61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 5. Saúde Coletiva
AS PLANTAS MEDICINAIS NOS QUINTAIS DA ÁREA URBANA DE PARINTINS (AM) E SEU USO COMO ALTERNATIVA DE CURA
Ana Carla Dantas Ferreira 1
João D Anuzio Menezes de Azevedo Filho 1
1. Centro de Estudos Superiores de Parintins - CESP/UEA
INTRODUÇÃO:
Desde os primórdios de sua existência o homem sempre teve sua sobrevivência ligada ao que pudesse extrair da natureza. Os povos coletores e caçadores aprenderam unir elos a lidar com os recursos que a natureza lhes propiciava. Ao procurar elementos que pudessem favorecer o seu sustento, o homem foi considerado o principal intercessor na descoberta das espécies de plantas que mais tarde iriam prover-lhe a cura, deste modo, construindo um conhecimento empírico das suas ações medicinais. O objetivo deste trabalho é compreender a importância das plantas medicinais para a população urbana de Parintins a partir do valor dado a estas nas próprias residências, bem como as utilizações no dia-a-dia para o processo de cura. Partindo do pressuposto de que as plantas possuem um papel importantíssimo em todos os sentidos, principalmente entre populações de menor poder aquisitivo, é que buscamos enfatizar o uso destas como meio de cura.
METODOLOGIA:
Para a realização desta pesquisa utilizamos o método fenomenológico, para quem o conhecimento é o resultado da interação entre o que o sujeito observa e o sentido que ele fornece à coisa percebida. Para isso, realizou-se um estudo sobre a temática em discussão, logo após ocorreu a delimitação das zonas que seriam trabalhadas, sendo respectivamente as zonas: 1, 2, 3 e 4, elaboradas a partir de uma base cartográfica do IBGE. A escolha dos domicílios a serem visitados seguiu um critério aleatório, considerando, no entanto, as divisões por setores censitários estabelecidos também pelo IBGE. Foi elaborado um questionário com perguntas objetivas e subjetivas, na tentativa de verificar alguns aspectos de importância para a pesquisa. Cada domicílio visitado foi mapeado e seu quintal avaliado quanto à existência de plantas medicinais conhecidas ou não pelo morador. Logo após os resultados foram sistematizados e analisados.
RESULTADOS:
Os entrevistados eram sempre pessoas adultas possuindo um grande conhecimento com relação à utilidade e o uso das plantas. As mulheres possuem maior conhecimento do uso de plantas medicinais para problemas específicos, auxiliando assim a família, amigos, vizinhos e parentes quando precisam de algum “remédio” para a cura de suas enfermidades. Nos quintais da zona urbana de Parintins foram encontrados vários tipos de plantas medicinais como por exemplo, o boldo (Vernonia condensata), quebra-pedra (Phyllanthus nirulil), erva cidreira (Lippia Alba), capim santo (symbopogon citratos), crajiru (Drimys brasiliensis), corama (Bryophillum calicinum Salisb), mastruz (Chenopodium ambrosioides), entre as mais conhecidas. Existe uma forte relação dos moradores da cidade com os familiares e amigos do campo. Sempre que familiares vêm para a cidade, trazem vários tipos de remédios naturais, como plantas medicinais, cascas de árvores, resinas e óleos extraídos de árvores, como é o caso do óleo de andiroba. Estas servem tanto para o atendimento da família, como também, para serem comercializadas. As plantas medicinais são cultivadas em locais mais próximos da casa, onde o acesso é mais fácil para a colheita. Foi detectada uma grande quantidade de plantas medicinais, contudo, muitas ainda carecem de estudo. Foi evidenciado enorme potencial para agregação de novos produtos, mas muitos dos entrevistados não mostraram interesse em comercializá-las.
CONCLUSÃO:
Hoje o uso de plantas medicinais pela população é muito significativo. É importante perceber a relevância dessas plantas para o atendimento dos sintomas mais comuns de doenças como febre, vômitos, dores, que são tratadas inicialmente com as plantas antes de se recorrer ao sistema de saúde. Por acreditar nos resultados dessas plantas é que se cultiva nos quintais, isso demonstra a enorme ligação que o morador tem com estas. No decorrer das entrevistas foram detectadas 37 espécies de plantas típicas da região, conhecidas popularmente pela cultura do povo da região. O Brasil necessita de mais investimentos no conhecimento dos recursos naturais disponíveis na Amazônia. Existe um grande potencial ainda desconhecido pelos brasileiros e que precisa ser mais bem aproveitado, com o risco de perdê-los mesmo antes de conhecê-los. Até mesmo o conhecimento herdado pelos curandeiros, benzedores e fazedores de chás corre o mesmo risco, visto que envelhecem e morrem sem que haja interesse pelos mais novos em perpetuar esse saber. Os investimentos em recursos tecnológicos necessários nos centros de pesquisas de produtos naturais limitam-se a poucos centros, como é o caso daqueles que estão localizados na Amazônia, o maior reservatórios de produtos naturais e biodiversidade do planeta, que carece de infra-estrutura adequadas para a pesquisa científica com as plantas medicinais.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas
Palavras-chave: plantas medicinais, espaço urbano, cura.