61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
DESIGUALDADE RACIAL NA PREVENÇÃO AO HIV/AIDS: UM ESTUDO DESCRITIVO COM JOVENS RELIGIOSOS NEGROS E BRANCOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO
Alessandro de Oliveira dos Santos 1
Vera Paiva 1
1. Departamento de Psicologia Social e do Trabalho - IP/USP. NEPAIDS.
INTRODUÇÃO:
As religiões são referências importantes no processo de socialização, influenciando na formação da identidade e na vida sexual e reprodutiva. No Brasil a população negra, que corresponde à soma de pretos e pardos na classificação do IBGE, sobrevive em piores condições que a população branca com diferenças expressivas no que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde e educação e as oportunidades de emprego e renda. A desigualdade racial entre negros e brancos persiste no âmbito das religiões? Jovens religiosos negros em comparação com jovens religiosos brancos apresentam experiências desiguais no que se refere à prevenção do HIV/Aids? O presente estudo investigou a existência ou não de desigualdade racial na prevenção do HIV/Aids entre jovens religiosos, utilizando dados coletados por meio de um questionário fechado. O questionário foi respondido por 181 jovens católicos, evangélicos, protestantes e de religiões afro-brasileiras (Umbanda e Candomblé) da região metropolitana de São Paulo, para a pesquisa do NEPAIDS/ABIA “Jovens e religião: sexualidade e direitos”, realizada entre 2007 e 2008.
METODOLOGIA:
Estudo descritivo com base na análise de dados de 175 questionários respondidos por uma amostra de conveniência, tipo snow-ball, de 77 jovens do sexo masculino e 98 do sexo feminino, sendo 73 negros e 102 brancos, de 15 até 25 anos, filiados a 07 templos religiosos (01 Católico, 03 Evangélicos/Protestantes e 03 de Candomblé/Umbanda). Para melhor circunscrever a comparação entre negros e brancos foram retirados da amostra 04 jovens auto-declarados amarelos e 02 indígenas. Do total de jovens religiosos: 13 negros e 50 brancos são católicos, 30 negros e 20 brancos são evangélicos/protestantes e 28 negros e 28 brancos são de Candomblé/Umbanda. Do total de jovens que respondeu estar estudando, 32% são negros (38/117 jovens) e 68% brancos (79/117 jovens) (p<0,002). Dentre os que responderam não estar trabalhando, 33% são negros (28/84) e 67% brancos (56/84) (p<0,04). Para análise de dados sobre prevenção ao HIV/Aids foram comparados os percentuais de respostas em relação às variáveis: idade da primeira relação sexual, uso de camisinha (onde recebeu informação, segurança em relação ao uso) e HIV/Aids (conhecimento de locais de testagem, auto-avaliação sobre o risco de infecção e convivência com pessoas vivendo com o vírus). Foi utilizado o software estatístico Stata 10.
RESULTADOS:
Dentre os jovens que responderam nunca ter tido relação sexual, 46% (35/76) são negros e 54% (41/76) brancos. Dentre os jovens que tiveram a primeira relação sexual com mais de 15 anos, 30% são negros (16/53 jovens) e 70% brancos (37/53 jovens). Os brancos recebem mais informação sobre camisinha dos pais, 67% (64/95 jovens), em comparação com os negros, 33% (31/95 jovens) (p<0,05). A segurança para usar camisinha é maior entre os brancos, 65% (63/97 jovens) responderam ter total segurança em comparação com 35% dos negros (34/97 jovens). Os brancos indicaram ter mais informação sobre o teste Anti-HIV, 61% dos jovens que responderam saber onde se faz o teste são brancos (71/116 jovens) em comparação com 39% de negros (45/116 jovens). A percepção de baixo risco de infecção pelo HIV foi maior entre os brancos, 71% (41/58 jovens), em comparação com os negros, 29% (17/58 jovens). Os negros referiram conhecer mais pessoas vivendo com HIV/Aids, 52% (32/62 jovens), do que os brancos, 48% (30/62 jovens).
CONCLUSÃO:
Os jovens religiosos negros da região metropolitana de São Paulo igualam-se aos demais jovens negros brasileiros quando comparados com jovens brancos, ou seja, estão em situação de desigualdade no que diz respeito ao acesso à educação e saúde e, por conseguinte, são mais vulneráveis à infecção pelo HIV. A reprodução dessa situação de desigualdade mantém-se graças à existência da discriminação racial. A filiação religiosa, referência importante no processo de socialização desses jovens, não se mostrou relevante para mudar essa realidade. Independente da religião, jovens negros religiosos na comparação com jovens brancos religiosos estudam menos, começam a trabalhar e iniciam a vida sexual mais cedo, recebem menos informação sobre prevenção e testagem do HIV e são mais inseguros em relação ao uso correto da camisinha. Além disso, têm uma auto-avaliação do risco de infecção pelo HIV maior do que os jovens brancos e conhecem mais pessoas vivendo com HIV/Aids; evidenciando que o convívio com a epidemia parece ser mais comum neste grupo racial. O estudo produziu elementos para o aprofundamento do debate sobre a necessidade de promoção da igualdade racial no âmbito das religiões e do Sistema Único de Saúde (SUS).
Instituição de Fomento: PROSARE/CEBRAP – Fundação Mac Arthur e CAPES
Palavras-chave: Juventude Religiosa, Prevenção ao HIV/Aids, Desigualdade Racial.