A piscicultura é uma atividade rentável, que proporciona a produção de proteína animal de boa qualidade. Entretanto, para garantir seu objetivo há necessidade que se considerem alguns fatores ambientais, que podem influenciar no desenvolvimento das espécies. Para tanto, alguns fatores têm sido amplamente estudados como a temperatura, o oxigênio dissolvido e o pH, no intuito de disponibilizar valores ótimos para as diferentes espécies. O fotoperíodo, embora seja um dos fatores que mais influenciam, direta ou indiretamente, àqueles anteriormente citados, tem sido pouco estudado. Segundo Baldisserotto (2002) o fotoperíodo é um componente essencial para o desenvolvimento da piscicultura, pois pode promover alterações fisiológicas aos peixes. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar a influência do fotoperíodo sobre o perfil hematológico e desempenho zootécnico do tambaqui (Colossoma macropomum) e do matrinxã (Brycon amazonicus).

Juvenis de tambaqui e matrinxã medindo 32,1+1,1 e 19,3+0,3 cm, respectivamente, foram acondicionados em 36 aquários de 60 litros, providos de aeradores, onde receberam ração comercial com 36% proteína bruta, duas vezes ao dia, durante todo o período experimental. Cada seis aquários compunham um tratamento, com condições de luminosidade distintas: Claro (24h claridade), Escuro (24h escuridão) e Controle (12h claridade/ 12h escuridão). Ao final de 30 dias, um peixe de cada aquário foi retirado e imediatamente anestesiado para retirada da amostra de sangue. Em seguida, os animais foram medidos e pesados para posterior avaliação do desempenho zootécnico. O sangue retirado foi utilizado para análise do hematócrito, método de microhematócrito; da concentração de hemoglobina, segundo Kampen & Zijlstra (1961); do número de eritrócitos, contagem em câmara de Neubauer e, para o cálculo das constantes corpusculares: Volume corpuscular médio (VCM), Hemoglobina corpuscular média (HCM) e Concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM), descritas por Brow (1979). Os resultados foram expressos como média+SEM e foram submetidos à análise de variância (ANOVA) one-way e ao teste post hoc de Tukey (5%), quando apropriado.

Segundo Baldisserotto (2002) o fotoperíodo pode ocasionar mudanças sobre as respostas fisiológicas dos peixes, especialmente sobre o crescimento. Neste trabalho, o perfil hematológico avaliado não apresentou um padrão entre as espécies estudadas, embora tenham apresentado alterações significativas quando submetidas à condição de escuro contínuo. Os exemplares de tambaqui apresentaram aumento significativo nos valores de [Hb], RBC, VCM, HCM e CHCM, comparado ao grupo controle, quando submetido à escuridão contínua, embora para os exemplares de matrinxã, os únicos parâmetros alterados pela escuridão contínua tenham sido o número de eritrócitos (RBC) e a hemoglobina corpuscular média (HCM). Por outro lado, a claridade contínua ocasionou apenas um aumento significativo da concentração de hemoglobina para o tambaqui e não ocasionou efeito algum sobre a matrinxã. O ganho de peso e taxa de crescimento específico apresentaram melhores resultados para matrinxã, com aumento significativo quando submetido à escuridão contínua. Em contrapartida, para o tambaqui foram observadas diminuições significativas nesses dois parâmetros no tratamento com claridade, o que corrobora os achados de Aride et al. (2006) que sugeriram um melhor crescimento para o tambaqui quando submetido à condição de escuro contínuo.

A melhor reposta fisiológica em função do fotoperíodo foi observada para os exemplares de matrinxã, que apresentaram melhor crescimento e pouca alteração hematopoiética, em comparação ao tambaqui.  O tambaqui apresentou alterações hematológicas em função da mudança de fotoperíodo, que pode ter ocasionado uma diminuição em seu crescimento. O fotoperíodo pode, assim, ocasionar mudanças na fisiologia dos animais, ocasionando menor crescimento, como visto para o tambaqui.