61ª Reunião Anual da SBPC
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
Solidariedade e Comportamento de Ajuda
Lude Marieta Gonçalves dos Santos Neves 1
Rebeca Morais de Paula 1
Arthur de Oliveira Corrêa 1
Cláudio Teodoro Peixoto Franco 1
Thayana Adrien Neves Pastori 1
Hartmut Günther 1
1. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA / UnB
INTRODUÇÃO:
A Psicologia Urbana investiga, dentre outras preocupações, como o viver nas cidades repercute no bem-estar psicológico dos seus habitantes. Destacam-se, assim, três autores que protagonizam o cenário de pesquisas em psicologia urbana: George Simmel, um dos primeiros cientistas sociais a escrever sobre o impacto da cidade sobre o bem-estar psicológico; Louis Wirth, que escreveu sobre o urbanismo como um modo de vida e Stanley Milgram, que descreve a experiência de se viver nas cidades, inclusive sobre o comportamento de cordialidade, denominado atualmente comportamento pró-social. O comportamento pró-social constitui um desafio especial para pesquisas empíricas, uma vez que trata de um comportamento socialmente desejável. Neste projeto, buscou-se investigar se o comportamento de colar/fornecer cola pode ser visto como um comportamento de ajuda. Variou-se o uso do termo ajuda ou cola num questionário auto-aplicável, baseando-se num estudo anterior sobre o tema.
METODOLOGIA:
Com base no estudo desenvolvido por Silva, Rocha, Otta, Pereira, & Bussab (2006), foram desenvolvidas duas versões do questionário. A primeira versão utilizou a palavra ajuda e a segunda versão, a palavra cola. A primeira parte do questionário variava conforme a versão, i. é, o uso palavra cola ou da palavra ajuda. Nesta parte, investigou-se sobre comportamento de cola (freqüência com que o respondente relatava fornecer ou pedir cola ou ajuda), bem como sobre o curso escolhido para o vestibular ou PAS. Constavam também perguntas sobre idade, gênero e uma pergunta aberta sobre a opinião pessoal a respeito do comportamento de cola ou ajuda. A segunda parte consistiu de uma adaptação da escala de desengajamento moral de Bandura à situação de cola. Participaram do estudo 554 alunos, com idade entre 14 e 21 anos (X = 16 anos e 4 meses; dp = 1 ano e 1 mês), de três colégios de ensino médio (um particular e dois públicos). A aplicação dos questionários foi realizada no período de aulas, que eram interrompidas para uma aplicação coletiva. As duas versões do instrumento foram intercaladas previamente, sem que os participantes soubessem e percebessem a diferença.
RESULTADOS:
Este estudo visou analisar especificamente as respostas oferecidas à pergunta sobre qual a opinião dos respondentes sobre fornecer ajuda ou cola em sala de aula. Os dados estão em fase de análise. Verificou-se, preliminarmente, que todos os respondentes interpretaram o uso da palavra ajuda como o comportamento de oferecer cola ao colega. As respostas foram classificadas em vinte categorias a priori. Dentre elas, as sete primeiras se basearam nos mecanismos de desengajamento moral desenvolvidos por Bandura e as demais, nas respostas encontradas. São elas: justificativa moral, comparação vantajosa, difusão da responsabilidade, deslocamento da responsabilidade, distorção das conseqüências, atribuição da culpa, linguagem eufemística, falta de conhecimento, falta de estudo, normal, desleal, prejudicial, ambigüidade de resposta, ética, crítica ao sistema de educação, solidariedade ao colega, autoconfiança, arriscado, motivação para passar de ano e lócus de controle.
CONCLUSÃO:
Variar o uso da palavra não influenciou no fenômeno da desejabilidade social. Por outro lado, pode ser que os participantes que utilizaram a palavra ajuda em suas respostas de fato estavam se referindo ao comportamento de cola como uma ajuda, como se pode sugerir nas respostas que usaram a palavra ajuda nos questionários versão cola. A maioria dos respondentes considera, sem ambigüidades ou considerações, que o comportamento de dar ou pedir é condenável. Dessa maneira, desconsideram seu caráter de solidariedade, ou de auxílio a algum colega que solicita apoio.Segundo Aronson et al (2002), os indivíduos são mais propensos a ajudar os mais próximos ou mais conhecidos, para perpetuar o ciclo social de seu meio. Esse exemplo traduz a idéia de que, tratando-se de um amigo, é um dever ajudá-lo, provavelmente pelos mesmos motivos explorados por esses autores. Nenhuma opinião que traduzisse o comportamento de altruísmo. Neste caso, os riscos de se ajudar o colega não são ignorados: há um receio em fornecer essa ajuda e sair prejudicado por isso, é um risco visto como muito alto para se "sacrificar a própria pele“. A maioria dos respondentes usou somente a respectiva palavra de sua versão na redação de sua resposta (234) pessoas e 186 pessoas não escreveram em sua opinião quaisquer das duas palavras, não se pôde constatar a influência do uso palavra na opinião dos respondentes da amostra.
Instituição de Fomento: CNPq
Palavras-chave: comportamento pró-social, comportamento de ajuda, psicologia urbana.