61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 5. Genética Vegetal
CUBIU (Solanum sessiliflorum Dunal, Solanaceae): UMA IMPORTANTE HORTALIÇA NATIVA DA AMAZÔNIA.
Anna Carolina Hanna 1, 2
Danilo Fernandes da Silva Filho 2
Hiroshi Noda 2
Francisco Manoares Machado 2
Pedro Chaves da Silva 1, 2
1. UFAM
2. INPA
INTRODUÇÃO:
A família Solanaceae tem como centro de distribuição, a Austrália, América Central e América do Sul, onde cerca de 40 gêneros são endêmicos. Algumas espécies são amplamente cultivadas por seus frutos comestíveis (tomate, pimentão, pimentas doces e/ou pungentes, berinjela e jiló), e outras são potencialmente importantes como fonte de germoplasmas. O cubiu teve origem por meio de seleção indígena, em algum lugar da distribuição de Solanum sessiliflorum var. georgicum na Amazônia Ocidental, onde foi primitivamente cultivado pelos ameríndios pré-colombianos Whalen et al. (1981). Do ponto de vista econômico, o cubiu tem se constituído uma importante matéria-prima para a agroindústria moderna, porque pode ser utilizado de múltiplas formas (alimento, medicamento e cosméticos). Dependendo do genótipo cultivado, pode atingir 100 toneladas de frutos por hectare (Silva Filho 1999). Em qualquer avaliação de recursos genéticos, seja para conservação ou melhoramento, a caracterização morfoagronômica das coleções é a base para outros estudos. Nessa linha de conduta, ao longo dos anos, a coleção de germoplasma do INPA tem sido caracterizada e avaliada para selecionar material genético com potencial para o cultivo e comercialização pelos agricultores familiares da Amazônia.
METODOLOGIA:
No período de junho de 2008 a julho de 2009 15 ETN’s de cubiu procedentes de diversas partes da região do Alto Solimões, foram avaliadas em um Argissolo da Estação Experimental do INPA em Manaus. Adotou-se o delineamento experimental em blocos casualizados com 28 tratamentos (ETN’s) em quatro repetições. A unidade experimental foi constituída de uma área de 7,5 m2, contendo cinco plantas úteis. Os seguintes caracteres morfoagronômicos dos frutos foram avaliados: forma do fruto, número médio de fruto por planta, comprimento do fruto, largura do fruto, peso médio do fruto, espessura da polpa e volume de suco na placenta. Sobre os caracteres quantitativos procederam-se análises de variância e de agrupamentos e estimativa das distâncias genéticas. Na comparação das médias empregou-se o teste de Scott-Kanott, em 5% de probabilidade.
RESULTADOS:
As 15 ETN’s apresentaram nove diferentes fenótipos de frutos, com cerca de 52,4% deles nas formas globosas. Os caracteres dimensionais variaram em comprimento de 3,1 a 9,2 cm, em largura de 3,3 a 7,7cm, em espessura da polpa de 0,15 a -1,95 cm, e em peso, de 18,5 a 350 g. Os frutos globosos e ovalados são maiores, chegando a ultrapassar 400 g. As análises de variância detectaram diferenças significativas entre todos os caracteres estudados. Como mais e menos divergentes foram consideradas as ETN’s originárias de Atalaia do Norte e Santo Antônio do Içá, e de Benjamim Constant e Tabatinga, respectivamente. Com base na distribuição dentro do grupamentos formados pelo Método Hierárquico do Vizinho mais Próximo, as ETN’s formaram três grupos. O grupo I constou exclusivamente de uma ETN originária de Benjamin Constant e juntou-se a outros grupos em valores de similaridade, variando de 0,69 a 0,82. Os grupos II e III formaram sub-grupos contendo os maiores números de ETN’s até certo ponto coerentes com suas posições geográficas na região do Alto Solimões. Por isso, a variabilidade genética presente nestas ETN’s poderá ser aproveitada em programas futuros, para o melhoramento do cubiu na Amazônia.
CONCLUSÃO:
Observou-se uma tendência muito interessante no surgimento de um percentual significativo de frutos pequenos. Isto certamente poderá estar relacionado com a manutenção de plantas com frutos desse porte pelas populações tradicionais da Amazônia, que os utilizam na preparação de sucos, molhos e/ou para substituir o limão, quando em falta. É possível que, este percentual menor de ETN’s que produzem frutos de maior tamanho (acima de 200g), está plenamente compatível aos processos de domesticação e da seleção praticados pelos índios e caboclos da Amazônia Ocidental ao longo dos anos. A ampla variabilidade encontrada no fenótipo dos frutos permite, a recomendação desse material para programa de melhoramento de cubiu. A forma globosa seria ideal para o aproveitamento na agroindústria, tendo em vista a maior facilidade de despolpá-los mecanicamente. Por outro lado, na industria caseira, a forma do fruto teria menos importância do que na agroindústria, por tratar-se de uma atividade, até certo ponto, artesanal.
Instituição de Fomento: FAPEAM
Palavras-chave: Recurso genético, melhoramento vegetal, agricultura sustentável.