O presente trabalho refere-se à pesquisa desenvolvida pelo projeto de pesquisa e extensão “Mangue Sustentável”, empreendido pela Sala Verde/CEFET-Campos. O objetivo do trabalho foi analisar a percepção ambiental dos moradores da comunidade de Gargaú, localizada no Município de São Francisco de Itabapoana, Norte do Estado do Rio de Janeiro. A intenção do trabalho aponta tanto para evidenciar a importância da prática de um pressuposto de gestão ambiental na comunidade diante das análises realizadas no campo, quanto sensibilizar para a educação ambiental através de um trabalho de capacitação de gestores para a localidade. A comunidade de Gargaú possui um rico manguezal localizado no estuário secundário do Rio Paraíba do Sul, fazendo limite com a praia de Santa Clara. O manguezal da região possui significativa importância para a economia, pois a maioria da população residente obtém a maior parte de sua renda através de coleta de caranguejos, de mariscos e de peixes. Apesar da sua riqueza natural, a comunidade de Gargaú enfrenta sérios problemas, como a extração ilegal de madeira do mangue, a cata descontrolada de caranguejos e a pesca predatória. Estes problemas decorrem de fatores como o grande crescimento populacional e o fato de a pesca ser a maior atividade econômica da Região.

O procedimento para análise da percepção ambiental dos moradores de Gargaú se desenvolveu através de visitas à localidade e por meio de entrevistas com os pescadores da comunidade, sendo que muitas destas foram realizadas por meio da colônia de pescadores do local. A estratégia utilizada foi a realização do trabalho com os pescadores já que a pesca é a maior atividade econômica da região. Este trabalho foi desenvolvido tendo como fundamento a elaboração e aplicação de um formulário que foi dividido em quatro partes de acordo com as necessidades para o levantamento de dados sobre os aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais do povoado de Gargaú. Foram levantados os seguintes dados no formulário: pessoais, de moradia, de saneamento e saúde e de percepção ambiental. A ênfase foi dada nos dados de percepção ambiental dos moradores do povoado. As entrevistas foram realizadas com a participação de alunos do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza do Instituto Federal Fluminense, Campus Campos – Centro. Na entrevista realizada com 25 pescadores da região foi utilizado um formulário com 17 questões diretas e indiretas referentes à percepção ambiental e à utilização dos recursos naturais da Região.

Diante dos resultados obtidos a partir dos formulários aplicados, aproximadamente 52% dos entrevistados responderam que observaram danos no manguezal e dentre estes, 20% ressaltaram ser a diminuição dos caranguejos o maior dano. Cerca de 52% dos pescadores afirmaram ser a comunidade a maior responsável pela poluição do manguezal e somente 8% responderam ser os pescadores, fato este que é de discussão, pois os pescadores compõem a maior parte da comunidade de Gargaú. A partir destes dados, 28% dos entrevistados relataram não saber quais as medidas que eles podem tomar para a preservação do mangue e 12% dos entrevistados afirmaram que o governo deveria realizar reuniões para a conscientização da população. Estes dados confirmam que uma parte da população reconhece que preservar e defender o meio ambiente ecologicamente equilibrado é dever do poder público.

O motivo da problemática ambiental pode estar relacionado às necessidades da população. Na maioria das vezes, o indivíduo se submete a praticar atos que não concorda devido a necessidades financeiras, como é o caso da comunidade de Gargaú, que pesca para o sustento e que tem a atividade pesqueira como a maior geradora de renda.

Para que a educação ambiental seja transformadora e emancipatória, a gestão ambiental deve ser um processo de mediação de interesses e conflitos entre os atores sociais que disputam o acesso e o uso de recursos ambientais e, que permita uma tomada de ações que se comprometa com o futuro sustentável da comunidade. Foi possível confirmar, através dos resultados obtidos nos formulários, os maiores problemas ambientais de Gargaú e também conhecer a percepção da população quanto a tais problemas. O pressuposto da gestão ambiental é o ponto chave para promover a educação ambiental na comunidade de Gargaú, já que esta reconhece a problemática ambiental que a região enfrenta e a sua parcela de culpa diante da situação. Assim, a educação ambiental deve ser usada de forma realmente incisiva a partir do trabalho com os atores sociais, desta forma eles passam a atuar como multiplicadores e gestores ambientais na comunidade tomando uma nova postura de sensibilização com relação à preservação do meio ambiente. Esta iniciativa pode ser intensificada com a ação concomitante dos órgãos governamentais de fiscalização ambiental.

Um trabalho de capacitação de gestores é essencial para a localidade, a fim de que aconteça uma sinergia da comunidade com a riqueza ambiental que ela possui.