61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
DEMOCRATIZAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA E RENDIMENTO ESCOLAR DISCENTE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Fernanda Guarany Mendonça Leite 1
1. Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, UnED
INTRODUÇÃO:

O “fracasso” escolar no Brasil é um fenômeno vinculado à própria história da escola e da democratização do ensino. Em sua origem, a educação escolar tinha por objetivo imergir no processo de transmissão cultural os membros da “cultura legítima”, representados apenas pelas elites. Portanto, a instituição escolar veio se organizando de forma a responder aos anseios da clientela à qual atendia naquele contexto. Com a democratização da escola pública no Brasil, defrontamo-nos com o desafio de incluir todos os segmentos sociais e viabilizar seu bom rendimento escolar, o que não se deu de forma exitosa. Considerando a necessidade de ampliar o debate sobre a democratização da escola e suas implicações sobre o rendimento escolar, desenvolvemos esta pesquisa. O objetivo geral deste trabalho foi analisar a democratização da escola pública e sua repercussão sobre o rendimento escolar discente, considerando os desafios e as perspectivas desse processo. Os resultados obtidos apontam a necessidade de se repensar a escola para que o acesso a ela possa promover a permanência institucional discente, por meio de experiências exitosas de sucesso escolar.

METODOLOGIA:

A metodologia utilizada fundamentou-se nos postulados da pesquisa qualitativa, opção justificada pelas características do ‘objeto’ de análise: sujeitos reais em situações contextuais de interação social, em ambientes privilegiados de observação. Baseamo-nos em princípios e concepções da sociologia compreensiva, opção metodológica de análise derivada da fenomenologia, para orientar as diversas etapas do trabalho. Justificamos essa abordagem metodológica a partir de estudos que apontam a sociologia compreensiva como um instrumento capaz de atingir uma multiplicidade de significados que fazem parte de um universo cultural mais amplo. O trabalho de campo teve duração de dez meses e transcorreu em uma escola pública da rede municipal de Recife-PE, na qual foram desenvolvidas atividades exploratórias do ambiente, observação sistemática, diário de campo, análise documental na escola, aplicação de questionário, entrevistas semi-estruturadas com coordenadores, professores, alunos e pais, realização, transcrição e análise das entrevistas. Com os dados obtidos, construímos o relatório em que foi atestada a relação entre a democratização da escola pública observada e os efeitos das práticas e culturas escolares sobre o rendimento escolar discente a partir de fatores intra e extraescolares.

RESULTADOS:

Quanto à situação da rede escolar no Recife, podemos apontar grandes avanços, especialmente no que se refere à democratização do acesso. Dados do INEP extraídos do Censo Escolar publicam a 282.305 matrículas no Ensino Fundamental na cidade do Recife, das quais 211.121 na rede pública de ensino, contra 71.184 matrículas na rede privada. Com base nesses dados, podemos conferir a democratização do acesso à educação escolar pública no município onde a pesquisa foi desenvolvida. Sobre as dificuldades de aprendizagem de alunos e alunas, que repercutiram no rendimento escolar, os professores as atribuíram a fatores tais como: falta de colaboração dos pais, problemas discentes de ordem psicológica, orgânica ou comportamental, configurando a patologização do “fracasso”. Os pais apontaram a dificuldade de os filhos fazerem suas atividades escolares e de casa com autonomia, a convocação pela escola apenas para reclamações e a falta de competência de leitura. Diante dos desafios, as perspectivas apontadas pela pesquisa foram indicativas de um caminho a ser construído pelo trabalho coletivo dos atores da comunidade escolar.

CONCLUSÃO:

A democratização da escola permitiu às pessoas de diferentes classes sociais, condições sócio-econômicas e culturas o acesso à escolarização. Embora ainda não sejam poucos, em números absolutos, os excluídos da escola, estamos mais próximos de atingir a universalização do acesso. Os grandes problemas a serem solucionados agora são a permanência na escola e a qualidade do ensino. A cultura da escola é um aspecto importante da permanência e da qualidade e deve ser focalizar o “sucesso” discente, independente da classe social de origem. A comunidade acadêmica poderia aprofundar suas contribuições para a pesquisa de outros vieses do processo de “fracasso” escolar. Há uma infinidade de trabalhos acerca da reprovação, mas, com o advento da organização do tempo escolar por ciclos de aprendizagem, as estatísticas indicam a queda dos índices de reprovação, “disfarçando” a perpetuação do “fracasso” escolar. Consideramos justamente esta a nossa contribuição para o debate. Ao analisarmos desafios e perspectivas diante da democratização do acesso a escola, podemos contribuir para um olhar mais aprofundado diante dos resultados obtidos pelos alunos e sugerir caminhos para que a instituição escolar se torne promotora de experiências de bom rendimento escolar.

Palavras-chave: democratização da escola, rendimento escolar discente, qualidade do ensino.