61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
O TRABALHO COM AUTOMAÇÃO EM EMPRESAS JAPONESAS NO PÓLO INDUSTRIAL DE MANAUS:ANÁLISE PSICODINÂMICA
Rosângela Dutra de Moraes 1
Hilliane Santiago dos Santos 1
1. Departamento de Psicologia /UFAM
INTRODUÇÃO:
O contexto atual do trabalho é marcado por crescente complexidade, maiores exigências ao trabalhador e incidência de riscos psicossociais decorrentes da crise, o que significa agravamento dos riscos à saúde. O Pólo Industrial de Manaus - PIM concentra o maior contingente de trabalhadores industriais da Amazônia, totalizando aproximadamente cem mil pessoas. Desde a reestruturação produtiva dos anos 90 ocorreu a intensificação da automação, acompanhada do discurso de redução do desgaste e do sofrimento do trabalho no PIM. Todavia, há carência de estudos empíricos que abordem a subjetividade do operador face ao trabalho com automação. Essa pesquisa teve como objetivo analisar a organização de trabalho com automação e seus desdobramentos sobre a saúde dos operadores e das operadoras de máquina de inserção automática, focalizando o prazer-sofrimento e seus reflexos sobre o processo de saúde-adoecimento, categorias teóricas fundamentais no referencial teórico-metodológico da psicodinâmica do trabalho, segundo Dejours.
METODOLOGIA:
Elegeu-se a abordagem qualitativa e, no interior da mesma, o paradigma interpretativista, em consonância com a fundamentação teórico-metodológica de Dejours. A pesquisa empírica foi realizada na área de inserção automática em duas empresas de origem japonesa, de grande porte, do segmento eletro-eletrônico do PIM. Participaram como sujeitos 21 operadores de máquinas (dez de uma e onze de outra empresa). A principal fonte de dados foi a fala dos sujeitos, que responderam a uma entrevista individual semi-estruturada nas dependências da empresa. O critério de escolha dos informantes foi a máxima diversidade possível quanto ao tempo de serviço e ao turno de trabalho. Foi mantida a proporcionalidade de gênero entre os participantes. Para a análise de dados foi realizada uma articulação da sistemática de análise da Grounded Theory à base psicodinâmica, como opção de técnica qualitativa adequada a entrevistas individuais.
RESULTADOS:
A preocupação com a “qualidade” se destacou como categoria central, mostrando-se presente em todas as esferas da organização de trabalho e modulando a vivência de prazer-sofrimento: uma das principais fontes de prazer, reiteradamente mencionada, consiste em realizar o trabalho sem erros; em contrapartida, o medo de errar é uma das principais fontes de sofrimento e causa permanente de tensão. O prazer provém da identificação com a tarefa de operar máquinas, de alta tecnologia, sem cometer erros; aprender mais e dominar a “tecnologia de ponta”. O sofrimento decorre da sobrecarga de trabalho, mal remunerado, pouco reconhecido e realizado sob intensa pressão por “qualidade”. Para suportar o sofrimento, os trabalhadores constroem estratégias coletivas de defesa: usam gracejos direcionados aos colegas que cometem erros, interpretados como recurso para reduzir o sofrimento originário do medo de falhar. O reconhecimento, que daria sentido ao sofrimento, é pouco presente: menos de metade dos operadores se considera devidamente reconhecido por seu trabalho; os baixos salários são mencionados como evidência da falta de reconhecimento. Em uma das empresas também falta o reconhecimento simbólico, agravando o sofrimento.
CONCLUSÃO:
O predomínio do sofrimento sobre o prazer no trabalho conduz a um desequilíbrio que aumenta o risco de adoecimento (psíquico / somático). Para suportar o sofrimento e se manter no plano da “normalidade”, os trabalhadores utilizam de forma exacerbada as estratégias defensivas, o que conduz à sua patologização, resultando na manifestação das novas patologias sociais do trabalho. Foi identificada a patologia social da sobrecarga, relacionada à carga excessiva de trabalho que é imposta aos operadores e às operadoras, pois à aquisição de máquinas no PIM corresponde a redução de pessoas ao mínimo indispensável. Além disso, a falta de reconhecimento (para a maior parte dos operadores), bloqueia a transformação do sofrimento e dificulta a conquista do prazer no trabalho, importante para os sujeitos e desejável para as empresas, visto que o prazer no trabalho promove a saúde, renova o entusiasmo e o engajamento subjetivo. Conclui-se que o sofrimento no trabalho nas empresas japonesas eletroeletrônicas de grande porte do PIM, está sendo intensificado a partir da automação, porque essa está inserida no contexto de super-exploração do trabalho, integrante do modo de acumulação flexível do capital.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: Trabalho com automação, Psicodinâmica do trabalho, Trabalho no Pólo Industrial de Manaus.