O Ensino de Ciências Naturais tem papel fundamental no desenvolvimento do espírito científico do aluno e de uma postura reflexiva, crítica colaborando para a construção da autonomia de pensamento e ação.  Porém, o modo como a Ciência tem sido ensinada na escola apresenta algumas deficiências que dificultam a aprendizagem. Na maioria das vezes limita-se à mera transmissão de conteúdos teóricos reduzindo e/ou impedindo a compreensão real dos fatos e fenômenos. Entre as causas dessas deficiências situam-se a ausência de laboratórios de Ciências e carência de recursos didático-pedagógicos, sendo essas as justificativas predominantes para que as aulas práticas sejam desvinculadas do processo de ensino. A partir do cenário descrito, este trabalho visou estabelecer um diagnóstico do Ensino de Ciências no município de Parintins/AM e, assim, elaborar uma proposta de ensino para professores, construída a partir do levantamento das percepções que professores/alunos/gestores possuem acerca do Ensino de Ciências. Portanto, o desenvolvimento da pesquisa foi relevante por se entender que a melhoria da prática pedagógica deve ocorrer quando instrumentos didáticos tradicionais forem substituídos por instrumentos inovadores, dinâmicos e problematizadores que suscitem a aprendizagem significativa.

A pesquisa de campo foi realizada em 83% das escolas estaduais que atuam no Ensino Fundamental de 6^o a 9º ano no município de Parintins/AM. O público alvo foram os gestores, professores e alunos do Ensino Fundamental de 6^o a 9º ano. Foram realizadas entrevistas padronizadas através da aplicação de um formulário contendo perguntas abertas, semi-abertas e fechadas. Estas foram realizadas com 96,7% dos professores que ministram aulas de Ciências Naturais, todos os gestores e 20% dos alunos de 6° a 9° ano de 60% das escolas em estudo, perfazendo um total de 432 (quatrocentos e trinta e dois) alunos entrevistados. Os dados coletados foram tabulados e analisados utilizando a abordagem quantitativa e qualitativa pela existência de dados que necessitavam quantificação através de técnicas estatísticas e dados que deveriam ser interpretados para conclusão do problema em questão. A pesquisa analisou o histórico e a estrutura física das escolas; o perfil do professor de Ciências; metodologias de ensino e instrumentos de avaliação da aprendizagem; a percepção dos discentes sobre o Ensino de Ciências. Durante as entrevistas buscou-se um diálogo informal com os entrevistados e observaram-se elementos que certamente não foram ditos nas entrevistas.

Resultados apontam que a maioria dos docentes de Ciências Naturais (62%) possui formação inicial em Ciências Naturais. Quanto às metodologias de ensino adotadas percebeu-se que a aula expositiva, ainda é a modalidade didática mais utilizada pelos docentes. Apesar de 87% destes afirmarem que realizam atividades experimentais estas não são feitas com a mesma freqüência que a aula expositiva. Instrumentos de avaliação tradicionais ainda são aplicados, como testes objetivos (aplicados por 59% dos entrevistados). Percebeu-se que os docentes têm diferentes visões sobre as atividades práticas, desde concepções tradicionais até concepções construtivistas. 51% dos discentes entrevistados esclareceram que gostariam que fosse incorporado às aulas recursos das novas tecnologias da informação e comunicação. Segundo 51% dos alunos raramente ocorrem atividades experimentais, 29% dizem que elas ocorrem uma vez por semana, 15% que nunca participaram de aulas práticas. Assim, percebeu-se que as perspectivas dos professores se entrelaçam às expectativas de seus alunos quando os docentes reclamam da carência de recursos didáticos e infra-estrutura física escolar ao mesmo tempo em que, seus alunos criticam a principal modalidade de ensino aplicada: aula expositiva.

Durante a pesquisa foi possível detectar obstáculos, como a prática de ensino tradicional ainda presente nas metodologias de ensino e avaliação da aprendizagem, docentes de áreas não relacionadas com Ciências Naturais ministrando Ensino de Ciências e carência na infra-estrutura física e materiais didáticos nas escolas, que dificultam o desenvolvimento do Ensino de Ciências e a construção de conhecimentos pelo aluno. Essas constatações sugerem a necessidade de mudanças na prática educacional através da construção e/ou implementação no cotidiano escolar de recursos de ensino adequados e contextualizados que possam promover um melhor desempenho e aprendizagem dos alunos, principalmente com a incorporação de atividades práticas que coloquem os estudantes em contato direto com o objeto do conhecimento e, tornando-os centro da ação pedagógica. Todavia, tem-se consciência de que as mudanças no ensino e aprendizagem em Ciências Naturais só acontecerão, efetivamente, quando houver o envolvimento dos principais sujeitos do processo educativo: educadores, educando, gestores e a comunidade, sem contar na necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que promovam a área de Ensino de Ciências.