61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 4. Botânica - 1. Anatomia Vegetal
ANATOMIA E HISTOQUÍMICA DA ENXERTIA DO ARATICUM (ANNONA CRASSIFLORA MART.) SOBRE TRÊS ESPÉCIES DE ANNONACEAE
Luís Felipe Paes de Almeida 1
Sueli Maria Gomes 2
Cristina Miranda de Alencar 1
Rébla Gonçalves Vasconcelos 3
Osvaldo Kiyoshi Yamanishi 1
1. Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília/UnB
2. Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade de Brasília/UnB
3. Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília/UnB
INTRODUÇÃO:

O nível de conhecimento sobre técnicas de cultivo de fruteiras nativas do Cerrado ainda é incipiente, pois estas plantas encontram-se ainda em estado selvagem e seus frutos são obtidos por extrativismo. O araticum ou marolo (Annona crassiflora Mart.) é nativo do Cerrado e apresenta grande potencial econômico, pois possui sabor e aroma peculiares e é usado no fabrico de doces e sorvetes. A enxertia intergenérica ou interespecífica do araticum é uma opção para sua reprodução assexuada, evitando a lentidão da germinação de sementes e de seu desenvolvimento, com a vantagem notória que é a precocidade das plantas enxertadas. Enxertias do araticum sobre três espécies de Annonaceae apresentaram pegamento muito reduzido, caracterizando uma incompatibilidade entre enxerto e porta-enxerto. A compatibilidade na enxertia é entendida como aquela em que ocorre a união bem sucedida e o desenvolvimento satisfatório do conjunto enxerto/porta-enxerto, sendo influenciada pela afinidade anatômica e a produção de compostos fenólicos. Com o objetivo de caracterizar as possíveis causas desta incompatibilidade, foi feito estudo anatômico e histoquímico da enxertia de araticum sobre três espécies de porta-enxertos: araticum-de-terra-fria, biribá, e graviola, todos pertencentes às Annonaceae.

METODOLOGIA:

Foram coletadas amostras dos caules nas regiões de enxertia do araticum (Annona crassiflora) sobre três porta-enxertos, os quais pertencem às Annonaceae: araticum-de-terra-fria (Rollinia sp.), biribá (R. mucosa Bail.) e graviola (A. muricata L.). Enxertos com e sem pegamento foram fixadas em FAA 50% e armazenadas em etanol 70%. Na caracterização anatômica, secções longitudinais e transversais do caule na região da enxertia foram obtidas em micrótomo de mesa e clarificadas por cerca de 30 minutos em solução de hipoclorito de sódio a 50%, sendo coradas por 1 min com safranina 1% e azul de alcian 1% aquosos na proporção 5:1. Para os testes histoquímicos, o material seccionado no micrótomo de mesa foi submetido aos reagentes cloreto de ferro III e dicromato de potássio, que identificam a presença de compostos fenólicos gerais, inclusive taninos. Os resultados foram registrados através de imagens digitais obtidas em microscopia ótica, compondo pranchas ilustrativas.

RESULTADOS:

O araticum apresenta anatomia diferenciada em relação aos quatro porta-enxertos, pois possui periderme e medula mais espessos. Isto compromete o alinhamento dos câmbios vasculares do enxerto e do porta-enxerto entre caules de mesmo diâmetro, dificultando o pegamento da enxertia. Através dos testes histoquímicos, constatou-se que o araticum apresenta compostos fenólicos no parênquima cortical e medular. Analisados isoladamente, nos porta-enxertos biribá e araticum-de-terra-fria, tais compostos estavam presentes apenas na periderme, enquanto que na graviola eles foram observados na periderme, parênquima cortical e do floema. Na enxertia do araticum sobre o biribá, houve formação de compostos fenólicos próximos à região de enxertia, no floema secundário e no xilema secundário de ambas as espécies, enquanto que naquela sobre a graviola observaram-se compostos fenólicos na interface dos dois caules. A enxertia bem sucedida do araticum sobre araticum-de-terra-fria resultou na formação de um calo parenquimático, que consolidou bem a união dos tecidos das duas plantas, mas não apresentou rediferenciação em elementos vasculares, comprometendo o transporte de seiva na região analisada. Não houve formação de calo na região de enxertia quando foram usados o biribá, a condessa e a graviola como porta-enxertos.

CONCLUSÃO:

A incompatibilidade da enxertia do araticum (Annona crassiflora) sobre as três espécies de Annonaceae (A. muricata, Rollinia sp. e R. mucosa) pode ser atribuída a divergências anatômicas, as quais prejudicam o alinhamento dos câmbios vasculares das duas espécies envolvidas, impedindo o estabelecimento da continuidade histológica na região da enxertia. A presença de compostos fenólicos notadamente nos tecidos do araticum e na interface dos caules do enxerto e porta-enxerto também contribuem para a incompatibilidade. A formação de calo na zona de enxertia do araticum sobre o araticum-de-terra-fria revela uma afinidade entre o araticum e estas duas espécies, que deve ser considerada em futuros trabalhos sobre a propagação assexuada do araticum. Preconiza-se testar o uso de caules do araticum ligeiramente mais largos que os dos porta-enxertos, assim como o tratamento dos caules com soluções ácidas fracas, a fim de evitar os efeitos do desalinhamento cambial e da presença dos compostos fenólicos sobre o pegamento dos enxertos.

Palavras-chave: incompatibilidade, fenóis, porta-enxertos.