61ª Reunião Anual da SBPC
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática
Toxicidade do cobre em diferentes águas da Amazônia.
Ana Helena Varella Bevilacqua 1
Fabíola Xochilt Valdez Domingos 1
Adalberto Luis Val 1
1. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA/LEEM
INTRODUÇÃO:

Embora seja um metal essencial como elemento traço aos organismos, o cobre (Cu2+) tem recebido grande atenção da comunidade científica por ser considerado um dos metais mais tóxicos para peixes. Na região amazônica o cobre pode se originar no ambiente de forma natural (por lixiviação de solos ricos em metais) ou por ação antrópica (atividade de mineração, poluição urbana e descargas industriais). Na Amazônia há três tipos distintos de água: brancas, pretas e claras, com características físico-químicas muito variáveis. Dentre estas, as águas pretas apresentam maior concentração de matéria orgânica, composta principalmente por ácidos húmicos e fúlvicos, que são os constituintes predominantes do carbono orgânico dissolvido (DOC). No ambiente aquático, as condições ambientais como: concentração de Ca2+, teor de DOC e pH são fatores que podem interferir diretamente na toxicidade do Cu2+. Estudos recentes têm demonstrado que a matéria orgânica dissolvida pode exercer um efeito protetor contra a toxicidade de metais, pois, em geral, ocorre a formação de complexos, resultando na redução da biodisponibilidade de íons metálicos livres para interagir com os peixes. Com isso o presente trabalho testou a influência do DOC na toxicidade do cobre em corpos d’água da Amazônia.

METODOLOGIA:
A água e os peixes utilizados nos testes foram coletados em ambiente natural e os experimentos realizados in situ. Em cada ponto de amostragem realizou-se a coleta de água e análise das características físico-químicas: pH, temperatura, alcalinidade, dureza, cloretos, concentração de DOC, Ca2+, K+, Mg2+, Na+ e Cu2+. Na água branca foram utilizados exemplares de Hemmigramus bellote, após a mistura de águas Hyphessobrycon sp e em águas preta, Paracheirodon axelrodi. Os experimentos para a determinação da CL50-96hs do cobre foram realizados em sistema de fluxo contínuo, ou seja, com vazão ajustada para a troca total da água do recipiente a cada 24hs. Os experimentos foram realizados em 10 indivíduos por aquário, com densidade de 0,8g de peixes/L, expostos a 10 concentrações de cloreto de cobre di-hidratado (CuCl2 . 2H2O), durante 96 horas; a mortalidade e os parâmetros físico-químicos da água foram mensurados a cada 24hs. O programa computacional LC50 Programs JSpearman test, foi utilizado para a determinação do valor da CL50-96h. As diferenças nos resultados foram avaliadas por meio de análise de variância (ANOVA) de uma via, e as diferenças significativas (p<0,05) foram discriminadas utilizando o teste de Tukey.
RESULTADOS:

A toxicidade do cobre está diretamente relacionada às características físico-químicas do meio aquático. O metal pode se associar a partículas presentes na água, formando complexos inorgânicos e orgânicos, e a concentração de carbono orgânico dissolvido, cálcio e pH podem interferir em sua complexação e competição. Nos experimentos realizados em diferentes águas da Amazônia, nota-se haver uma relação direta entre DOC e a toxicidade do cobre. Os experimentos realizados em água preta, no rio Negro (em Barcelos), onde há maior concentração de DOC (9,9mgC/L), observou-se os maiores valores de CL50-96hs (558,0µg/L ± 131,8), ou seja, a menor sensibilidade. Isso pode ser explicado pela capacidade de ligação entre o cobre e a matéria orgânica, resultando na formação de complexos e na redução da concentração de cobre iônico livre capaz de se associar ao epitélio branquial dos peixes causando toxicidade. Nos experimentos realizados em ambientes de água branca, no rio Solimões (em Tefé CL50-96hs de 460,3µg/L ± 22,4) e no rio Amazonas (em Itacoatiara CL50-96hs de 238,5µg/L ± 117,1), foram observados os menores valores de CL50, ou seja, a maior toxicidade de cobre aos animais, decorrente da menor concentração de DOC (2,6 e 2,6 mgC/L para Tefé e Itacoatiara respectivamente).

CONCLUSÃO:

A toxicidade do cobre em peixes em três diferentes tipos de águas da Amazônia é menor em águas pretas (maiores valores de CL50) quando comparados aos demais tipos de água analisados. Isso é devido à maior interferência do carbono orgânico dissolvido nestes ambientes. Já em água branca a toxicidade do cobre apresentou maior interferência dos íons (cátions), dureza e alcalinidade na sensibilidade dos animais.

Instituição de Fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq; Internacional Copper Association – ICA
Palavras-chave: Cobre, Águas da Amazônia, Ecotoxicologia.