61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 1. Genética Animal
VARIABILIDADE GENÉTICA EM POPULAÇÕES DE ABELHAS SEM FERRÃO DA AMAZÔNIA
Maria de Fátima Ferreira da Costa PINTO 1
Gislene Almeida CARVALHO-ZILSE 2
1. Bolsista PCI, Mestre em Genética, Conservação e Biologia Evolutiva, INPA
2. Orientador, Doutora em Genética, Grupo de Pesquisas em Abelhas, INPA
INTRODUÇÃO:

Assim como em muitos organismos, microssatélites vem se mostrando ótimos marcadores em estudos genéticos de populações de insetos como abelhas, mosquitos, borboletas, dentre outros. Estudos filogenéticos, evolutivos e ecológicos assim como a análise de DNA constituem ferramentas importantes para o conhecimento biológico e populacional das espécies. As populações de abelhas sem ferrão estão diminuindo devido ao desmatamento contínuo e sendo os principais polinizadores da floresta Amazônica torna-se prementes estudos quanto a estrutura populacional das espécies. Por incentivo do atual Governo Estadual em atendimento ao Programa Zona Franca Verde, a criação dessas abelhas (Meliponicultura) vem se consolidando em municípios do Estado como atividade que atende a agricultura familiar e agronegócio, o que pode ser uma boa alternativa para manutenção destes polinizadores. Assim, este trabalho analisou a variabilidade genética populacional de Melipona compressipes e M. seminigra na Amazônia central por meio de marcadores de DNA microsatélites.

METODOLOGIA:

Foram analisadas 30 colônias, sendo um indivíduo por colônia, em cada população (Autazes, Manaus, Parintins, Manacapuru, Boa Vista do Ramos e Barreira do Andirá para M. interrupta e em Urucará, Boa Vista do Ramos, Careiro Castanho, Manaus e Iranduba para M. seminigra). No Laboratório de Genética de Abelhas (GPA-INPA) foi realizada a extração salina de DNA segundo protocolo de Carvalho (2000). Foram amplificados, via PCR, cinco locos microssatelites para M. interrupta (Mbi 11, 13, 28, 32 e 36) e quatro para M. seminigra (Mbi 11, 13, 36 e 213) usando-se primers heterologos. Os produtos PCR foram analisados em gel de poliacrilamida (19:1) 10% corados com nitrato de prata. A determinação do tamanho dos alelos foi feita a partir da digitalização dos géis em scanner de mesa, e medição usando-se o programa ImageJ 1.36b por comparação com o marcador de peso molecular Ladder de 10 pb. Foram utilizados os programas estatísticos TPGA 1.3 (Miller, 2000) e Arlequin (Schneider et al., 2000) para as analises de fluxo gênico, variância molecular (AMOVA), estruturação e distância genética.

RESULTADOS:

Os alelos dos diferentes locos variaram 96pb a 164pb para M. interrupta e de 100pb a 142pb em M. seminigra. M. interrupta apresentou um total de 24 alelos diferentes (dois a dez alelos por loco) enquanto M. seminigra teve 19 alelos (quatro a seis alelos por loco). Em ambas as espécies, as freqüências e distribuição dos alelos variaram em nível intra e interpopulacional, tendo o loco Mbi 13 o maior número de alelos (10 para M. interrupta e 6 para M. seminigra). Em M. interrupta, os índices de heterozigosidade observada (Ho) e diversidade molecular baseada no número de diferentes alelos (DM) das populações naturais de Parintins (Ho=0,51 e DM=0,47) e Barreirinha (Ho=0,57 e DM=0,49) foram quase o dobro quando comparados com as populações manejadas de Autazes (Ho=0,34 e DM=0,30), Manaus (Ho=0,27 e DM=0,29), Boa Vista do Ramos (Ho=0,27 e DM=0,35) e Manacapuru (Ho=0,51 com p=0,000 e DM=0,31). Observou-se alta estruturação genética entre as populações de M. interrupta ­(Fst= 0,25; P=0,000), índice de endogamia FIS=0,17 sendo Manaus e Boa Vista do Ramos as populações mais próximas geneticamente (94% de similaridade). Para M. seminigra, todas as populações eram manejadas e a espécie apresentou DM=0,43, Fst= 0,13 (P=0,000), FIS=0,52 e, também, com Manaus e Boa Vista do Ramos sendo as populações mais próximas geneticamente (93%). Para ambas as espécies, essa proximidade genética entre as duas localidades certamente não é natural, mas sim devido à ação antrópica de troca de colméias entre os meliponicultores.

CONCLUSÃO:

Concluímos que as populações de Melipona compressipes e M. seminigra, mesmo em estágios avançados de Meliponicultura no Amazonas, apresentaram índices de diversidade molecular satisfatório em que a troca de rainhas e discos de cria entre colméias do próprio meliponário e de outros meliponários aumenta a heterozigosidade dentro dos locos. Porém as duas espécies apresentaram taxa de endogamia elevada, provavelmente porque a maioria dos meliponários é iniciada com uma ou poucas colônias e, por multiplicação, chega a altos números de colméias, todas meio-irmãs. A endogamia (cruzamento entre parentes) pode reduzir os alelos sexuais que mantém a viabilidade das populações de meliponínios, levando a morte das colméias em poucas gerações. Tais possibilidades afetariam diretamente a conservação de populações de cativeiro e/ou naturais, fato que precisa ser considerado no apoio à Meliponicultura ou em políticas de conservação da biodiversidade.

Instituição de Fomento: FAPEAM; CNPq; SUFRAMA; ProVárzea, GCBEv
Palavras-chave: meliponínios, meliponicultura, variabilidade genética.