O trabalho em foco é resultado do relatório de pesquisa desenvolvido na disciplina “Análise Prospectiva do Território” ministrada pelos professores Hervé Théry (USP) e Eduardo Paulon Girardi (UNESP) no curso de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Amazonas. Teve como objetivo apresentar orientações para o uso do software de cartomática Philcarto, desenvolvido pelo geógrafo Philippe Waniez. As três características importantes em um programa de cartomática e que atribuem qualidade ao Philcarto são: a) total liberdade e versatilidade na elaboração/adaptação das bases cartográficas e de dados; b) diversidade de funções de mapeamento e análise dos dados; c) qualidade do mapa final, exportado em formato vetorial (GIRARDI, 2007). Com vista em avaliar empiricamente o emprego desta ferramenta, realizou-se esta pesquisa que consistiu na elaboração de bancos de dados estatísticos e na construção e análise de mapas temáticos sobre a dinâmica espacial da região Norte do Brasil.

A composição de um mapa no programa Philcarto requer o cruzamento de uma base cartográfica com uma base de dados. Construiu-se duas bases de dados em planilha Excel no formato “texto separado por tabulação” com dados do SIDRA (Sistema IBGE de Recuperação Automática) e do Anuário Estatístico do Transporte Aéreo da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil). A base cartográfica da região Norte com a divisão dos municípios foi delimitada a partir da base cartográfica do Brasil obtida no site de Phillipe Wanier. Utilizando um software de edição de imagem (Adobe Ilustrator 6.0), fez-se o recorte dos estados brasileiros que compõem a região Norte, além do acréscimo de duas camadas de tipo .L (linhas) para representar a malha rodoviária e os principais rios da região. Foi realizado o cruzamento das bases e a construção dos mapas no Philcarto, utilizando as diversas ferramentas disponíveis definidas apropriadamente de acordo com as seguintes variáveis: distribuição da população em 1970 e em 2000; tráfego aéreo interurbano em 2007; porcentagem do PIB em 2000; densidade demográfica em 2000; taxa de urbanização em 2000; produção na extração de madeira em tora, de castanha-do-Pará, de borracha e de açaí no ano de 2007.

Foram construídos dez mapas distribuídos entre os temas: dinâmica populacional, transporte aéreo e atividade econômica. Nos mapas referentes à dinâmica populacional, nota-se o processo de urbanização da região, além dos padrões de ocupação. Antes da década de 1970, era um padrão predominantemente ribeirinho conjugado, décadas depois, com a ocupação de grandes rodovias construídas a partir de então. Além disso, constata-se a primazia das cidades de Manaus e Belém, cuja relevância reflete na configuração da rede de transporte aéreo, uma vez que as duas capitais detêm o maior volume de ligações na região. Cidades como Santarém-PA, Altamira-PA e Coari-AM possuem um relativo destaque neste modal. Os mapas referentes à economia da região demonstram o caráter seletivo das atividades. Optou-se por considerar o extrativismo, por sua relevância no contexto regional. A produção de madeira na região Norte permite observar a concentração dessa atividade no sul e nordeste do Pará e no norte de Rondônia. Por outro lado, o Amazonas é o maior produtor de castanha-do-Pará, produzindo, segundo o IBGE, 27.038 toneladas ao ano. Os estados do Acre e Amazonas se destacam na produção gumífera, enquanto a produção de açaí revela uma concentração acentuada na região nordeste do estado do Pará.

As ferramentas utilizadas na elaboração dos mapas foram úteis na análise de diversas variáveis. Os temas escolhidos possibilitaram uma apropriada interpretação do contexto estudado, uma vez que deu visibilidade a alguns de seus aspectos mais relevantes. Por fim, este trabalho nos fez relembrar a importância da cartografia como instrumento de análise da realidade geográfica. Neste sentido, o instrumento avaliado pode contribuir na leitura e compreensão do espaço geográfico, além de oferecer subsídios para os mais diversos profissionais que fazem uso da cartografia, como professores, geógrafos, economistas, entre outros.