61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)
FÓRUM DE ALFABETIZAÇÃO, LEITURA E ESCRITA: FORMAÇÃO (COm)PARTILHADA de professores/as alfabetizadores/as
Aline Souza Oliveira Lanzillotta 1
Carmen Sanches Sampaio 1, 2
1. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
2. Orientadora
INTRODUÇÃO:

A alfabetização escolar, hegemonicamente, possui a repetição e o treino como referências para a prática alfabetizadora, de modo que o ler e o escrever ficam dissociados do entender. Há, muitas vezes, apenas a ênfase na decodificação das letras. Hoje, ainda enfrentamos situações de pessoas que não compreendem aquilo que lêem. Por quê? Será que as crianças não gostam de ler? Atenta a essas questões, conheci o projeto coordenado pela professora Carmen Sanches - o FALE (Fórum de Alfabetização, Leitura e Escrita). O FALE investiga fazeres e saberes docentes através de narrativas. Com isso, posso investigar concepções de leitura e de escrita utilizadas nas práticas pedagógicas dos/as professores/as. O arriscar sem medo, lema da Penha (professora alfabetizadora que socializou no XIII FALE, no dia 2/08/08, seu saber/fazer alfabetizador), tem me movido e me incentivado. Esse lema surgiu de uma turma que precisava arriscar; que percebeu que o risco é necessário para a vida. Por isso, o movimento de buscar sempre, presente no FALE, (não é uma busca pela receita ideal, mas por uma prática dotada de sentido, tão vasta e atraente como o próprio mundo) incentiva os participantes, não só dando idéias de como fazer diferente, mas mostrando que é possível fazê-lo.  

METODOLOGIA:

O projeto de pesquisa garante encontros mensais (do FALE e do GEPPAN: Grupo de Estudos e Pesquisa das Professoras Alfabetizadoras Narradoras), em que os/as professores/as e os/as futuros/as professores/as socializam suas práticas. O FALE investe, sobretudo, na formação permanente do/a professor/a. O FALE e o GEPPAN permitem que o outro revele coisas que, sozinha, a professora não conseguiria perceber. Transcrevo os encontros do FALE, pois as narrativas docentes são o foco dessa pesquisa. (CONNELLY & CLANDININ, 1995). A coleta de dados do FALE (ou seja, as avaliações dos participantes e o inventário de todos os encontros) é atualizada a cada novo evento. Com base nesse material, realizamos (eu e Aline Gomes da Silva: pedagoga graduada pela UNIRIO, ex-bolsista PIBIC/Cnpq/ UNIRIO) gráficos. As reuniões do grupo de pesquisa, GPPF (Grupo de Pesquisa: Práticas Educativas e Formação de Professores), acontecem quinzenalmente na UNIRIO. Procuramos vivenciar a circularidade práticateoriaprática (ESTEBAN & ZACCUR, 2002). As gravações dos encontros do FALE em áudio e vídeo, as fotografias, as produções infantis, os registros do meu caderno de campo e as transcrições são corpus da pesquisa. Articular práticateoriaprática através desse corpus é o meu desafio nessa ação investigativa.

RESULTADOS:

Esta pesquisa-ação encontra-se em desenvolvimento. Ao longo desse período, aprendi que só se aprende a falar falando, a escrever escrevendo. Enquanto escreve, a criança aprende a escrever e aprende sobre a escrita (SMOLKA, 1998). Muitas professoras que socializaram suas práticas conosco, no FALE, inclusive a professora Carmen Sanches, que orienta esse projeto, confessaram que viam a prática, porque aprenderam assim, como aplicação de métodos. Assim, a prática restringia-se às explicações do professor e à descoberta do “melhor” método. Hoje, contudo, as concepções de leitura e de escrita que subsidiam a prática dessas professoras mudaram bastante. Muitas professoras alfabetizadoras me mostraram que a prática depende de quem está na sala. Por isso, o FALE é tão importante: as professoras se encontram para trocar experiências; tecer um mesmo assunto, compartilhando-o. Aprendi com a pesquisa que as crianças, dessas professoras, adoram Literatura. Mesmo sem o hábito de ler, as histórias estão presentes no vídeo game, nos filmes e no computador. É possível perceber que as práticas das professoras participantes do FALE são dotadas de sentido. Elas trabalham com a vida, com os livros e com a discursividade proposta por Smolka.

CONCLUSÃO:

Penso que reproduzir as afirmações de que “os jovens não gostam de ler” e de que “as professoras não gostam de estudar” é um erro. Muitas vezes, tanto os pais quanto os professores não lêem para eles e o gosto pela leitura tem de ser atiçado. Como diria Paulo Freire, ler para os alunos é um ato político. Ensinar a ler é, também, um ato de amor. É importante saber que nós só conseguimos aprender com os outros porque sabemos coisas diferentes, porque somos diferentes, porque aprendemos de maneiras distintas e em ritmos diversos. Por isso, a solidariedade é tão importante. Como desdobramento do FALE temos, por solicitação de algumas professoras que o freqüentam, a criação de um Grupo de Estudos e Pesquisa, o GEPPAN. Uma vez por mês, após o encontro do FALE, acontece o encontro do GEPPAN em que professoras e professores alfabetizadores, professoras universitárias, estudantes de Pedagogia e do Mestrado de Educação da UNIRIO estudam e investigam de modo (com)partilhado a prática alfabetizadora dessas professoras, cotidianamente experienciada com alunos e alunas, crianças das classes populares. A pesquisa confirma o dito por Freire: “esta busca do ser mais, porém, não pode realizar-se no isolamento, no individualismo, mas na comunhão, na solidariedade dos existires” (FREIRE, 2005:86).

Instituição de Fomento: CNPQ/ UNIRIO
Palavras-chave: Alfabetização discursiva , Narrativas docentes , Formação permanente.