61ª Reunião Anual da SBPC
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais
ATIVIDADE LEISHMANICIDA DA Cipura Paludosa Aubl.
Elise Marques Freire Cunha 1
Ana Cristina Feitosa Souza 2
Mariangela Soares de Azevedo 2, 3, 4
Pedro di Tárique Barreto Crispim 2, 4
Izaltina Silva Jardim 5
Denny Vitor Barbosa Ramos 2, 4
1. Universidade de São Paulo (USP)
2. Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
3. Professora Dr. (orientadora)
4. Laboratório de Combustível de Rondônia (LABCOM)
5. Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais em Rondônia (Ipepatro)
INTRODUÇÃO:
A leishmaniose é uma a doença causada por  protozoários do gênero Leishmania, transmitida ao homem através da picada de mosquitos flebótomos, também chamados de mosquito-palha ou birigui. É uma doença endêmica, encontrada em regiões tropicais e subtropicais que acomete as populações mais pobres do mundo. O controle da leishmania ainda é um problema, pois os agentes quimioterápicos disponíveis para o controle são administrados por um período prolongado, possuem eficácia variável e apresentam alta toxicidade. Tais características indesejáveis aliadas as formas resistentes do parasita, têm aumentado a necessidade de fármacos mais eficazes, com tratamento de curta duração e que apresentem menor toxicidade. Produtos naturais vêm sendo utilizados, cada vez mais, em quimioterapia antiprotozoário. Cipura paludosa Aubl. (IRIDACEAE) é popularmente conhecida como alho da campina, coqueirinho e em Rondônia é conhecida como batatinha roxa. Seus bulbos são utilizados pela população tradicional ribeirinha, na forma de chá no combate a doenças renais, diarréia, inflamações e no tratamento contra ameba. O objetivo deste trabalho é avaliar ação do extrato etanólico, dos eluatos de EtOAc e CHCl3 e substância isolada de Cipura paludosa frente às formas promastigotas e amastigotas de L. amazonensis.
METODOLOGIA:
Os parasitas utilizados neste trabalho são promastigotas de Leishmania amazonensis cepa PH8. As promastigotas criopreservadas foram degeladas rapidamente em banho a 37ºC, inoculadas em meio de cultura e mantidas a 23 ºC em estufa BOD. Após um periodo foram inoculadas em camundongos para recuperação da infectividade, e após 2 meses isoladas e transferida para o meio de cultura (RPMI 1640) utilizado para a propagação in vitro das promastigotas, suplementado com 10% de soro fetal bovino previamente inativado a 56 ºC por 30 min. Para avaliar o efeito leishmanicida do extrato etanólico, eluatos EtOAc e CHCl3, naftoquinonas isoladas denominada de CPBC-1 de C. paludosa sobre o crescimento de formas promastigotas de L. amazonensis in vitro, foram realizados ensaios em triplicata utilizando diferentes concentrações destas frações. Realizou-se análise citotóxica frente aos macrófagos peritoneais murinos, coletados da cavidade peritoneal dos camundongos BALB/c após 96h da injeção de tioglicolato. Uma concentração de 5x105 células/mL foram incubadas por 24h com diferentes concentrações das frações de C. paludosa. A porcentagem de macrófagos foi avaliada pelo teste de exclusão com azul de Tripan. O índice de viabilidade foi determinado através da contagem de 100 células ao microscópio óptico.
RESULTADOS:
Os efeitos avaliados para viabilidade das promastigotas na presença do extrato etanólico nas concentrações de 100 μg/mL promoveu a morte de 100% dos parasitas, 50 μg/mL aproximadamente 76%, já nas concentrações de 25 e 12 μg/mL a porcentagem de inibição não variou muito, o seu IC50 foi de 9,12 μg/mL. Para o eluato EtOAc as concentrações de 100, 50, 25 e 12 μg/mL promoveram a morte de 100% dos parasitas. As concentrações de 6 e 3 μg/mL apresentaram respectivamente 97 e 83,37% de inibição. Já as concentrações de 1 e 5.10-1μg/mL apresentaram 66,1 e 42,69% de inibição no crescimento das promastigotas, esta fração apresentou o IC50=0,84 μg/mL. Para o eluato de CHCl3 as concentrações acima de 5μg/mL promoveram a morte de 100% dos parasitas. Já as concentrações de 1 e 5.10-1 μg/mL apresentaram uma inibição de 67,3% e 52% respectivamente, apresentando o IC50=0,31 μg/mL. O efeito da CPBC-1 para a concentração de 5 μg/mL apresentou a inibição de 85%, já as concentrações de 2,5 e 1 μg/mL resultaram em concentração inibitória de 78 e 53,9% respectivamente, o seu IC50 e de 0,92 μg/mL. As frações testadas não apresentaram citotoxicidade sobre macrófagos peritoneais, demonstrando que as drogas não afetaram significativamente a viabilidade celular nem a morfologia das células hospedeiras.
CONCLUSÃO:
A avaliação da atividade leishmanicida in vitro de extratos de plantas utilizadas pela população de maneira empírica é uma prática comum, porém apenas uma pequena porcentagem desses extratos realmente apresenta atividade antiparasitária. Não há referência na literatura quanto ao uso de extratos de plantas da família Iridaceae como agentes leishmanicidas, sendo este um trabalho pioneiro para esta espécie. Para os ensaios utilizando o extrato etanólico, observou-se que a concentração de 100 μg/mL foi suficiente para promover a morte de 100% dos parasitas apresentando o IC50 de 9,12 μg/mL. A inibição dos eluatos extraídos dos bulbos de C. paludosa contra formas promastigotas de L. amazonensis demonstra que o aprofundamento do estudo da atividade antiparasitária dessa espécie é pertinente, os eluatos CHCl3 e EtOAc  apresentaram o índice de inibição médio de 50% respectivo 0,31 e 0,84 μg/mL. A substância isolada CPBC-1 exibe propriedades leishmanicidas em uma concentração de apenas 6,765μM, sugerindo que tratamentos alternativos utilizando esta droga podem ser eficientes no controle da leishmaniose, já que as frações testadas não apresentaram citotoxicidade, além da substância isolada possuir um potencial para novas pesquisas farmacológicas.
Instituição de Fomento: Laboratório de Combustível (LABCOM), PIBIC/CNPq
Palavras-chave: cipura paludosa Aubl., eluatos e CPBC-1, atividade leishmanicida.