cloreto de cobre foram avaliadas. Todas as câmaras experimentais foram dotadas de aeração constante e estavam conectadas a recipientes plásticos contendo hidróxido de cálcio para o descarte da solução-teste. Para a determinação dos valores de toxicidade em cada condição experimental foi utilizado o programa “LC50 Programs JS Pear Test”. Os parâmetros abióticos: pH, Cl, K, Na, Mg, Ca alcalinidade, dureza, temperatura e DOC foram mensurados em todos os experimentos. Esses dados foram utilizados para realizar a predição da toxicidade por meio do Modelo do Ligante Biótico (BLM). Os resultados obtidos com o auxílio do programa foram comparados com os dados obtidos experimentalmente a fim de validar e calibrar o modelo para águas da Amazônia.

RESULTADOS:

Os resultados de toxicidade obtidos experimentalmente em diferentes diluições da água do rio Negro (0, 20, 40, 60, 80 e 100%), foram 130,18 ± 57,65; 388,51 ± 60,00; 527,28 ± 51,51; 628,90 ± 106,62; 940,47 ± 132,25 e 1091,29 ± 91,26, respectivamente. Estes resultados mostram que ocorre diminuição na sensibilidade do tambaqui (C. macropomum) ao cobre nos experimentos realizados em presença das maiores concentrações de água do rio Negro. Isso ocorre devido à presença de matéria orgânica que tende a formar complexos com o cobre diminuindo a biodisponibilidade desse metal no ambiente, e consequentemente sua interação e absorção pelos peixes por meio das brânquias. Os valores de toxicidade estimados pelo BLM foram: 78,48; 249,93; 257,29; 366,74; 442,02 e 585,01. Esses valores de CL50 preditos pelo programa apresentaram grande correspondência com os dados de CL50 obtidos experimentalmente. Tanto o efeito protetor do DOC sobre a toxicidade do cobre quanto à correspondência entre as CL50 experimentais e preditas pelo BLM foi observada em estudos prévios desenvolvidos em nosso laboratório com 9 espécies de peixes ornamentais.

CONCLUSÃO:

Alevinos de tambaqui (Colossoma macropomum) expostos ao cobre na presença de altas concentrações de matéria orgânica dissolvida (DOC) apresentaram menor sensibilidade ao cobre. Os resultados aqui apresentados, em conjunto com os resultados prévios obtidos em outras espécies de peixes da fauna amazônica por nosso grupo de pesquisa, mostram que o BLM tem potencial para ser utilizado na predição da toxicidade do cobre em águas pretas da Amazônia.

Instituição de Fomento: CNPq, INPA, International Copper Association – ICA
Palavras-chave: metais , modelo do ligante biótico , toxicidade.