61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 8. Botânica
Compreensão acerca do mecanismo de transmissão da malária na área de influência dos rios Solimões e Madeira, estado do Amazonas.
Ari de Freitas Hidalgo 1
1. Universidade Federal do Amazonas
INTRODUÇÃO:

A malária é uma das doenças mais preocupantes na Amazônia, implicando em diminuição de rendimento no trabalho e nas atividades escolares, necessidade de deslocamento para diagnosticar e tratar os pacientes e, em casos da malária maligna, até a morte, principalmente de crianças e adultos mal nutridos.

O clima tropical, com alta incidência luminosa e o calor úmido, favorece a proliferação das larvas dos mosquitos vetores; o qual necessita de água com pH próximo da neutralidade e nos cursos d’água da região o pH é ácido (Ferraz, 1994). Também é necessária iluminação no ambiente aquático para que as larvas proliferem e, na condição de floresta densa, isto raramente ocorre. Logo, é necessária alguma alteração no equilíbrio da floresta para que estes fatores se somem, resultando no aparecimento da doença.

A malária é cada vez mais de difícil controle. O mosquito (Anopheles darlingi, principalmente) desenvolveu resistência genética e comportamental aos inseticidas e o parasita causador da forma mais grave de malária (Plasmodium falciparum), vem apresentando resistência às drogas usadas no tratamento (Phillipson & Wright, 1991; Franssen et al., 1997; Milliken, 1997a,b).

Na Amazônia aliada ao conhecimento sobre plantas e tratamentos sobre a doença, estão as explicações sobre causa e o mecanismo de transmissão da doença, as quais, em geral, contrariam as orientações dos órgãos oficiais de saúde, dificultando o controle da doença.
METODOLOGIA:

O trabalho foi desenvolvido no Estado do Amazonas, ao longo da área de influência dos Rios Solimões e Madeira e região de Manaus, nos municípios de Atalaia do Norte, Benjamin Constant, Tefé, Coari, Careiro, Rio Preto da Eva e Presidente Figueiredo, Nova Olinda do Norte, Manicoré e Humaitá. Os municípios foram selecionados de acordo com a ocorrência de malária, com base no Índice Parasitário Anual (IPA) de 1999, fornecido pela Coordenadoria do Programa de Controle Integrado de Malária, do Instituto de Medicina Tropical do Amazonas (PCIM/IMT-AM). Todos os municípios apresentam alto risco para malária (IPA > 50).

Foram entrevistados entre nove e treze informantes por município, num total de 71 pessoas. A seleção dos informantes foi feita a partir de indicações das Pastorais da Saúde ou da Criança, Secretarias Municipais de Saúde, Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e extensionistas do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (IDAM), ou ainda pela comunidade local, independente da idade, do sexo e da atividade. Todos os informantes tiveram experiência com o uso de plantas para o tratamento da malária, seja por ter adquirido a doença ou por ter tratado de alguém doente.

Foi aplicado um questionário semi-estruturado voltado para o conhecimento das plantas (dados não apresentados neste trabalho), procurando também informações sobre os mecanismos de transmissão da doença, segundo a percepção dos entrevistados. Os dados foram tabulados e apresentados na forma percentual.

RESULTADOS:

As explicações para o surgimento da doença são variadas e similares entre as localidades estudadas. A FVS realiza campanhas de controle do mosquito, tratamento de criadouros, coleta de sangue e distribuição de medicamentos e ministra cursos e palestras sobre a doença, o parasita e o mosquito. No entanto, o que se observa, embora um terço dos informantes já esteja consciente da importância do mosquito na transmissão da malária, as orientações dos técnicos vêm sendo incorporadas no universo das explicações sobre a doença e somadas a outras, em geral associadas à água, e normalmente com ressalvas.

A transmissão da doença pelos mosquitos é do conhecimento de 34% dos informantes. A água que pode transmitir a malária se apresenta de diversas formas: parada, suja, água de rio ou igarapé onde nunca se esteve antes, quente de rio, de encontro de rios ou de charco. Qualquer que seja o local a doença sempre ocorre por ingestão da água. A proximidade ou banho nestas águas não foram citados como meios de contaminação. Água de igapó ou de margens de rio onde o fruto de Vatairea guianensis Aublet cai e apodrece, é considerada como propícia para a doença, segundo 16, 9% dos informantes.

35% dos entrevistados sabem que é da água, mas consideram também o mosquito, uma vez que sabem que este ‘põe a ova’ na água e geralmente próximo a fontes de água há abundância destes insetos; além disso, foi citado que a água que contém larvas do mosquito não deve ser ingerida. 14% dos informantes desconhecem a causa da doença ou apontam outras causas. Entre estas foram citadas: ingestão de peixe gordo, de carne de anta, ingá de beira de rio, picada de meruim (Haematomydium paraense Goeldi) e de mutuca (Diptera Tabanidae.

CONCLUSÃO:

Os resultados evidenciam que as crenças populares acerca do mecanismo de transmissão da malária dificultam o processo prevenção e controle da doença na Amazônia brasileira.

Instituição de Fomento: FAPEAM, FAPESP
Palavras-chave: Amazônia, Anopheles, doenças tropicais.