61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional
PROJETO TRANSAMAZÔNICA: UMA FERIDA NA SELVA INTOCADA
Maurício Neubson Medeiros Gonçalves 1, 2
Rosiane Amorim de Castro 1
Marcos Sousa da Silva 1
1. Universidade Federal do Pará
2. Universidade Aberta do Brasil
INTRODUÇÃO:

A Transamazônica, comparada apenas, em magnitude, com a Estrada Real do Império Persa, foi iniciada em 1970, na Ditadura Militar; tem 2600 km de extensão, indo da Paraíba até o Amazonas. Projetada para ser uma “rodovia de integração nacional” pelo General Médici, encontra-se hoje, inacabada e em abandono. Este trabalho foi elaborado com base na Geografia com pesquisas realizadas em Altamira, capital da Transamazônica. O título do trabalho faz jus à imagem de satélite sobre a Amazônia em que a estrada é vista como uma cicatriz enorme em meio à imensidão da floresta. A rodovia é situada numa região com características histórico-geográficas e sócio-ambientais e econômicas peculiares.  Objetiva-se descrever as características, identificar e compreender atores da região; investigar os efeitos do seu projeto e outros subseqüentes e refletir sobre um plano endógeno de desenvolvimento sustentável. Neste contexto, considera-se o trabalho relevante para incentivar o interesse de pesquisas e refletir sobre a realidade e o resultado dos Grandes Projetos Faraônicos na Amazônia, em meio a esta crise ambiental. Em virtude destas preocupações produziu-se acerca do problema: “Qual o resultado e conseqüência da maior obra pública já construída na história da civilização brasileira?”.

METODOLOGIA:

As Metodologias utilizadas foram a pesquisa bibliográfica nas obras de Ariovaldo Umbelino de Oliveira e pesquisadores da região e da UFPA; pesquisa participativa em Movimentos Sociais como o MDTX (Movimento de Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu), FVVP (Fundação Viver, Produzir e Preservar), Pastoral da Terra). Também foi realizada, uma abordagem crítica, com base em entrevistas com moradores de Altamira, migrantes nordestinos e sulistas. A pesquisa de campo etnográfico foi feita na Casa do Índio e coleta de dados na FUNAI e em algumas famílias tribais da cidade (Xipais, Curuaias, Jurunas). Foi elaborado um mapeamento de atividades econômicas da região, como a Indústria Madeireira, a cacauicultura e a agro-pecuária ligada ao Agro-negócio. Também, no aspecto ambiental, observou-se a ligação entre a rodovia e o rio Xingu, em relação a CHE Belo Monte. Estudou-se a devastação florestal, em relação à construções de vicinais e travessões. No setor urbano e rural aborda-se o início das cidades criadas e desenvolvidas em virtude do projeto de Uruará até Pacajá e periferização das mesmas, e o processo de colonização, com base nos dados do INCRA. Aborda-se o papel do Estado neste território, e sua atuação e atividades na região, como Eletronorte, INCRA, IBAMA, FUNAI.

RESULTADOS:

Os resultados mostraram-se inesperados. A Transamazônica nasceu do PIN da Ditadura Militar, sob o lema “integrar para não entregar”, com objetivo de colonização e reforma agrária. Vieram para cá cerca 6.000 colonos, entre eles nordestinos e sulistas. Estima-se que foram gastos mais de 12 bilhões de dólares só na abertura. O projeto inclui abertura de 10 km de vicinais, chamadas aqui de travessões. Os povos indígenas foram dizimados e/ou obrigadas a morarem nas cidades. A abertura em 1970 foi historicamente, o início do grande devastação, da Amazônia Legal, e possibilitou a explosão demográfica, a intensificação de trabalho nas terras que até hoje não têm documentação, para agricultura e pecuária extensiva. Gradativamente a floresta, com milhões de espécies da fauna e flora é substituída por pasto e gado. O trecho pesquisado é dos mais críticos; não têm asfalto, os transportes e passam dias atolados na lama; chega-se a faltar alimento nos supermercados por conta do atraso das mercadorias. Nos meses estiados, sem chuva, é a poeira que “tapa” tudo, causando acidentes de trânsito e prejudicando a saúde e qualidade de vida. É uma das regiões onde se concentram maior foco de trabalho escravo e mortes por questões agrárias. A rodovia ficou conhecida por fim como “Transarmagura”.

CONCLUSÃO:

Sabemos que a Amazônia hoje se encontra como pauta em discussões de todo o mundo. Vemos que as multinacionais e o capital estrangeiro têm historicamente muito interesse na região. Vimos que os grandes projetos do governo brasileiro implantados para o desenvolvimento regional foram além dos seus limites e acabaram gerando um prejuízo incalculável para a população e o meio ambiente. A Transamazônica é um exemplo disso, pois depois de 40 anos nada mais é do que o maior fracasso da política pública do Brasil, sob o lema “Terra sem homens para homens sem terra”. No marco inaugural da rodovia lê-se a frase “Nestas margens do Xingu, em plena selva amazônica, o senhor  Presidente da República dá início à construção da Transamazônica, numa arrancada histórica para a conquista e colonização deste gigantesco mundo verde”; foi o que realmente aconteceu, propiciando o abandono e sofrimento das populações locais. È um ataque à soberania do que se conhece hoje como o território mais rico ecológica e culturalmente no mundo. Concluiu-se que o sonho do desenvolvimento sustentável acha-se inibido por aqui, até que se tome consciência dos males contra os recursos naturais e humanos que aqui existem e dos reais objetivos de outros projetos como a Barragens Faraônicas nos rios majestosos.  

Instituição de Fomento: Universidade Federal do Pará
Palavras-chave: Trasamazônica , Grandes Projetos, Crise Sócio-Ambientl.