61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
FLUTUANTE: TERRITORIALIDADE AQUÁTICA NA AMAZÔNIA
José Camilo Ramos de Souza 1
Lucélida de Fátima Maia da Costa 1
Rosi Meri Bukowizt Jankauskas 1
1. Universidade do Estado do Amazonas
INTRODUÇÃO:

Ao navegar pelos rios da Amazônia é descobrir em cada curva do rio um lugar diferente, como os flutuantes na frente de cada cidade. Estes flutuantes estão na mediação entre a cidade e o campo, entre o urbano e o rural. É importante salientar que os flutuantes existem mais na frente das cidades do baixo, médio e alto Solimões. É nas casas sobre troncos, que flutuam nas frentes das cidades, dentro do grande rio, há uma organização espacial e neste ocorre múltiplas relações, porque há uma forma e função. Forma no sentido da estrutura organizada e distribuição na frente das cidades. Função no sentido de existirem como residência; como bares, como clubes; como entreposto de pesca; como intermediação do comércio urbano com o rural; comprador de produtos agrícolas e extrativos. Há uma circulação de recursos e ao mesmo tempo faz surgir uma pergunta: por que os moradores dos flutuantes não mudam para um bairro da cidade? A resposta não é tão simples, mas pode-se dizer que há nestes moradores dos flutuantes uma relação muito forte com a água e por isso tornam-se vigilante dos rios, porque conhecem a circulação dos barcos e a migração dos peixes, convivendo com os mitos aquáticos.

METODOLOGIA:

Para entender a vida a organização espacial dos flutuantes e entendê-los como territorialidade aquática, partiu-se de observações diretas, onde foi possível perceber a dinâmica existente em cada flutuante. Observar, não no sentido somente de olhar, mas procurar perceber os detalhes de cada relação social, econômica e ambiental. Assim foi possível entender a relação entre o urbano e o rural a partir dos flutuantes. Outra técnica utilizada foi entrevista livre. Esta técnica permite que o sujeito da pesquisa se expresse e diga o que sente, procurando mostrar as condições de vida e o que é viver sobre a água. A entrevista livre funciona como um diálogo entre o sujeito da pesquisa e o pesquisador, permitindo uma inteiração entre os dois. Para melhor entender e até mapear os flutuantes utilizou como recursos fotografias, para depois analisar a distribuição espacial, ou seja, como os flutuantes estão organizados na frente da cidade. Assim foi possível perceber a ação da marinha tentando organizar a distribuição dos flutuantes, até mesmo para dar acesso aos barcos, pois estes estavam tendo dificuldade de ancorar. Com o uso dessas técnicas foi possível compreender a territorialidade aquática dos flutuantes.

RESULTADOS:

Ao observar as relações que se estabelecem nos flutuantes foi possível constatar que há uma territorialidade aquática e esta se apresenta na dinâmica do morar, do fazer, do estar e assim construir sua vida dentro da água porque este lugar é percebido, concebido e vivido. As relações estabelecidas sobre os troncos dentro d’água está a função comercial que ao mesmo tempo é fornecedor – atacado e varejo, atendo o rural; receptor de toda produção do campo, no exercício de intermediar o campo e a cidade. Estas relações se estendem para lazer e serviços, como: restaurante, clube dançante, bar balneário, hotel e motel; neste aspecto particular de lazer está para atender tanto os que vem das comunidades rurais quanto para atender os que vivem na cidade.Em relação a moradia foi possível perceber os tipos de casas – solteiro e casal. Estas residências flutuantes são dotadas de quartos, varandas e recebem energia elétrica da cidade e algumas recebem até água encanada da distribuidora da cidade. Estes flutuantes são lugares diferentes, determinando uma razão do viver e ao mesmo tempo um perigo dos animais peçonhentos e do próprio rio, mas seus moradores têm a certeza de guarda a herança rural no viver do urbano.

CONCLUSÃO:

A realidade observada permite tirar várias conclusões, mas o que se destaca é a territorialidade aquática que está presente no modo de vida dos moradores e nas relações sociais, econômicas e culturais existentes na complexidade dos flutuantes. Sendo assim, um lugar que permite viajar nas asas do imaginário ao mesmo tempo dentro de uma realidade amazônica; permite ouvir o som do banzeiro batendo no barranco e formando a terra caída, permite ver o nascer e o pôr-do-sol e ao mesmo tempo contemplar o revoar dos pássaros, além de se permitir sentir a brisa suave e se acalmar com o cantar dos passarinhos. É neste misto amazônico que os moradores dos flutuantes da frente das cidades vivem a realidade do viver rural e urbano, onde estabelecem a dinâmica do funcionamento do lugar. É importante frisar que a construção desta leitura está alicerçada na teoria bibliográfica que serve de âncora de articulação entre o processo de compreensão do lugar como categoria de estudo sentida e apreendida na prática, que aparenta ser modesta, mas agiganta-se no momento em que se processa a tabulação e análise.  

Palavras-chave: Territorialidade, Flutuante, Amazônia.