61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes
CARACTERIZAÇÃO DAS CARGAS DE TREINAMENTO DE NADADORES INFANTIS DA CIDADE DE MANAUS
André Rodrigues Dantas 1
Vinicius Cavalcanti 2
Ivan de Jesus Ferreira 3
Lucídio Rocha Santos 4
1. Universidade Federal do Amazonas
2. Universidade Federal do Amazonas
3. Universidade Federal do Amazonas
4. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

A popularização do esporte infanto-juvenil está bem expressa pela crescente adesão de crianças e jovens a programas de treino organizado. Contudo, o envolvimento de jovens atletas em processos de treino especializado e intensos, tendo em vista a obtenção de rendimentos elevados e a participação em competições de elevado nível de desempenho, tem causado crescente preocupação entre a comunidade ligada às ciências do desporto (MARQUES, 2002).

Tal fato mostra que as pesquisas em nível internacional, nacional e regional que poderiam apontar caminhos de desenvolvimento da metodologia do treino são escassas, há poucos estudos realizados que apontem quais parâmetros adequados ao biotipo do atleta para a aplicação de cargas de treinamento. Tais cargas constituem-se de componentes, como intensidade, duração, densidade, volume e freqüência. Tais componentes em cooperação complexa com os objetivos, programas, procedimentos e métodos de um treinamento, podem ser considerados sob um ponto de vista quantitativo e qualitativo e determina a especificidade de um treinamento. Isso nos mostra o grau de importância e atenção que devem ser dados a este aspecto, ao aplicarem-se esses princípios no treinamento de crianças e adolescentes.

Nesse sentido, Bompa (2002) afirma que é essencial incorporar os princípios de periodização no treinamento de crianças e adolescentes. Este autor afirma ainda que estes devam participar de períodos de treinamento gerais e específicos, devendo ainda ser considerada a maturação de cada atleta e ajustar o treinamento e os programas competitivos adequadamente.

Segundo Coelho (2000) numa perspectiva sistêmica a formação de um atleta de alto rendimento é condicionada pelos estados qualitativos atingida pelos praticantes durante todas as etapas da sua preparação. Por isso a preparação desportiva dos jovens, se não deve replicar os objetivos e características do alto rendimento, não pode deixar de ter como referência, embora em longo prazo, esses mesmos atributos, e promover o desenvolvimento dos pressupostos que suportam as exigências da preparação e competição que se verificam a nível superior.

Alguns especialistas acreditam que a exposição das crianças a um amplo espectro de experiências de movimentos, englobando muitos esportes, irá proporcionar uma formação de habilidades motoras em geral, que poderá ser utilizada na busca do êxito em determinado tipo de esporte, mais tarde em sua vida adulta. Por outro lado, outros acreditam que o treinamento para um esporte específico desde a tenra idade desenvolverá padrões motores mais eficientes e também incentivará mudanças nos sistemas fisiológicos que favorecerão o desempenho naquela atividade particular.

Segundo Marques (2004) a adoção dos modelos evoluídos de competição do desporto de alto rendimento na preparação desportiva dos mais jovens foi um grave erro que cometemos durante muitos anos e de que só agora começamos a ressarcir-nos.

Este mesmo autor afirma que devemos, pois comprometer-nos com a construção de modelos de competição que em cada fase da preparação se identifiquem coerentemente com as possibilidades dos mais jovens e com as propostas de treino que desenvolvemos.

A relação treino/competição no desporto dos mais jovens não deve então ser estabelecida da direita para a esquerda, isto é, da competição para o treino, como se faz no desporto de alto nível, em que o modelo de treino é organizado a partir do modelo de atividade competitiva, mas da esquerda para a direita, do treino para a competição, isto é, numa relação de continuidade e complemento dos objetivos de formação que se promovem no treino.

Este estudo pretende centrar-se em questões relacionadas à aplicação de cargas de treinamento nos clubes de natação da cidade de Manaus, a fim de diagnosticar as práticas utilizadas por treinadores através de análise das metodologias utilizadas e, identificar os caminhos seguidos dentro desse meio, mostrando a realidade em que se encontra a natação local.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa está caracterizada como do tipo descritiva, objetivando quantificar cargas de treinamento aplicadas em jovens nadadores da categoria infantil, com a faixa etária compreendendo entre 13 e 14 anos de idade nos clubes de natação na cidade de Manaus. O universo compreende, atualmente, 12 (doze) Clubes vinculados à Federação Amazonense de Desportos Aquáticos (FADA) na cidade de Manaus.

A população deste estudo está representada por cerca de 18 (dezoito) profissionais que atualmente trabalham nos clubes. A amostra deste estudo está composta de 60% (12 treinadores) deste universo profissional (N=12). O que representa 100% dos treinadores que trabalham diretamente com treinamento desportivo de rendimento na natação.

Em virtude da ausência de um instrumento específico para os objetivos deste estudo, elaborou-se um inquérito sob a forma de questionário provisório construído a partir da revisão da literatura pertinente ao tema.

O questionário foi estruturado com questões fechadas a partir de temas selecionados. Este instrumento foi estruturado com as seguintes partes: conteúdos programáticos das planilhas de treinamento da natação e caracterização dos treinos nos clubes de natação de Manaus.

Após a recolha dos dados, estes foram registrados, tratados e analisados de forma descritiva com base no cálculo da média, freqüência, valores mínimo-máximos, e percentagem, através do pacote estatístico SPSS 10.00 (software).

RESULTADOS:

Pode-se constatar que a percentagem de treinadores que abordam os conteúdos no treinamento de natação em Manaus é constituída predominantemente pelo trabalho de resistência aeróbica (100%) e anaeróbica (66,7%), treinamento de flexibilidade (100%), velocidade (100%), exercícios de braços e pernas (100%), exercícios de saídas e viradas (100%), e trabalho de técnica e educativos (100%).

Ao observamos os períodos adotados pelos treinadores para constituição da periodização anual, 91,7% utilizam o período pré-preparatório para a categoria infantil, com a duração variando de 02 a 08 semanas. 100,0% dos treinadores utilizam os períodos preparatório 1 que vai de 04 a 12 semanas, preparatório 2 que vai de 03 a 08 semanas, competição variando de 01 a 12 semanas, e transição variando de 01 a 12 semanas para todas as categorias. Notamos que esses períodos estão de acordo com o modelo de periodização dupla adotada devido as competições principais ocorrerem duas vezes ao ano.

Quanto à forma de organização da sessão de treino da natação, observa-se um tempo de treino fora d’água em torno de 15 a 45 minutos onde são realizadas a preparação física dos atletas e outros tipos de trabalho como o de flexibilidade e força, o tempo treino dentro d’água tem duração variando de 50 a 90 minutos, constituindo um tempo total de sessão de treino de 65 a 145 minutos.

Acerca do volume máximo por sessão verifica-se uma metragem de 2.000 a 5.500 metros, tendo um volume semanal de 6.600 a 40.000 metros. Em relação à freqüência semanal de treinos, observa-se na categoria infantil uma freqüência de 3 a 7 treinos por semana. Quanto ao número de competições, este varia em torno de 02 a 12 vezes ao ano, e o número de testes varia entre 01 a 12 testes realizados durante a temporada, em alguns casos estes são tomados como as próprias competições.

CONCLUSÃO:

Tendo em consideração os resultados apresentados, podemos concluir que a estruturação do treinamento da natação utilizada pelos treinadores na cidade de Manaus constituiu-se predominantemente pelo trabalho de capacidades motoras como resistência, flexibilidade, velocidade, e pelo trabalho das técnicas específicas do nado, estando, portanto em consonância com o que a literatura pressupõe.

Outro ponto que devemos considerar importante está relacionado ao calendário de competições que é tido como principal indicador para elaboração da periodização e seus componentes sendo estes o modelo de periodização, a duração, os períodos utilizados e a forma como são controladas as variáveis do treinamento. Este indicador é baseado num modelo tradicional de competições de alto rendimento, sendo, portanto inadequado aos princípios e pressupostos do treino de jovens.

Com relação ao volume e intensidade das cargas de treinamento, de acordo com as observações realizadas das sessões de treino, a categoria infantil realiza os mesmos valores se comparados com as categorias juvenis e juniores, confirmando uma hipótese de que as cargas são aplicadas sem levar em consideração a idade e o desenvolvimento físico-motor dos praticantes, culminando na especialização precoce, fator extremamente prejudicial à carreira dos atletas mais jovens, uma vez que levam ao abandono precoce, estagnação dos resultados e problemas músculo-esquelético.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Treinamento, Natação, Caracterização de Cargas.