61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
O USO DE PALMEIRAS POR INDÍOS BANIWA - ALTO RIO NEGRO, AMAZONAS.
Madalena Otaviano Aguiar 1
Maria Sílvia de Mendonça 2
1. Professora MSc. do IF/AM–Campus São Gabriel da Cachoeira
2. Professora Doutora da Universidade Federal do Amazonas/UFAM - Orientadora
INTRODUÇÃO:
A grande concentração de povos indígenas do Brasil encontra-se na Amazônia brasileira ou Região Norte. Somente na região do alto rio Negro, são 23 povos indígenas que representam 90% da população local. As margens do rio Içana e seus afluentes são ocupadas, principalmente, pelos índios da etnia Baniwa e Kuripako. Estudos têm demonstrado como a população tradicional, que detém um amplo conhecimento sobre os recursos naturais, pode indicar o uso de algumas espécies de palmeiras (ARECACEAE) e ensinar novos modelos para o manejo das mesmas. Nas comunidades dos índios Baniwa, os mais idosos ensinam aos mais jovens como retirar a palha de caranã (Mauritia carana A. Wallace), para cobertura de casa, sem destruir a planta, de forma que o caranazal possa ser reutilizado. Neste sentido, esta pesquisa objetiva resgatar o conhecimento dos índios Baniwa sobre o uso das palmeiras, adquiridos através de anos de convivência com a natureza, que podem ser aproveitados na busca de novas tecnologias e produtos.
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado na Comunidade Indígena de Tunuí Cachoeira, situada na região do médio rio Içana, afluente do rio Negro, pertencente ao município de São Gabriel da Cachoeira no Estado do Amazonas. As informações foram obtidas através de entrevistas estruturadas, diretas e pessoais, com questões abertas, sendo os dados preenchidos pelo entrevistador, no período de maio a outubro de 2007. Foram realizadas três viagens à comunidade, com estadias de 20 a 30 dias cada. Participaram das entrevistas 95 moradores, com idade acima de 12 anos, nas três faixas etárias: jovens (12-19), adultos (20-40) e velhos (acima de 40 anos). As entrevistas foram pré-agendadas e acompanhadas por um ou dois intérprete, pessoa da comunidade que se comunica bem na língua portuguesa e baniwa, visto que os moradores falam a língua indígena baniwa e a maioria deles tem dificuldades na compreensão da língua portuguesa. As palmeiras foram citadas na língua baniwa, acompanhado do nome vernáculo, quando conhecido. Posteriormente, foi feita a identificação botânica, através da literatura especializada ou consulta ao herbário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA.
RESULTADOS:
A comunidade indígena de Tunuí Cachoeira é habitada por 45 famílias que somam 243 moradores, a maioria da etnia Baniwa (98%). Os baniwa desconhecem o termo palmeira denominando-as de haiko makeperi que significa “plantas sem galhos”. As entrevistas resultaram numa lista com 179 etnotipos de plantas sem galhos, dentre estas, as espécies de palmeiras utilizadas pelos moradores. O uso das palmeiras na alimentação e construção foram os mais citados. Na alimentação, a produção de sucos (‘vinhos”) a partir do fruto. Na construção, a cobertura das residências utilizando-se a palha e, no suporte de habitações, o estipe. Na caça e pesca a produção de armadilhas, com o estipe de palmeiras, como kakuri, matapi e zarabatana. Além disso, são feitas construções provisórias com folhas e estipes de palmeiras nas longas estadias de caça e pesca. No uso doméstico, na confecção de vassouras, espanador, abanos, cestos, etc., são utilizados cachos, fibras, palhas, etc. Na produção de enfeites corporais, anéis e colares, e na fabricação de instrumentos musicais usam-se sementes, fibras, estipes, etc. Como fitoterápicos empregados na cura de doenças, diarréia e malária, e também no combate a despigmentação e queda do cabelo são utilizadas, geralmente, as raízes.
CONCLUSÃO:
A região estudada comporta uma rica diversidade de espécie de palmeiras, com grande potencial de uso pelos moradores, estando entre as plantas mais utilizadas na comunidade, principalmente na alimentação diária e construção de moradias. É evidente a preocupação dos moradores na manutenção destes recursos, na busca de desenvolver o cultivo e técnicas de manejo para algumas espécies, consideradas escassas no entorno da área de ocupação da comunidade, devido ao processo intensivo de extração destes recursos, como por exemplo, o caranã, palmeira usada na cobertura de habitações. A continuação deste estudo oferecerá subsídios para futuros programas que possibilitarão o manejo mais adequado das palmeiras, garantindo a sustentabilidade dos povos desta região.
Instituição de Fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas/FAPEAM e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq
Palavras-chave: Etnobotânica, Arecaceae, Etnia Baniwa.