61ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 14. Engenharia
MAUÉS E O GÁS NATURAL: VIABILIZANDO A SUSTENTABILIDE LOCAL
Patricia Dresch 1
Marcelo Schwob 1
1. Divisão de Energia – DIEN, Instituto Nacional de Tecnologia - INT/MCT
INTRODUÇÃO:
O Amazonas é um estado ainda não interligado ao sistema elétrico nacional, o que causa problemas de elevado custo operacional, baixa eficiência e pouca confiabilidade no que diz respeito ao fornecimento de eletricidade. Nas regiões mais isoladas do Estado, esse problema se agrava, apresentando sérios problemas na logística de suprimento de combustíveis, assim como de adequada manutenção dos equipamentos de geração elétrica, muitas vezes obsoletos, em precário estado de conservação e, com frequência, sub-dimensionados para atender o processo de grande crescimento populacional da região. Dentro dessa perspectiva, existem realidades locais com forte potencialidade econômica, porém com a demanda reprimida pela dificuldade de beneficiamento da produção local que geraria maior valor agregado, garantindo preços competitivos e melhorando a renda local. Nesse perfil se insere o Município de Maués, localizado na mesorregião central do estado do Amazonas, a 356 km em distância por via fluvial de Manaus, cerca de 30 horas de viagem por barco. Maués tem grande potencial em ecoturismo, piscicultura, cultura de mandioca e, por fim, cultura e beneficiamento do guaraná, produto-símbolo local, demonstrando sua necessidade de suprimento de eletricidade em qualidade e quantidade.
METODOLOGIA:
O trabalho foi baseado em dados obtidos ao longo do Projeto Alternativas para o Uso do Gás Natural na Região Norte - INT/FINEP, tratando-se de um desdobramento da análise de seus resultados e aplicações. Foram também utilizadas informações das distribuidoras locais de combustíveis e capitania dos portos. Os dados referentes à infra-estrutura de Maués foram obtidos junto ao IBGE e a ferramenta virtual Google Maps auxiliou na análise do mapa hidrográfico da região.
RESULTADOS:
O atendimento de energia elétrica à população de Maués se dá através de geração térmica, a partir de um conjunto gerador com capacidade estimada de 6.000 kVA (4.800 kW), operando com óleo diesel com uma geração média de eletricidade de 41.000 kWh/dia (média de 53 kWh/habitante.mês), considerando uma operação com fator de carga de 70% durante 12 horas/dia. Nestas condições, o consumo correspondente de óleo diesel é da ordem de 11.750 l/dia, equivalendo em gás natural a 11.450 m³/dia. Considerando a operação de motores duais operando com 75% de gás natural e 25% de óleo diesel, o consumo de gás natural estimado seria de 8.588 m³/dia, com uma parcela restante de 2.969 l/dia de óleo diesel. Admitindo-se um crescimento econômico local de 3% ao ano até 2020 e uma demanda elétrica proporcional a essa taxa, estima-se para 2015 um consumo de gás natural de 9.956 m³/dia e para 2020 de 11.542 m³/dia. Tomando como referência o transporte de GNC em feixes de cilindros em carretas embarcadas por via fluvial, com extração de gás natural em Manaus, o custo de investimento no projeto seria da ordem de R$ 2,5 milhões. O sistema de extração teria uma capacidade semelhante à de um posto de GNV, com compressores de 150 a 200 cv de potência e capacidades de abastecimento de 800 a 1.000 m³/h.
CONCLUSÃO:
Considerando a boa lucratividade do projeto, a distribuidora de gás local poderá comercializar o GNC a um preço final de venda de R$ 1,50/m³, permitindo uma remuneração mensal de cerca de R$ 40.000,00, com prazo de retorno do investimento de 65 meses. Este valor poderia ser aumentado com a perspectiva de comercialização adicional do gás natural para a indústria local de guaraná, responsável por mais da metade da produção amazônica. Para tanto, e considerando-se valores médios estimados de consumo específico de energia de 700 kcal/kg (combustível para torra) e 180 kWh/t (eletricidade para acionamento mecânico e iluminação), estima-se uma demanda de gás natural da ordem de 150 m³/dia, que poderia ser suprida, sem problemas, pelo sistema logístico proposto. Vale ainda destacar o potencial de atendimento a novos projetos industriais de pequena monta, como plantas de produção de mandioca, câmaras de refrigeração para estocagem de frutas e polpas, processamento de pescado etc. Outros setores também beneficiados seriam os hospitais, escolas e serviços de saneamento. Essa substituição de combustíveis poderia ainda pleitear créditos de carbono se considerada como projeto de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Palavras-chave: Geração de energia elétrica, Gás natural, Maués.