61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências
O ENSINO DE CIÊNCIAS E O CURRÍCULO EM AÇÃO DE UMA PROFESSORA POLIVALENTE
Alfonso Gómez Paiva 1
Maria Lucia Vital dos Santos Abib 2
1. Universidade Ibirapuera/ UNIb
2. Universidade São Paulo/ USP
INTRODUÇÃO:
A análise da prática docente permite verificar os tipos de tarefas que alunos e professores realizam ao materializarem o currículo em sala de aula. É nela que se expressam as concepções de conteúdo e a perspectiva de ensino de Ciências que o docente adota, a qual pode se situar entre a visão instrucional e a educacional (Cachapuz, 2001). Ela também possibilita a identificação de esquemas práticos que os docentes utilizam para se sentirem seguros e facilitar o trabalho em sala de aula. O presente trabalho apresenta uma síntese dos resultados de uma pesquisa que buscou compreender como uma professora polivalente, como mais de 20 anos de carreira, colocou o currículo de Ciências em ação em uma turma de 4ª série do ensino fundamental paulistano. A compreensão do fenômeno da sala de aula é importante porque permite refletir e ampliar os conhecimentos sobre as necessidades e os obstáculos do trabalho docente, o que contribui com a formação inicial e continuada de professores, principalmente os polivalentes com relação ao ensino de Ciências– primeiro por não serem especialistas na área, segundo pelas necessidades e características do alunado desse nível de ensino e por último pela hierarquização das disciplinas que docentes e a sociedade em geral estabelecem.
METODOLOGIA:
A pesquisa pode ser classificada como um estudo de caso de caráter etnográfico (André, 1992), a qual coletou os dados por meio de anotações no caderno de observações, gravação em vídeo e áudio das 17 aulas de Ciências que foram ministradas em uma turma de 4ª série do ensino fundamental de uma escola estadual paulistana, totalizando aproximadamente 20h de gravação. A professora também respondeu um questionário e concedeu duas entrevistas ao longo do ano de 2006. Para contextualizar o currículo em ação foram analisadas a Proposta Pedagógica da Escola, o Plano de Ensino de Ciências e o conteúdo abordado do livro didático adotado, além das conversas informais com a bibliotecária e a direção da escola. A participação nos HTPC’s (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo) também contribuiu com a contextualização. Adotando a tarefa como unidade de análise, cada uma foi analisada sob duas dimensões: a temática e a metodológica – baseada nos critérios estruturantes para o ensino de Ciências (Carvalho, 2004). A partir delas se estabeleceram as categorias: organização dos conteúdos e tipos de conteúdos (dimensão temática) e situações didáticas; elementos estruturadores das tarefas; recursos de aprendizagem; organização social da classe e relações interativas (dimensão metodológica).
RESULTADOS:
Os temas abordados se distribuíram de forma disciplinar em três unidades didáticas, o Ensino de Ciências e a Ciência; A Natureza e o Corpo Humano, privilegiando os conteúdos conceituais. A primeira unidade não estava prevista no plano de ensino e não constava do livro didático. Em geral, os conteúdos das demais unidades seguiram a seqüência proposta pelo livro, exceto em duas situações, quando os assuntos trataram de química e física e quando, segundo a Professora, os conteúdos exigiram apenas a memorização de conceitos desvinculados das necessidades dos alunos. Cada aula se configurava por tarefas-padrão – situações didáticas usadas em todas as aulas, como a leitura, os exercícios, as discussões e os relatórios – e por tarefas diversificadas. Cada situação apresentava uma finalidade, como avaliar, fixar, refletir, introduzir, etc. Entre os elementos estruturadores que marcaram a prática docente estão: o uso de perguntas e a relação com o cotidiano. O livro didático foi o recurso material mais usado e os recursos materiais não escritos e extraclasse, os que mais envolveram os alunos. Na maioria das tarefas a sala estava organizada em grande grupo, onde a Docente assumiu o papel de protagonista do processo, o que justifica o predomínio da interação socrática.
CONCLUSÃO:
O fato de a escola e a docente terem participado de um projeto na área de Ensino de Ciências; o estilo de gestão escolar; a insegurança docente com relação aos conteúdos; o conceito da Docente com relação a turma; o “trauma” causado pelas aulas de química e física quando ela cursou o ensino médio; o número de alunos em sala; a necessidade docente em trabalhar em dois períodos; a crença da Professora: em evitar o ensino tradicional; em oferecer conteúdos importantes para a vida das crianças; em uma Ciência que observa, experimenta para concluir; entre outros fatores justificaram o currículo e a força do contexto escolar. A estruturação das aulas em tarefas padrão e diversificada, o uso de perguntas com distintas finalidades e a interação socrática com os estudantes, marcaram o estilo docente de ensinar, que no caso centrou-se no professor, oscilando entre a visão instrucional e a educacional de ensino e distanciou-se, algumas vezes, das concepções da Professora de uma boa aula. A fraqueza do plano de ensino pode indicar um dos motivos da força do livro didático no currículo, mas ficou evidente a autonomia da Docente ao alterar, complementar e excluir conteúdos do mesmo. Isso mostra a necessidade de cursos de formação continuada e materiais de apoio para professores polivalentes.
Palavras-chave: Formação de Professores, Ensino de Ciências, Ensino Fundamental.