61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
RELAÇÕES ENTRE DISPONIBILIDADE DE ALIMENTO E DIETA DE QUATRO ESPÉCIES DE PEIXE EM IGARAPÉS DE TERRA FIRME NA AMAZÔNIA CENTRAL
Fabíola Ártemis Souza do Valle 1
Jansen Alfredo Sampaio Zuanon 2
Lucélia Nobre Carvalho 3
1. Universidade do Norte - UNINORTE
2. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA
3. Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Sinop
INTRODUÇÃO:
Estudos sobre alimentação de peixes vêm se tornando freqüentes na Amazônia onde a cobertura vegetal tem grande influência sobre a estrutura do ambiente aquático e os recursos alimentares disponíveis. Muitos peixes encontram suas presas (macroinvertebrados) à deriva, provenientes da vegetação ripária, ou associadas a substratos submersos. Entretanto, não se conhece adequadamente a disponibilidade e o uso de macroinvertebrados na dieta de peixes de igarapés de terra firme. No presente trabalho, foram investigadas as relações entre a disponibilidade de macroinvertebrados alóctones e autóctones e seu uso por quatro espécies de peixes, em igarapés de terra firme da região de Manaus, nas áreas do Projeto Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF – Convênio INPA/Smithsonian Institute).
METODOLOGIA:
O estudo foi realizado em igarapés de 1a a 3a ordem, inseridos em áreas de floresta primária contínua. Macroinvertebrados alóctones foram amostrados com três redes de deriva (30cm largura, 15cm altura, malha 380µm), dispostas na camada sub-superficial da água por um período de 16 horas (16:00h - 08:00h) em cada local. Amostras de macroinvertebrados autóctones foram obtidas com um coletor tipo surber (30cm x 30cm, malha 1mm) em três tipos de substratos: folhiço em remanso, barrancos, e bancos de areia. Foram coletadas três amostras em cada substrato por igarapé. As espécies de peixes analisadas foram: Pyrhulina brevis (Lebiasinidae), peixe diurno que forrageia junto à superfície; Helogenes marmoratus (Cetopsidae), pequeno bagre noturno que explora bancos de folhas submersas; Gymnorhamphichthys rondoni (Rhamphichthyidae), sarapó noturno que vive em bancos de areia submersos; e Sternopygus macrurus (Sternopygidae), sarapó que ocupa áreas junto aos barrancos dos igarapés. A dieta foi analisada pelo método numérico (n.° de exemplares de cada táxon consumido, em relação ao total de presas consumidas, em %). Para comparar o alimento disponível e o ingerido pelos peixes, foi utilizado o Índice de Eletividade de Ivlev.
RESULTADOS:
Foram analisados 64 exemplares de P. brevis, cuja dieta foi comparada com invertebrados coletados com redes de deriva; 53 de H. marmoratus (dieta comparada com amostras obtidas nos bancos de folhiço); 88 de G. rondoni (dieta comparada com invertebrados dos bancos de areia); e 51 de S. macrurus (dieta comparada com invertebrados dos barrancos). Foram coletados 4080 macroinvertebrados sendo 813 exemplares nas redes de deriva e 3267 exemplares nos outros substratos (2242 no folhiço de remanso, 548 na areia e 477 no barranco). Amostras de deriva foram dominadas por larvas de Diptera (Chironomidade) (50,1%) e Trichoptera (Leptoceridae) (20,2%) e por Coleoptera adultos (Elmidae) (10,9%). Dez táxons ocorreram na dieta de P. brevis, com preferência por Hymenoptera (formigas) em igarapés de 1ª a 3ª ordem e com consumo elevado de Ephemeroptera em igarapés de 2a ordem. Helogenes marmotarus consumiu 7 táxons de macroinvertebrados, com preferência por Hymenoptera (formigas) em igarapés de 1a a 3a ordem. Gymnorhamphichthys rondoni consumiu 3 tipos de presas, com preferência por larvas de Diptera (Chironomidae) em igarapés de 2a e 3a ordem. Sternopygus macrurus apresentou 5 táxons na dieta, com preferência por Trichoptera e Coleoptera em igarapés de 2ª a 3ª ordem.
CONCLUSÃO:
As amostras de disponibilidade indicam que o meio oferece uma grande variedade de presas, que as espécies estudadas aparentemente não consomem, ou o fazem em proporções mínimas. A decisão do predador de consumir ou não uma presa é o resultado de uma atividade de procura e encontro, onde o tempo de espera e o gasto de energia devem ser compensados pela energia contida nas presas. Nos igarapés de terra firme estudados, os peixes dependem dos nutrientes provenientes da floresta para sua dieta, seja por assimilação direta, seja pelo fornecimento de matéria orgânica que serve de substrato para os macroinvertebrados.
Instituição de Fomento: INPA/CPBA, FAPEAM, CNPq, Fundação “O Boticário”, Projeto Igarapés, IIEB – Programa BECA, PDBFF
Palavras-chave: Disponibilidade de recursos, Dieta, Categoria trófica, Macro.