61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 7. Sociologia
USO E MANEJO DE COPAIBA NAS COMUNIDADES DE MAZAGÃO VELHO E MARACÁ
Christianni Lacy Soares 1
José Carlos Tavares Carvalho 1
1. Universidade Federal do Amapá/UNIFAP
INTRODUÇÃO:

O presente relatório expõe a análise sobre a utilização e manejo da copaíba, e outras plantas medicinais nas comunidades de Vila de Mazagão Velho e Vila de Maracá, no município de Mazagão, Estado do Amapá. Região que concentra em seu histórico, um rico legado de saber sobre a diversidade da floresta regional, acumulados pelo desenvolvimento do agro-extrativismo, atividade que manteve as bases econômicas da região. Avaliado no contexto de implementação da biotecnologia, partiu-se da análise do fomento as pesquisas biotecnológicas em fármacos, cosméticos, alimentos e outros, ou seja, no desenvolvimento do mercado de produtos naturais, como uma das estratégias de desenvolvimento sustentável que concilie crescimento e qualidade de vida na Amazônia. Os objetivos do trabalho foram: averiguar o grau de dependência e conhecimento dessas comunidades relativo a plantas medicinais regionais; caracterizar o modo de vida das mesmas através da análise do perfil socioeconômico das vilas; e identificar as condições de uso e manejo da copaíba pelas comunidades. Dado que a copaíba tem sido apontada como um dos produtos naturais de grande potencial econômico para a Amazônia, e já explorada na região em pequena escala e para uso próprio dos moradores.

METODOLOGIA:

Os procedimentos metodológicos basearam-se em investigação sistemática, com abordagem qualitativa e quantitativa. Utilizou-se bibliografias interdisciplinares; análise de dados documentais e estatísticos; e  pesquisa de campo. Aplicou-se formulário semi-aberto. A seleção da amostra baseou-se em tabela amostral para um nível de confiança de 95% (SEBRAE, 2004). Com universo de aproximadamente 5.000[1], a amostra do estudo de 105 formulários, aplicados às duas comunidades corresponde ao erro amostral de +/- 10%[2].  No tratamento dos dados, utilizou-se o programa Microsoft Excel, que gerou freqüências e médias. Agrupou-se os dados em gráficos, numa relação comparativa entre as localidades. Na crítica dos questionamentos abertos e das entrevistas gravadas, utilizou-se de transcrição e posterior apuração das informações, o que proporcionou o aprofundamento das questões levantadas, numa abordagem qualitativa, própria das ciências sociais.



[1] Segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a população do distrito de Mazagão Velho compreende 5.929 habitantes.

[2] SEBRAE, Análise de Mercado. Proger – Jovem Empreendedor. – Brasília/DF, 2004:23.

RESULTADOS:

As comunidades localizam-se em uma região economicamente agro-extrativista, dependente dos ciclos e recursos naturais. Cerca de 75% dos entrevistados em Mazagão Velho (MV) e 53% de Maracá (M) nasceram na região. A maioria dos entrevistados utiliza plantas medicinais para cura de enfermidades, (89,28% - MV; 87, 75% - M).  A utilização de plantas medicinais é transmitida por meio de seus antepassados. Fazem uso da Copaíba desde a infância, como cicatrizante e antiinflamatório em casos de ferimentos, tratamento de gastrite, convulsão, derrame, tosse, gripe, inflamação na garganta, dores no estomago, pancadas, e picada de cobra (71,42% - MV; 71,42 – M). Em Mazagão Velho compram em farmácias 47,50% e 50% compram de outras localidades. Em Maracá, 48,85% adquirem na mata, 51,42% compram de extratores da região.  Na identificação da copaibeira, 85% dos moradores de MV não a reconhecem, e somente 15% conseguem identificá-la. Em Maracá, 54.28% não conseguem identificar a planta e não conhecem o processo de extração, 45.71% reconhecem, mas apenas 31.42% sabem descrever o processo de extração do óleo da copaíba. O conhecimento das comunidades sobre a copaíba está além da utilização medicinal, apesar de Mazagão Velho apenas conhecer o uso, a localidade de Maracá detém uso e manejo.

CONCLUSÃO:

A região de estudo tem potencial econômico agroextrativista, porém Mazagão Velho não possui perfil econômico extrativista. As comunidades têm potencialidades na agricultura e turismo.  Alternativas de desenvolvimento que merecem incentivos pelos órgãos públicos, e a ingerência direta das comunidades no processo de organização. Maracá em especial, cultua o extrativismo vegetal, legado oriundo de processos culturais característico da ocupação humana na região. Economia que se desenvolvida pode gerar fontes extrativistas, como a copaíba, produto que com outros oleaginosos, é promissor no fomento da produção de produtos naturais. Sobre o conhecimento tradicional na utilização de plantas medicinais e da copaíba, as comunidades demonstraram conhecer os tipos e efeitos das plantas regionais mais comuns. Mas, em Vila de Maracá o saber sobre a copaíba é otimizado em função do labor extrativista desenvolvido por assentamentos rurais da região, conhecem o uso, efeito, extração até o manejo da copaibeira. O know-how tradicional é o grande parceiro do desenvolvimento sustentável, aliados a tecnologia podem difundir um desenvolvimento que tende a atenuar os impactos da ação humana sobre a natureza, e conduzir á um modelo econômico para Amazônia, que de fato inclua os amazônicos.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifíco e Tecnológico/CNPQ
Palavras-chave: Conhecimento Tradicional, Desenvolvimento, Copaíba.