Os cursos de formação de professores de Física, de modo geral, possuem um caráter seletivo muito grande, isso se reflete na quantidade de profissionais que se graduam anualmente nessa área. Nesse contexto torna-se importante o repensar das metodologias empregadas nessa formação principalmente quando os alunos são indígenas. A pesquisa realizada mostrou que a partir da experimentação é possível fazer do ensino de Física algo possível e significativo. Os resultados aqui apresentados são frutos de um estudo de caso: A Física no Curso de Formação de Professores Indígenas realizado na Comunidade de Filadélfia, localizado no Município de Benjamim Constant. Esse trabalho é parte de um projeto de pesquisa que visa mostrar as relações existentes entre a teoria e a prática numa comunidade indígena.

Metodologia:

Para o desenvolvimento da pesquisa se fez necessário conhecer a realidade, na qual, esses futuros professores estão inseridos e compreender suas expectativas em relação a essa ciência. A pesquisa desenvolvida com quarenta futuros professores das etnias ticuna e cocama. Estes foram conduzidos à realização de observações livre de determinados fenômenos experimentais para reproduzi-los de forma contextualizada na realidade indígena. Essas atividades foram sempre executadas em grupos e permitiram a descoberta das leis e princípios científicos que descreviam ou explicavam os fenômenos observados. Também, tiveram que relacionar a teoria com a prática, explicando na sua própria língua o conteúdo da Física envolvido na experimentação. Como parte de uma pesquisa qualitativa foi possível utilizar técnicas como a observação livre, entrevistas e aplicação de questionários.

Resultado:

Esse trabalho possibilitou perceber que partir da prática para a teoria é o caminho mais fácil para a compreensão dos conceitos da Física em um contexto diferenciado como é a escola indígena. Ao utilizar a experimentação como recurso didático foi possível ver que os próprios professores indígenas quando refletem sobre os objetivos da sua atuação, reformulam a função social da sua escola e os rumos de sua formação, pois eles precisam apresentar uma Física que explique a queda dos corpos, o movimento da lua ou das estrelas, o arco-íris relacionando esses fenômenos à sua cultura e a sua história. Dessa forma, pode-se afirmar que se faz necessário uma revisão das práticas docentes desenvolvidas nas escolas indígenas no sentido de permitir uma valorização e a utilização dos conhecimentos tradicionais que podem servir de base para a experimentação científica.

Conclusões:

As informações adquiridas a partir da análise de todo o processo vivido permite afirmar que é preciso rediscutir qual Física ensinar para possibilitar uma melhor compreensão do mundo e uma formação mais adequada ao contexto educacional indígena. É certo que não existem soluções simples ou únicas, nem receitas prontas que garantam o sucesso, pois toda experiência científica tem uma hipótese que a justifica e sendo assim, o material e os procedimentos adotados são escolhidos em função dessa hipótese. O ensino da Física deve promover a articulação de toda uma visão de mundo, de uma compreensão dinâmica do universo mais amplo do que nosso entorno material imediato, capaz, portanto de transcender nossos limites temporais e espaciais. Assim sendo, num curso de formação de professores indígenas é importante que o caráter experimental dos conceitos seja mostrado como instrumento articulador entre a teoria e a prática para que estes futuros professores compreendam a teoria e se tornem agentes transformadores da própria realidade.