61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 6. Zoologia
SONS EMITIDOS PELO BOTO - VERMELHO (Inia geoffrensis) E TUCUXI (Sotalia fluviatilis) NO LAGO CATALÃO, AMAZÔNIA CENTRAL, BRASIL
Claryana Costa Araújo 1
Giovanna Alves Dantas 1
Vera Maria Ferreira da Silva 1
1. Laboratório de Mamíferos Aquáticos/ Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
INTRODUÇÃO:
Os sons produzidos por cetáceos são de grande importância para comunicação bem como para o reconhecimento de indivíduos da mesma espécie. Alguns estudos têm descrito os sons produzidos pelos golfinhos de rio da América do sul, Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis conhecidos como boto-vermelho e tucuxi, respectivamente. Essas duas espécies de golfinhos coexistem em grande parte de sua distribuição. Enquanto I. geoffrensis se distribui em lagos e rios das bacias Amazônica, do Orinoco e Araguaia-Tocantins, S. fluviatilis se restringe à área de drenagem do rio Amazonas. Os botos-vermelhos produzem vários tipos de sons do tipo clicks já descritos, mas ainda não existe um consenso quanto à emissão de assovios (whistles) por essa espécie. Para Sotalia fluviatilis a maioria dos estudos descreve os assovios e clicks de alta freqüência, mas sons de baixa freqüência foram relatados somente para a espécie marinha Sotalia guianensis. Este estudo teve como objetivo caracterizar os sons emitidos pelas duas espécies de golfinhos de rio no Lago Catalão (3º 09' 47"S e 059º 54' 29" W) situado próximo à confluência dos rios Negro e Solimões a aproximadamente 3 km da cidade de Manaus, Amazônia Central (Brasil).
METODOLOGIA:
As saídas de campo foram realizadas duas vezes por dia, no início da manhã (07:30h às 9:30h) e no final da tarde (16:30h às 18:00h) do dia 6 a 10 de agosto de 2008. As coletas de dados foram realizadas a partir de um barco de alumínio de 8 metros de comprimento (“voadeira”) com motor de popa de 15 Hp. Foi utilizado um gravador analógico Sony TC-DM5, fitas K-7 de 60 minutos e um hidrofone High Tech HTI-94-SSQ que, durante as gravações, era mantido a uma profundidade entre 3 e 5 metros. Ao chegar à área escolhida, o motor do barco era desligado e o hidrofone colocado na água. As gravações foram feitas continuamente desde o momento em que se chegava à área até o momento em que os animais não eram mais avistados na área de estudo. As fitas foram digitalizadas a uma taxa de amostragem de 44.100 Hz com o auxílio de uma placa de som (Creative Sound Blaster-24Bit) e analisadas com a utilização do Software Raven © (versão 1.3 2003). Após digitalização, os sons foram selecionados e contabilizados. Para cada espécie as médias de freqüências (dominante, máxima e mínima) e duração do sinal foram calculadas para cada tipo de som.
RESULTADOS:
Foram obtidas aproximadamente seis horas de gravação em cinco dias de coleta com registro de sons em 86,3% do tempo. Das 263 vocalizações identificadas, 205 foram atribuídas a espécie Inia geoffrensis e 58 vocalizações a Sotalia fluviatilis. Calculando-se a taxa de vocalização das duas espécies pelo tempo em que elas estiveram presentes, encontramos para I. geoffrensis 0.66 vocalizações/minuto. Para S. fluviatilis, por sua vez, a taxa de vocalização encontrada foi de 0.32 vocalizações/minuto. Estruturalmente, as vocalizações de I.geoffrensis foram bastante diversificadas em relação ao tempo de duração ( = 0,34s 1,59), à freqüência e à quantidade de harmônicos. A quantidade de notas por vocalização também variou bastante, oscilando entre 1 e 9 ( = 2,32 1,59). Das 205 vocalizações analisadas, 116 continham apenas uma nota. A freqüência mínima foi em média de 1,304 kHz ( 0,97) e a máxima de 9,608 kHz ( 3,49), já a freqüência dominante teve uma média de 2,30 kHz ( 1,40). S. fluviatilis esteve presente em 58% do tempo de gravação analisado (182 min). As vocalizações mais comuns desses animais foram os assovios, uniformemente tonais (sem harmônicos) e de freqüência modulada.
CONCLUSÃO:
Os resultados encontrados mostram que as vocalizações de botos-vermelhos e tucuxis são bastante distintas diferenciando-se principalmente nos valores médios das freqüências. De modo geral, as vocalizações de botos apresentam freqüências dominantes em torno de 3 kHz e as de tucuxis em torno de 10 kHz. Os tucuxis, assim como outros membros da família Delphinidae, apresentam sons típicos denominados assovios (whistles). Esses sons possuem freqüências altas que variam de 7 a 15 kHz. Nesse estudo verificamos que os assovios tiveram uma freqüência considerada ascendente. A taxa de vocalização dos tucuxis foi bem mais baixa do que a de botos-vermellhos. No entanto, isso provavelmente ocorreu porque houve uma menor amostragem dessa espécie, já que ela esteve presente em 58% do período amostral enquanto o boto-vermelho esteve presente em 100% desse período. Para o boto-vermelho, os sons mais comumente registrados assemelhavam-se a “latidos” e podiam conter várias notas.
Palavras-chave: vocalização, golfinhos de água-doce, comunicação.