Este trabalho visa analisar a evolução do Movimento de Educação de Base (MEB), no município de Tefé, região amazônica do Médio Solimões, no período de 1967 a 1971. Tendo em vista o caráter político-pedagógico das práticas educativas forjadas por este movimento durante a sua 2ª fase a nível nacional. Deve-se ressaltar que, a pesquisa foi desenvolvida na Universidade do Estado do Amazonas por meio do Programa de Iniciação Científica da instituição PAIC/FAPEAM.

O Movimento de Educação de Base foi criado em 1961 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, em parceria com o governo do país. O objetivo principal do MEB era desenvolver um programa de educação de base, por meio de escolas radiofônicas com concepção organizada, principalmente nas zonas rurais das áreas subdesenvolvidas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, expandindo-se posteriormente para outras regiões de acordo com o decreto 52267/61.

Em Tefé-Am o Departamento do MEB foi criado, em primeiro de junho de 1963, pelo Bispo da Prelazia da Igreja Católica do Município, Dom Joaquim de Lange, que foi o principal idealizador do movimento e da Rádio Educação Rural da Cidade desde 1955.

  O estudo está pautado no levantamento bibliográfico, pois, é praticamente impossível desenvolver um estudo histórico e científico, sem a fundamentação em um ou mais pressupostos que direcionem a “reconstrução” do objeto. Assim, pauta-se a análise em vários documentos primários, como relatórios, regulamentos diversos, diário pessoal dos monitores do MEB, decretos, fotografias, projetos, legislação (processos e mapas), manuscritos, livros e material didático político-pedagógico, correspondências, entre outros documentos produzidos pelo próprio MEB Tefé. Estas fontes documentais estão localizadas na Prelazia da Igreja Católica da cidade. Subdivididas em três setores da mesma: na Sala da Comissão Pastoral da Terra - CPT; no Centro de Treinamento Irmão Falco;e na Rádio Educação Rural de Tefé. Deve-se ressaltar que, a presente pesquisa faz parte de um projeto de organização do Acervo Histórico do município realizado pela Universidade do Estado do Amazonas em parceria com a Prelazia da Igreja. Conta-se ainda, com a utilização das técnicas da história oral, tendo sido entrevistado o primeiro coordenador do MEB Tefé, uma ex-supervisora, ex-monitoras e ex-alunos(as) a fim de complementar os dados analisados nas fontes primárias do objeto investigado.

Os dados da pesquisa apontam que o MEB Tefé contribuiu para a consciência coletiva do povo ribeirinho, além de alfabetizar e conscientizar os mesmos trouxe uma noção de organização social através dos Supervisores do movimento que, davam suporte e auxílio aos monitores. Para a supervisora Ana Maria as dificuldades eram enormes, pois o único meio de realizar as visitas era por via fluvial, principal ícone de transporte no Amazonas, porém os barcos eram de pouca potência e sofriam com o “banzeiro” nos rios.

Cabe salientar que, o MEB nasceu com a Rádio Educação Rural articulada pela Igreja em Tefé. E era na rádio que se encontrava o professor “locutor” na qual as aulas eram transmitidas para as comunidades, dando suporte para os monitores “assistentes” que lá se encontravam. Os monitores eram pessoas que tinham até a 4ª série, sendo a maioria da própria comunidade. Estes trabalhavam sem receber remuneração, pois o movimento sofria com a falta de recursos financeiros.

Inúmeras eram as dificuldades encontradas pelos alunos como, o fato da aula ser transmitida a noite e as escolas serem distantes dos povoados; além disso, a iluminação era precária, não havia motor de luz; as pragas; as doenças. Todos esses fatores prejudicavam o processo de ensino-aprendizagem.

O MEB foi um movimento social de grande relevância para Tefé-Am e região. No entanto, mesmo com um relevante significado para a história regional continua sendo um movimento quase que desconhecido pela população e autoridades locais. Espera-se com o presente trabalho contribuir com a preservação e divulgação da história e memória da educação Tefeense.

Constataram-se no transcorrer da pesquisa inúmeras dificuldades na trajetória da prática educativa do MEB Tefé-Am, sobretudo prevaleceram impactos positivos desse movimento sob os povos ribeirinhos da zona rural do Município. Pois, viabilizou enormes oportunidades para a libertação da submissão que era imposta na época pela Ditadura Militar e pelo Coronelismo de “barranco” do período áureo da borracha amazônica, os quais baniam qualquer ação educativa a que viessem favorecer e esclarecer os direitos do povo. Desse modo, O MEB exerceu um papel crucial no desenvolvimento do contexto sócio-educacional, porque não só alfabetizava o povo, mas conscientizava-o para o convívio integral, incentivando a viver em sociedade organizada. Nesse contexto cabe ainda, ressaltar a ausência dos governos na promoção de políticas públicas em educação, e uma presença marcante da Igreja Católica através da promoção e da libertação do povo ribeirinho.