61ª Reunião Anual da SBPC
B. Engenharias - 1. Engenharia - 7. Engenharia de Transportes
COMO PODE O GÁS NATURAL MELHORAR O TRANSPORTE FLUVIAL NA AMAZÔNIA?
Marcelo Schwob 1
Patricia Dresch 1
1. Divisão de Energia – DIEN, Instituto Nacional de Tecnologia - INT/MCT
INTRODUÇÃO:
O mercado mundial de consumo de gás natural para transporte marítimo e fluvial encontra-se em plena fase de desenvolvimento. Ao contrário do setor de transporte rodoviário, somente a partir do final dos anos 90 começaram a surgir experiências efetivas de emprego do gás natural no segmento em alguns países, mas já indicando grandes potencialidades de aplicação. Há mais de dez anos vêm sendo realizadas iniciativas pioneiras de desenvolvimento de motores a gás natural para embarcações de pequeno e médio porte. Na Coréia do Sul, por exemplo, uma associação da Hiundai com a Wartsila está pondo em prática a construção de 206 motores duais de grande porte para operação em 52 embarcações de transporte de GNL. No Brasil já existem empresas que projetam e fabricam embarcações de médio porte movidas por motores a gás natural que também explora serviços de operação de barcos tipo ferry boat de carga e passageiros de médio e grande porte. Tais embarcações operam com motores duais a gás natural e óleo diesel (80%/20%). Tudo indica que esta solução, favorecida por crescentes exigências ambientais, mostra uma forte tendência de inserção no transporte hidroviário na Amazônia.
METODOLOGIA:
O trabalho foi baseado em dados obtidos ao longo do Projeto Alternativas para o Uso do Gás Natural na Região Norte - INT/FINEP, tratando-se de um desdobramento da análise de seus resultados e aplicações. Neste trabalho buscou-se traçar um panorama regional do transporte hidroviário, com foco no trajeto Coari-Manaus, em função da elevada densidade de fluxo de cargas e passageiros. O estudo contou ainda com dados obtidos em empresas e instituições de Manaus durante o ano de 2008, através de entrevistas, palestras e outros eventos, além de levantamentos bibliográficos sobre a situação do transporte fluvial em Manaus e consultas à ferramenta virtual Google Maps para análise do mapa hidrográfico da região.
RESULTADOS:
Dados obtidos junto à Capitania dos Portos de Manaus mencionam a existência de mais de 70 mil embarcações na Amazônia, sendo mais de metade dessa frota operante na região de Manaus. Incluindo-se as travessias locais, o número médio anual de passageiros transportados é da ordem de 2,8 milhões. Cerca de 70% dos barcos de passageiros, em geral do tipo misto (passageiros e carga), apresentam capacidade superior a 100 passageiros, com 10% deles, para mais de 300 passageiros. O perfil de demanda de combustíveis para o setor de transporte fluvial se baseia no consumo de óleo diesel. Estudos indicam que a Amazônia tem um potencial de consumo de um milhão m3/dia de gás natural equivalente ao atual consumo de diesel e óleo combustível em transporte fluvial. Tomando-se como referência um fluxo de quatro viagens diárias, transportando em média 800 passageiros/dia, operando no percurso Coari – Manaus, com potência média efetiva de 150 kW por cerca de 15 h/dia, numa relação da ordem de 3,5 kWh/m³ (eficiência térmica de 34,2%) de gás natural, avaliou-se um consumo potencial de aproximadamente 5.200 m³/dia. Isso significa uma economia anual de R$ 3,3 milhões em custos com combustível, que poderia ser revertida em investimentos em modernização e aumento da segurança de operação.
CONCLUSÃO:
Dentre os principais benefícios do uso do gás natural nas embarcações fluviais, destaca-se a redução do custo operacional, através da substituição do óleo diesel, combustível de custo elevado na região, pelo gás natural. Essa economia possibilitaria às companhias de transporte um maior investimento em segurança e melhoria de desempenho das embarcações. Para a população, esse benefício se traduz em redução do custo das passagens, segurança e conforto, além das vantagens ambientais decorrentes da operação com um combustível mais limpo, com redução das emissões de carbono em quase 30%, eliminação das emissões de enxofre e particulados, além de redução considerável das emissões sonoras, trazendo benefícios à sua saúde. Há apenas alguns desafios de ordem logística, diante da necessidade de estabelecer postos de abastecimento em localidades estratégicas para propiciar deslocamentos fluviais com segurança de abastecimento. Por fim, vale ressaltar que a redução de consumo de óleo diesel beneficiaria o processo de redução da pauta de importações do país.
Palavras-chave: Transporte fluvial, Gás natural, Manaus.