61ª Reunião Anual da SBPC
H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada
DOMÍNIO ORTOGRÁFICO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Darlene Pereira da Silva 3
Valteir Martins 1
Adriano Farias da Silva 3
Luis Augusto Matos dos Santos 3
Sandra Alfaia Lima 2
Vanessa Souza Silva 3
1. Professor/Pesquisador da Universidade do Estado do Amazonas - UEA
2. Graduando de Letras pela UEA e colaboradora do projeto
3. Bolsista do Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), programa da FAPEAM
INTRODUÇÃO:
Este estudo apresenta os resultados de investigação sobre as principais dificuldades ortográficas encontradas na aquisição da língua escrita nos anos iniciais da educação básica, no contexto educacional de Parintins, Amazonas. Essa pesquisa foi feita entre os anos de 2003 a 2006 e teoricamente foi subsidiada por autores que se preocupam com a temática em questão, entre eles: Ferreiro & Teberosky (1999), Zorzi (1998), Morais (2003), Cagliari (2001) e Guimarães (2005), os quais possibilitaram compreender os processos complexos que permeiam a aprendizagem da escrita, bem como as dificuldades vivenciadas pelos aprendizes no momento inicial da apropriação do sistema ortográfico da língua. Com base nos dados coletados, foi estabelecido um ranking dos erros ortográficos cometidos pelos alunos, segundo a classificação feita por Zorzi (1998).  Também foram pesquisadas as metodologias utilizadas pelos professores para trabalhar a correção ortográfica. Entender os erros ortográficos cometidos pelos alunos e as razões dos desvios possibilitam repensar as técnicas de ensino da ortografia praticadas pelos professores. Levar nossos alunos a dominar bem o sistema ortográfico constitui um início bem sucedido no mundo da cultura escrita e é uma das responsabilidades da escola.
METODOLOGIA:
A pesquisa foi feita ao longo de 3 anos, e atingiu 1.056 alunos do 2º ao 5º ano em 15 escolas municipais da zona urbana e rural de Parintins.  A coleta de dados se deu em dois momentos. No primeiro, foi feito um ditado contendo 70 palavras conhecidas com variados graus de dificuldade de transcrição ortográfica. As palavras selecionadas geralmente geram dificuldade na hora de grafá-las, pois têm fonemas que podem ser grafados com mais de um grafema, como x ou ch, j ou g, s ou z, bem como as diversas maneiras de grafar o fonema /s/ (s, ss, ç, sc, sç, x, xc etc.), também foi focalizado o sistema acentual do português. No segundo momento, foi feita uma oficina de produção textual e no final cada aluno produziu um texto. O intervalo entre um momento da coleta e o outro foi de 30 dias. Após a coleta dos dados, as palavras com desvios ortográficos foram tabuladas, com o objetivo de identificar as classes de desvios segundo a classificação de Zorzi (1998) tais como, Apoio na Oralidade, Junção/Separação, Representação Múltipla, Letras parecidas, etc. Foram apresentados dois questionários, uma para os alunos, com o propósito de verificar e avaliar o gosto e frequência de leitura e outro aos professores para coletar informações sobre seus procedimentos ante os desvios dos alunos.
RESULTADOS:
Em todos os anos pesquisados, foram encontrados todos os 11 tipos de desvios ortográficos classificados por Zorzi. Apresentam-se aqui apenas os primeiros cinco de cada ano. No 2º ano, o ranking foi: omissão de letras, 33.4%; troca de letras, 14%; letras parecidas, 11.2%; representação múltipla, 10.8%; junção/separação, 10.2% e apoio na oralidade, 6 %. No 3º ano: apoio na oralidade, 20.6%; omissão de letras, 19%; representação múltipla, 18%; acentos gráficos, 8,6%; troca de letras, 8.4% e junção/separação, 7,5%. No 4º ano: representação múltipla 22%; apoio na oralidade, 18%; acento gráfico, 14%; omissão de letras, 10%; e acento gráfico, 7,4%. No 5º ano: representação múltipla, 21%; acento gráfico, 17%; apoio na oralidade, 10%; omissão de letras, 10% e junção/separação, 8%. No questionário respondido pelos professores, constatou-se que eles não conhecem a origem de cada desvio ortográfico cometido pelos alunos. Em sua maioria, os professores corrigem a escrita das palavras e não fazem com os alunos nenhuma reflexão sobre esses desvios ortográficos.
CONCLUSÃO:
Os resultados nos mostram que é possível encontrar todos os tipos de desvios ortográficos independente do ano de escolaridade. O que muda é o ranking de cada um. Essa mudança de ranking evidencia que os alunos vão gradualmente dominando a escrita. Por exemplo, no segundo ano, o desvio dominante é a omissão de letras e troca de letras, sintomas de falta de compreensão completa do sistema ortográfico. Já no 3º ano, após entender que cada som da fala deve ser representado na escrita, a omissão de letras cai para 7ª posição e fica em primeiro o apoio na oralidade. Observa-se que os alunos, após entender que a escrita é uma representação da fala, têm uma escrita muito próxima da oralidade, mas de fato nossa ortografia não é totalmente embasada na fonologia. A partir do 4º ano, eles já dominam a escrita e vão agora lutar para ter o domínio ortográfico, pois a partir deste ano, o desvio que está no topo do ranking é a representação múltipla. Esse tipo de desvio decorre da complexidade do sistema ortográfico, que permite um fonema ser representado por diferentes letras. Os professores precisam saber classificar cada desvio, pois saber a origem de um desvio ajuda-o a levar o aluno a refletir sobre o desvio e desfazer sua hipótese e conduzi-lo a um domínio da ortografia.
Instituição de Fomento: Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado do Amazonas- FAPEAM
Palavras-chave: leitura, escrita, ortografia.