61ª Reunião Anual da SBPC
D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 3. Saúde de Populações Especiais
Condicionantes socio-ambientais de déficit estatural em crianças quilombolas do município de Santarém – Pará.
Ana Felisa Hurtado Guerrero 1, 3
Denise Oliveira e Silva 1, 2
José Camilo Hurtado Guerrero 1, 3
Luciano Medeiros de Toledo 1, 4
1. Projeto Quilombos do Instituto Leônidas e Maria Deane, Fundação Oswaldo Cruz
2. Diretoria Regional de Brasília, Fundação Oswaldo Cruz, Brasília, Brasil
3. Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Manaus
4. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Ja
INTRODUÇÃO:

Nos últimos anos tem crescido o interesse quanto à caracterização das condições de saúde e de nutrição de populações quilombolas, inclusive com o objetivo de nortear as políticas públicas. As comunidades tradicionais, como são os quilombos, apresentam uma situação de vulnerabilidade com relação à situação de segurança alimentar e nutricional, nas condições de vida e no acesso a bens e serviços. Neste sentido a presente pesquisa teve como objetivo analisar as condições sócio-ambientais e de moradia como marcadores de risco de desnutrição estatura/idade de crianças menores de cinco anos de idade de comunidades quilombolas do município de Santarém-Pará.

METODOLOGIA:

Foi realizado um estudo transversal em seis comunidades quilombolas do município de Santarém-Pará, quatro de planalto (Murumuru, Murumurutuba, Tiningú e Bom Jardim) e duas de várzea (Arapemã e Saracura). Os dados foram coletados no período de agosto de 2003 a maio de 2004. A amostra incluiu 258 crianças menores de cinco anos de idade, representando 20,0% da população total de crianças. Na análise antropométrica foi utilizada a classificação de “z-escores” para os índices peso/idade, estatura/idade e peso/estatura, tomando como referencia as curvas do National Center of Health Statistics. Foi adotado o ponto de corte de < –2 escores z. A coleta de dados sócio-demográficos foi realizada através de um levantamento censitário. As análises bivariadas [teste qui-quadrado (c2) com a correição de Yates], foram utilizadas para estabelecer as associações e as diferenças significativas entre as características sócio-ambientais e de moradia com o estado nutricional, ao igual foram calculadas as razões de prevalência e odds ratio para avaliar o risco nos diferentes níveis de exposição. Todas as análises foram realizadas com os programas Epiinfo v. 3.3, Minitab 14.2 e EPIDAT 3.1.

RESULTADOS:

Foram classificadas 1,5% como desnutridas de acordo com o indicador de peso/estatura; 9,3% estavam com baixo peso para a idade e 23,6% apresentaram déficit estatural. A prevalência de desnutrição das crianças quilombolas foi elevada (34,5%). A relação das  categorias “ ocupação do responsável” (r=0,003)  e  “número de cômodos para dormitórios” (p 0,049), mostraram-se estatisticamente significativamente com o déficit estatural. Embora, as análises bivaradias de algumas variáveis relacionadas com as características dos domicílios, abastecimento de água, destino do lixo dos domicílios e esgotamento sanitário, não mostraram diferenças significativas, porém mostraram riscos importantes que especificam condições de vida precárias a serem consideradas na análise do estado nutricional destas populações.

CONCLUSÃO:

Os resultados apontam para uma prevalência de desnutrição mais elevada que as obtidas para esta faixa etária na “Chamada Nutricional Quilombola” [estatura/idade (11,6%), peso/idade (8,2%) e peso/estatura (2,0%)]. A prevalência de baixo peso para a idade nas crianças quilombolas de Santarém é também mais elevada que para crianças < 5 anos de todas as áreas da zona rural da região Norte (11,0%) e da amostra investigada (4,6%) na POF em 2006. Os resultados coincidem com outros estudos que vem referindo uma maior prevalência de baixa estatura para o Brasil e Latino-américa. Há a necessidade de mais estudos que explorem os fatores determinantes das condições nutricionais das populações remanescentes de quilombos na Amazônia.

Palavras-chave: Situação nutricional infantil, Fatores de risco, Quilombos.