O uso de álcool tem grande relevância no perfil de morbidade das diversas populações do mundo, sendo estimado ser um fator associado a grande número de doenças. Neste sentido, é de fundamental importância sua discussão no que se refere à atenção primária, principalmente no Brasil, que adota este nível de complexidade como modelo de atenção a partir da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A relevância se refere ao seu impacto desta temática frente aos diversos problemas diuturnos envolvendo a saúde e o grande foco na promoção e prevenção na atuação da equipe da ESF. O presente trabalho buscou levantar os problemas enfrentados pela equipe que atua na atenção primária durante a implementação de Estratégias de Rastreamento e intervenções Breves para uso problemático de álcool (ERIB).

Optou-se por utilizar pesquisa qualitativa, uma vez que se trata da avaliação da implementação de um programa. Após um ano de capacitação permanente das equipes de Saúde da Família do município, visita semanal a equipe de pesquisador com a finalidade de acompanhar os problemas para a implementação da estratégia, o projeto foi encerrado e cada pesquisador envolvido respondeu a um questionário escrito que visou identificar as características investigadas. Também foi realizado um grupo focal com os pesquisadores que estiveram em contato com as equipes, no sentido de avaliar quais as características, barreiras e dificuldades enfrentadas na identificação no processo. A análise partiu da perspectiva hermenêutica dialética, que prima pelo entendimento crítico, seguindo as etapas preconizadas na literatura científica de transcrição na íntegra, leitura exaustiva para apropriação da estrutura de conceitos implicada no texto, eliminação de falas e construções não pertinentes ao tema investigado, aglutinação das falas por semelhanças e aproximação de grupos contraditórios, estabelecendo, assim categorias analíticas.

Os principais problemas encontrados por todos os profissionais da equipe para a inserção das ERIBs na Atenção Primária são a falta de tempo e de treinamento específico, o medo de ser visto como hostil pelos pacientes, à percepção de que este tipo de procedimento não faz parte de suas funções e a crença de que alcoolistas não respondem ao tipo de intervenção que pode ser dada no nível primário de atenção. Alguns profissionais de saúde relutam em examinar e orientar pacientes sobre seus problemas decorrentes do uso do álcool, alegando carga de trabalho excessivo faltando tempo para a equipe atuar com mais precisão, falta de capacitação para esses profissionais atuarem de uma forma mais direta e precisa na intervenção, termina por agravar ainda mais os problemas enfrentados pela equipe, a própria cultura imposta pela sociedade sobre o ponto de vista do consumo alcoólico também interferem na saúde do indivíduo.

Profissionais de atenção primária à saúde estão em posição privilegiada para identificar e intervir em pacientes cujo consumo de bebidas alcoólicas tornou-se problemática e danosa. Eles podem também desempenhar um importante papel na motivação e encaminhamento de pacientes dependentes de álcool para tratamento mesmo porque esse é um dos papéis que equipe atua dentro do setor primário, porém, o sistema de saúde ainda necessita de reformulação em termos de processo de trabalho, principalmente ao que cabe aos aspectos de implantação de políticas que se refiram aos aspectos de Saúde Mental, tais como as ERIB.