61ª Reunião Anual da SBPC
E. Ciências Agrárias - 3. Recursos Florestais e Engenharia Florestal - 6. Recursos Florestais e Engenharia Florestal
ESTUDOS TECNOLÓGICOS DE ALTERNATIVAS DE USO DE RESÍDUOS MADEIREIROS
Gabriela Alves da Conceição Silva 1
Maria de Jesus Coutinho Varejão 1
Claudete Catanhede do Nascimento 2
1. Laboratório de Química da Madeira/CPPF/INPA
2. Laboratório de Engenharia e Artefatos/CPPF/INPA
INTRODUÇÃO:

A madeira, uma das matérias-primas mais utilizadas pela humanidade, está sob risco de extinção devido à exploração concentrada. Cerca de 70 % da madeira explorada se transforma em resíduos. O conhecimento das classes de substâncias químicas presentes nos extrativos de espécies madeireiras nativas, vem aumentar os dados quanto ao perfil tecnológico dessas espécies para futuros usos de seus resíduos para aplicações diversas. Os extrativos da madeira podem agir tanto como para proteção contra a degradação, como para adicionar-lhes características que podem interferir na sua decomposição e causar danos à saúde. Os depósitos minerais sob forma de cinzas, também apresentam elevada importância na trabalhabilidade da madeira, devido ao efeito abrasivo nas serras. A caracterização tecnológica e análise química dos resíduos de espécies madeireiras nativas possibilitam o agrupamento em usos finais como, brinquedos, instrumentos de sopro, utensílios domésticos e artigos decorativos. O aproveitamento desses recursos florestais é de fundamental importância para o desenvolvimento da região Amazônica, oferece vantagens econômicas e sociais ao possibilitarem a confecção de produtos com preço competitivo, e geração de empregos com o surgimento das atividades decorrentes da sua aplicação.

METODOLOGIA:

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Química da Madeira, na Coordenação de Produtos Florestais/CPPF, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA. Os resíduos de seis espécies madeireiras certificadas, provenientes de processamento mecânico, foram coletados na empresa Precious Wood Amazon, no pólo madeireiro de Itacoatiara, entre elas: Clarisia racemosa (guariuba), Dipteryx odorata (cumaru), Goupia glabra (cupiuba), Qualea paraensis (mandioqueira), Roupala montana (louro-faia), Scleronema micranthum (cardeiro). A partir dos extratos etanólico e aquoso das amostras, foram realizados testes para: heterosídeos cianogênicos, polifenóis totais e taninos, alcalóides, antocianinas, antocianidinas e flavonóides segundo a metodologia de Matos (1980). As determinações quantitativas dos teores de cinzas e de extrativos totais foram feitas de acordo com as Normas ASTM D1102-56, D1107-56 e D1110-56, respectivamente. A quantificação dos teores dos compostos fenólicos e taninos foi feita por meio de espectrofotometria na região do visível (λ= 390 a 790nm) usando uma curva de calibração, com soluções padrão de acácia negra comercial (Acacia mearnsii). Todas as determinações foram feitas em duplicata, com base na matéria seca.

RESULTADOS:

As espécies R. montana e G. glabra apresentaram os maiores teores de substâncias extraídas em etanol, 10,4%. A espécies Q. paraensis obteve menor teor de extrativos em água, 2,0%. Enquanto as espécies D. odorata e G. glabra obtiveram maior e menor teores de extrativos solúveis em água, 5,1 e 1,7%, respectivamente. As espécies Q. paraensis e D. odorata obtiveram maior e menor teores de cinzas, 1,8 e 0,3%, respectivamente. Das seis amostras estudadas 83% apresentaram-se negativas para alcalóides. Foi detectado alcalóide apenas na espécie C. racemosa. Para os compostos antocianinas, antocianidinas, leucoantocianidinas, heterosídeos cianogênicos e taninos hidrolizáveis, os testes foram negativos para 100% das amostras. As espécies C. racemosa, R. montana, D. odorata, S. micrathum, e Q. paraensis, mostraram positividade para testes de flavonas, flavonóis e xantonas.  Além desses compostos, a espécie madeireira R. montana também apresentou flavononóis e flavononas em sua composição química. As espécies: D. odorata, S. micranthum, Q. paraensis e G. glabra apresentaram coloração esverdeada característica de taninos catéquicos (condensados). A espécie G. glabra apresentou maiores teores de polifenóis totais e taninos, 63,62 e 18,7 ppm, respectivamente.

CONCLUSÃO:

A detecção de compostos cianogênicos, fenólicos, taninos, alcalóides, flavonóides, na parte lenhosa das espécies arbóreas, indica que as mesmas não são adequadas para a confecção de utensílios de cozinha e brinquedos, pois isto provavelmente causaria problemas de saúde. O teor mais elevado de polifenóis totais e taninos na espécie G. glabra, favorece sua indicação na produção de adesivos, chapas de fibra e aglomerados. O tipo de alcalóide detectado na espécie C. racemosa pode apresentar propriedades terapêuticas ou tóxicas ao ser humano. As espécies D. odorata, Q. paraensis, R. montana, e S. micranthum não apresentaram classes de substâncias constituídas de componentes considerados tóxicos e prejudiciais à saúde. Portanto,  os resíduos dessas espécies podem ser aproveitados como matéria-prima na fabricação de utensílios de cozinha e brinquedos.

Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Química da madeira, toxicidade, artefatos e tecnologia da madeira.