61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 7. Etnologia Indígena
TERRITORIALIDADE E POLÍTICA DA DOENÇA ENTRE OS BANIWA DO ALTO RIO NEGRO.
Luiza Garnelo 1, 2
Sully Sampaio 1, 2
1. Centro de Pesquisas Leônidas & Maria Deane Fiocruz
2. Universidade Federal do Amazonas-PPGSSEA
INTRODUÇÃO:

Os autores investigaram as relações entre as estratégias de territorialização e o processo saúde-doença no grupo indígena Baniwa, no Alto Rio Negro, Noroeste Amazônico. Os Baniwa são um povo aruaque falante que se distribui entre o Brasil, a Colômbia e a Venezuela. No Brasil a organização social do grupo se ordena através de 3 fratrias nomeadas, subdivididas em grupos de consanguíneos (sibs) que residem em territórios específicos no interior de suas terras demarcadas (Garnelo, 2003; Wright, 2007). A pesquisa buscou apreender as relações estabelecidas entre a cosmologia do grupo, seu sistema de cura e cuidados com a saúde e as estratégias de gestão do território, no âmbito das delimitações espaciais internamente estabelecidas entre as fratrias.  

 

 

METODOLOGIA:
A investigação foi desenvolvida através de observação participante da vida cotidiana nas aldeias desse grupo étnico, de entrevistas em profundidade com xamãs e líderes de associações indígenas e do registro, em áudio, de narrativas míticas que expressam saberes Baniwa sobre seu sistema de cura e cuidados e subsidiam suas estratégias de gestão do território que ancestralmente ocupam. O marco teórico se apóia no conceito de território – aqui entendido como espaço delimitado, socialmente produzido pela ação política de grupos sociais em disputa (Cox, 1991; Raffestin, 1988; Santos, 1998) e em proposições como a de Albert (1988), que remete a produção da doença entre grupos indígenas amazônicos aos conflitos sócio-políticos gerados nas relações intra e interétnicas.
RESULTADOS:

A investigação demonstrou que apropriação territorial empreendida pelos Baniwa é moldada por sua cosmologia e pela interação com uma natureza antropomorfizada e povoada por sociedades não-humanas, produtoras de agressão e doença (Viveiros de Castro, 1993). A simbolização Baniwa sobre o seu território ancestral gerou uma geografia mítica que assinala, por um lado, as desigualdades sociais e de apropriação de recursos ambientais, e por outro, produz um conjunto de práticas tradicionais de cura e de estratégias de gerenciamento de conflitos entre consangüíneos e afins, nas quais a gestão territorial e a filiação étnica têm papel primordial em manter e promover a saúde.   

 

CONCLUSÃO:
Os processos específicos de territorialização enpreendidos dos Baniwa evidenciam uma dinâmica bastante distinta daquela instituída pela demarcação de suas terras pelo órgão indigenista, levando-nos a concluir que no plano cotidiano o grupo prioriza a gestão de conflitos internos entre os sibs e fratrias, considerada como meio primordial para a preservação da saúde; cuja manutenção liga-se diretamente às relações de dádiva e reciprocidade dos humanos entre si e com as sociedades animais com quem coabitam no território.  A produção da doença vem assumindo uma ligação direta com a disputa por fontes alimentares, particularmente o pescado, cuja oferta nos meios aquáticos é vista como declinante.
Palavras-chave: Índios Sul-Americanos, Territorialização, Saúde e Ambiente.