61ª Reunião Anual da SBPC
F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 2. Serviço Social da Criança e do Adolescente
ARTE E EDUCAÇÃO NO CIRCO: ENSAIO ETNOGRÁFICO SOBRE O CIRCO ESCOLA DO BOM JARDIM
JULIANA HILARIO MARANHAO 1
PATRÍCIA SILVA ABREU 1
LARISSE DA SILVA MARTINS 1
IARA VANESSA FRAGA DE SANTANA 1
GRAYCEANE GOMES DA SILVA 1
Kleber Saraiva 1
1. Universidade Estadual do Ceará
INTRODUÇÃO:
O Circo é a arte mais antiga do mundo, teve origem em povos viajantes de diversas culturas, o mundo circense é o conjunto de diversas artes, tais como: malabarismo, palhaço, acrobacia, adestramento de animais, equilibrismo, etc. O projeto Circo Escola no Ceará foi idealizado por Patrícia Sabóia a época primeira dama do Estado do Ceará inspirada numa experiência de circos-escola do Estado de São Paulo para adolescentes internos da antiga FEBEM. O projeto teve início com uma pesquisa realizada pela Secretária de Trabalho do Estado no centro da cidade de Fortaleza devido o alto índice de crianças em situação de rua e de trabalho no local, descobriu-se que a maioria das crianças morava no bairro Bom Jardim. Por esse motivo o projeto foi primeiramente projetado lá. Para formar as primeiras turmas foram contratados artistas de circo para ensinar as crianças, dentre os quais: Tiririca, Motoca, Tia Kelly e Tio Beto esses dois últimos estão até hoje no Circo Escola. O Circo Escola do Bom Jardim funciona há 17 anos, por onde já se passaram cerca de 30 mil meninas e meninos, tendo como objetivo principal desenvolver competências e reinventar futuros além de formar grandes artistas e cidadãos.
METODOLOGIA:
Utilizamos como referencial teórico-metodológico os autores Clifford Geertz (1989) e John Thompson (1995). A grande preocupação dominante em Geertz está nas questões de significado, de simbolismo e de interpretação. Ele acreditava como Max Weber, que o homem é um animal suspenso em teias de significados que ele mesmo teceu, entendendo a cultura como sendo essas teias, e sua ciência a interpretação dos significados. Thompson também trabalha com a concepção simbólica utilizando-se do conceito de formas, caracterizando a cultura como padrão de manifestações verbais e objetivas de vários tipos em virtude dos quais os indivíduos comunicam-se entre si e partilham suas experiências, concepções e crenças. Inicialmente fomos bastante discretas, envolvendo-nos aos poucos até mesmo pelas crianças e os educadores estarem sempre comprometidos com as atividades. Percebemos vários olhares interrogativos em nossa direção e a cada dia de observação tínhamos novas impressões sobre as atividades e as relações do circo. Para complementar a pesquisa, além da etnografia utilizou-se entrevistas semi-estruturadas com as crianças beneficiárias do projeto e os educadores.
RESULTADOS:
No cotidiano a arte circense é trabalhada como instrumento de educação para a vida, o que o diferencia dos demais projetos de cunho profissionalizante, sendo importante a disciplina no cotidiano dessas crianças e adolescentes, pois terão de aprender a conviver com regras e limites, não só dentro daquele espaço físico, mas, também fora dele. O circo-escola ao educar de forma lúdica, ajuda no amadurecimento desses indivíduos enquanto sujeitos atuantes de uma sociedade. As atividades acontecem no próprio picadeiro e em outros espaços abertos, que ficam no entorno deste. As atividades trabalhadas são: swing, trapézio, aro espacial, arame, malabarismo, apresentação de palhaços, dentre outros. A escolha das atividades pela criança é algo subjetivo, diz algo sobre ela. E isso é expresso e compreendido pela criança durante seu aprendizado e no exercício da atividade, variando durante as etapas de participação no circo, podendo sofrer influências da família, dos amigos e dos educadores. De certa forma ocorre um processo de valorização por parte daqueles que participam ou já participaram do Circo Escola, uma vez que, o circo é um dos poucos espaços culturais e de participação no Bom Jardim.
CONCLUSÃO:
Neste ensaio, buscamos compreender a influência do projeto Circo Escola na vida de crianças e jovens do Bom Jardim. Observamos que o comportamento de muitos deles, desde sua entrada no circo, passou por constantes transformações, por meio do trabalho da agressividade e da sublimação desta nas atividades circenses a relação com familiares e amigos se tornou mais sociável, promovendo uma resignificação das vivências dos jovens no seu bairro e na auto-estima destes. Consideramos como um dos principais desafios do circo, o contexto sócio-econômico no qual está inserido e a falta de equipamentos sociais, tais como a escola, postos de saúde e saneamento básico que influenciam no reconhecimento e valorização do bairro além de garantir o mínimo de qualidade de vida. A não continuidade do projeto para quem completa os 18 anos, também se torna um empecilho, pois no circo, os jovens criam expectativas de construir uma carreira profissional artística, muitas vezes sendo cooptados para o tráfico de drogas ou subempregos que gerem renda. Portanto, se faz necessário que o Circo tenha um suporte social para que a realidade do bairro seja modificada e o circo não se transforme em uma ação pontual.
Palavras-chave: criança e adolescente, circo escola, arte e educação.